terça-feira, 5 de agosto de 2014

Violência






VIOLÊNCIA NO NAMORO – um

 alerta...uma sensibilização!



Realizou-se, na Escola Secundária de Arouca, uma acção de sensibilização subordinada ao tema “Violência no Namoro”.
Assisti a esta palestra acompanhando a turma G do 9º Ano – um conjunto de quinze miúdas que frequenta um curso EFA – Curso de Assistente Familiar e Apoio à Comunidade.
Nada mais indicado para uma turma de meninas precocemente adultas, com histórias de vida marcantes, com experiências sexuais irresponsavelmente assumidas, e, quatro delas institucionalizadas.
Vidas amargas estas! Uma delas disse-me, um dia, numa aula, com um despudor que indigna: “O meu primo violou uma criança e está cá fora...”.
Há intervenções que nos calam a alma pela impossibilidade que sentimos em aceitar contextos de vida de uma miséria humana tão duramente monstruosa. E, porque reais...chocam demasiadamente.
O tema da palestra seduzia! Mais pelo namoro e menos pela violência. Ouviram, atentamente, que, cada vez mais, esta começa cedo, que é um conceito abrangente, que é uma atitude que surge camuflada em diferentes práticas que vão desde as mais Hard (insulto verbal, pressão, agressão) às mais Soft (controle de amizades, de horários e de telemóvel).
Sentiram experiências vividas pelas técnicas que, no contacto com casos reais, descreveram pormenorizadamente, casos de violência em casamentos julgados exteriormente como imaculados.
E porquê? É que, muitas das vezes, a violência entre casais não é mais nem menos que o prolongamento, o patamar seguinte de uma violência que se iniciou, levemente, no namoro.
Mas, esta temática é extremamente complexa, assumimos nós! É necessário establecer barreiras seguras entre o amor e, inevitavelmente, o ciúme a ele associado e o controle e a violência que, subrepticiamente, se instala numa relação castrando-a e sufocando-a de forma progressiva.


As meninas ouviram com atenção. Algumas delas, estou certa, pensaram as suas próprias vidas e reflectiram práticas de e num quotidiano que as surpreende na sua imaturidade.
Instadas a questionar sobre possíveis dúvidas acerca do tema –  fizeram - no a medo. È que isto é sempre coisa dos outros...Sei que muito haveria a dizer se, provavelmente, o encontro fosse na privacidade e num conhecimento interpessoal mais consolidado. Ficará para mais tarde!
E eu, insatisfeita no saber, orgulhosa de tudo querer repôr permanentemente em questâo, falo do limite ténue entre ciúme e controle, entre interesse, paixão e pressão, entre chantagem emocional e desejo de exclusividade. Fica, no entanto, por perceber se o fenómeno tem maior incidência (ou não) nos países latinos (e porquê), ou mesmo se ele tem vindo a crescer ou são os organismos que estão mais atentos e a sociedade mais permeavel à análise e denuncia destes protagonistas de virtudes públicas e vícios privados.
E porque demasiadamente privados...quero partilhar um caso paradigmático de uma destas meninas da turma que vou tentando não perder de vista.
Marta (nome ficticio). Olhar azul e aspecto frágil. Dezasseis anos. Será mãe nos inícios de Dezembro. Vive há cerca de dois anos com Xavier (nome ficticio) e gosta muito dele. “Foi ele quem me desonrou...”, diz com orgulho.
Esta vida em comum tem sido intervalada por zangas e afastamentos – traições por parte dele. Tem, também, sido salpicada por momentos de agressão física. Mas, Marta afirma que desde que está grávida “ele nunca mais lhe bateu e que até é seu amigo”.
Lá em casa (vivem sozinhos numa casa alugada) o ambiente, porém, não agrada a Marta. O dinheiro está num pequeno cofre de onde ela só tira mediante pedido prévio a Xavier. Mesmo agora que está a receber o subsídio pré-natal não pode fazer uso desse dinheiro com liberdade.
Às vezes (e não são poucas) a mãe de Xavier (pessoa de porte duvidoso) planta-se na casa de ambos e controla-lhe o que come, o caixote do lixo (para ver o que ela estraga...) e remexe as gavetas – fazendo, posteriormente, queixas ao filho.
Xavier defende a mãe (esta ter-lhe-á dado dinheiro para a carta de condução) e vai cedendo às ingerências da progenitora. Marta não gosta. “Detesta a velha!”. Um dia destes, encontrou-a parcialmente nua, na cama, ao lado do filho. Não gostou e chamou a atenção de Xavier que nada disse.
Há uns dias Marta, com a mãe veio passar a tarde a minha casa. Falamos disto e de muito mais. Xavier (numa das zangas com Marta) envolveu-se com uma miúda, de doze anos, desta escola, que largou mediante pressão da Comissão de Protecção de Menores. Marta fala desta ligação e quer saber como está esta menina que, curiosamente, ainda não tem catorze anos, será mãe em Novembro, vivendo já com o namorado de vinte anos, a vinte kilómetros a norte do Porto.
Vidas demasiadamente entrelaçadas!
Marta sabe que se algo acontecer à sua filha esta será institucionalizada. Sabe, também, porque eu lho disse (terá ela interiorizado?) que no caso de ter de optar, a sua filha terá de estar sempre em primeiro lugar.
Penso que sabe que a violência não pode voltar porque quem ama respeita e aceita o outro como um EU-OUTRO e nunca como um OUTRO-EU.
Não será a diferença e os olhares diferenciadores do real aquilo que, precisamente, nos aproxima?

                                           Lola




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