quarta-feira, 23 de abril de 2014

O Conhecimento Cientifico



O Conhecimento Cientifico


   
    Sabemos que a ciência não é a única forma de conhecimento, nem a primeira e mais imediata forma de nos relacionarmos com o real.
     Na verdade, existe uma forma comum de conhecimento, formado no decorrer da vida de cada um pela simples acumulação de experiências pessoais e que nos serve de orientação para o nosso viver quotidiano com uma certa eficácia. De modo natural e directo, vamos conhecendo os objectos que nos cercam, as pessoas com quem lidamos, a rua ou cidade onde moramos, etc. Fazemos tudo isto, sem ser de uma forma propriamente científica, mas antes pela experiência de vida. No nosso dia a dia passamos bem sem a ciência. Porquê? Porque no nosso dia a dia basta-nos o senso comum.
     É um tipo de conhecimento que assenta exclusivamente na experiência de vida que todos os homens têm; é um saber popular, básico e elementar transmitido oralmente de geração em geração; é adquirido através do ouvir dizer, do ver fazer e da imitação de comportamentos com os quais nos identificamos. Ele é fruto da aprendizagem e educação que espontânea e/ou institucionalmente recebemos enquanto membros de uma comunidade. O conhecimento do senso comum, sendo imprescindível à vida do dia a dia apresenta, no entanto muitas limitações: é superficial; está sujeito a erros; é subjectivo; não é um conhecimento crítico.


 " A apreensão imediata e directa dos sentidos pode dar representações inexactas da realidade captada; (...) Recordemos um dos mais notórios – os sentidos dizem enganadoramente ao homem que o Sol gira em torno da terra e que esta é imóvel. Isto, no entanto, é uma mera aparência que só o aprofundamento do processo cognitivo pode resolver, vencendo-se essa aparência imediata e enganadora."

Armando de Castro, A Evolução Económica de Portugal


     Esta forma de conhecimento, embora importante para nos inserirmos na realidade que nos rodeia, não nos dá a explicação e a compreensão mais profunda que ansiamos.



" Hoje, descobrimos um meio poderoso e elegante para compreender o universo, um método chamado ciência."                                                                                                                                                                Carl Sagan, Cosmos



" Se vivêssemos num planeta onde nada mudasse, pouco teríamos que fazer. Não haveria nada a compreender. Não haveria necessidade de ciência. E, se vivêssemos num mundo imprevisível, onde as coisas mudassem ao acaso ou de forma muito complexa, não teríamos possibilidade de esclarecê-las. E, mais uma vez, não haveria ciência. Mas vivemos num universo intermédio, onde as coisas mudam, de facto, mas segundo padrões, regras, ou, como nós lhe chamamos, leis da natureza. Se eu atirar um pau para o ar, ele cai, sempre. Se o Sol se põe a ocidente, nasce sempre, na manhã seguinte, a oriente. E por isso, é possível compreender as coisas. Podemos desenvolver a ciência e, com ela, melhorar as nossas  vidas."
Carl Sagan, Cosmos


 O conhecimento científico, marcado pela sua natureza racional, não é comum a todos os homens, mas é um conhecimento comum a grupos de especialistas visando a objectividade.

  O conhecimento científico constitui-se como outro modo de o homem apreender o real. Não se funda nas evidências do senso comum. 

  A ciência não é uma atitude espontânea e natural do ser humano: levou muito tempo e foi percorrido um longo caminho para que a ciência configurasse o real de modo novo (científico).

   A ciência não é uma interpretação espontânea da realidade, mas uma interpretação metódica e racionalmente construída.

 A ciência através da introdução da medida, do método experimental e da matemática, criou um saber abstracto e muito afastado do nosso dia a dia. O método experimental comporta: observação organizada de um fenómemo ou grupo de fenómenos; a formulação de hipóteses (momento em que se procura arranjar uma explicação plausível para os fenómenos observados) e a verificação experimental (momento em que se procura comprovar a validade da hipótese). 

  O método, dirigindo a investigação de uma forma organizada, rigorosa e geralmente aceite pela comunidade científica, permite chegar à descoberta de constâncias, de regularidades, de relações necessárias, que conduzirão posteriormente à enunciação de leis. É pelas leis e teorias que o cientista explica os factos, relacionando-os uns com os outros, de modo a transmitir-nos uma visão estruturada do mundo.

   A ciência torna-se próxima da filosofia pela sua postura de investigação, pelo seu desejo de saber, pela procura racional que empreende no sentido de descodificar os enigmas e mistérios do mundo. Mas demarca-se dela, pelo registo solucionador que adopta face aos problemas.

 A ciência não se contenta com respostas, ela pretende chegar a soluções e, através destas, fazer desaparecer os problemas com que se defronta.


" O homem, na sua necessidade de lutar contra a natureza e no seu desejo de a dominar, foi levado, naturalmente à observação e ao estudo dos fenómenos, procurando descobrir as suas causas e o seu desencadeamento.
 Os resultados deste estudo, lentamente adquiridos e acumulados, vão constituindo o que, no decurso dos séculos da vida consciente da humanidade, se pode designar pelo nome de ciência. O conhecimento científico distingue-se, portanto do conhecimento vulgar ou primário, no facto essencial seguinte: este satisfaz-se com o resultado imediato do fenómeno – uma pedra abandonada ao ar cai; uma leve pena de ave, abandonada ao ar, paira, ou sobe; aquele faz a pergunta porquê e procura uma resposta que dê uma explicação aceitável pelo nosso entendimento.
 O objectivo final da ciência  é, portanto a formação de um quadro ordenado e explicativo dos fenómenos naturais, fenómenos do mundo físico e do mundo humano, individual e social. (...)
 Os homens pedem à ciência que lhes forneça um meio, não só de conhecer mas de prever fenómenos – quanto maior for a possibilidade de previsão maior será o domínio deles sobre a natureza. (...)
 Entendamo-nos bem. A ciência não tem, nem pode ter, como objectivo descrever a realidade tal como ela é. Aquilo a que ela aspira é construir quadros racionais de interpretação e previsão; a legitimidade de tais quadros dura enquanto durar o seu acordo com os resultados da observação e da experimentação.»

Bento de Jesus Caraça, Conceitos Fundamentais da Matemática

 
   A ciência pode ser e é vulgarmente entendida como uma organização de conhecimentos e de resultados que são aceites universalmente. Esta aceitação universal é devido ao facto de os resultados poderem ser verificados.



                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   Lola 



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