VIOLÊNCIA NO NAMORO –
um
alerta...uma sensibilização!
alerta...uma sensibilização!
Realizou-se, na Escola Secundária de Arouca, uma acção de sensibilização
subordinada ao tema “Violência no Namoro”.
Assisti
a esta palestra acompanhando a turma G do 9º Ano – um conjunto de quinze miúdas
que frequenta um curso EFA – Curso de Assistente Familiar e Apoio à Comunidade.
Nada
mais indicado para uma turma de meninas precocemente adultas, com histórias de
vida marcantes, com experiências sexuais irresponsavelmente assumidas, e,
quatro delas institucionalizadas.
Vidas
amargas estas! Uma delas disse-me, um dia, numa aula, com um despudor que
indigna: “O meu primo violou uma criança e está cá fora...”.
Há
intervenções que nos calam a alma pela impossibilidade que sentimos em aceitar
contextos de vida de uma miséria humana tão duramente monstruosa. E, porque
reais...chocam demasiadamente.
O
tema da palestra seduzia! Mais pelo namoro e menos pela violência. Ouviram,
atentamente, que, cada vez mais, esta começa cedo, que é um conceito
abrangente, que é uma atitude que surge camuflada em diferentes práticas que
vão desde as mais Hard (insulto
verbal, pressão, agressão) às mais Soft
(controle de amizades, de horários e de telemóvel).
Sentiram
experiências vividas pelas técnicas que, no contacto com casos reais,
descreveram pormenorizadamente, casos de violência em casamentos julgados
exteriormente como imaculados.
E
porquê? É que, muitas das vezes, a violência entre casais não é mais nem menos
que o prolongamento, o patamar seguinte de uma violência que se iniciou,
levemente, no namoro.
Mas,
esta temática é extremamente complexa, assumimos nós! É necessário establecer
barreiras seguras entre o amor e, inevitavelmente, o ciúme a ele associado e o
controle e a violência que, subrepticiamente, se instala numa relação
castrando-a e sufocando-a de forma progressiva.
As
meninas ouviram com atenção. Algumas delas, estou certa, pensaram as suas
próprias vidas e reflectiram práticas de e num quotidiano que as surpreende na
sua imaturidade.
Instadas
a questionar sobre possíveis dúvidas acerca do tema – fizeram - no a medo. È que isto é sempre
coisa dos outros...Sei que muito haveria a dizer se, provavelmente, o encontro
fosse na privacidade e num conhecimento interpessoal mais consolidado. Ficará
para mais tarde!
E
eu, insatisfeita no saber, orgulhosa de tudo querer repôr permanentemente em
questâo, falo do limite ténue entre ciúme e controle, entre interesse, paixão e
pressão, entre chantagem emocional e desejo de exclusividade. Fica, no entanto,
por perceber se o fenómeno tem maior incidência (ou não) nos países latinos (e
porquê), ou mesmo se ele tem vindo a crescer ou são os organismos que estão
mais atentos e a sociedade mais permeavel à análise e denuncia destes protagonistas
de virtudes públicas e vícios privados.
E
porque demasiadamente privados...quero partilhar um caso paradigmático de uma
destas meninas da turma que vou tentando não perder de vista.
Marta (nome
ficticio). Olhar azul e aspecto frágil. Dezasseis anos. Será mãe nos inícios de
Dezembro. Vive há cerca de dois anos com Xavier
(nome ficticio) e gosta muito dele. “Foi ele quem me desonrou...”, diz com
orgulho.
Esta
vida em comum tem sido intervalada por zangas e afastamentos – traições por
parte dele. Tem, também, sido salpicada por momentos de agressão física. Mas,
Marta afirma que desde que está grávida “ele nunca mais lhe bateu e que até é
seu amigo”.
Lá
em casa (vivem sozinhos numa casa alugada) o ambiente, porém, não agrada a
Marta. O dinheiro está num pequeno cofre de onde ela só tira mediante pedido
prévio a Xavier. Mesmo agora que está a receber o subsídio pré-natal não pode
fazer uso desse dinheiro com liberdade.
Às
vezes (e não são poucas) a mãe de Xavier (pessoa de porte duvidoso) planta-se
na casa de ambos e controla-lhe o que come, o caixote do lixo (para ver o que
ela estraga...) e remexe as gavetas – fazendo, posteriormente, queixas ao
filho.
Xavier
defende a mãe (esta ter-lhe-á dado dinheiro para a carta de condução) e vai
cedendo às ingerências da progenitora. Marta não gosta. “Detesta a velha!”. Um
dia destes, encontrou-a parcialmente nua, na cama, ao lado do filho. Não gostou
e chamou a atenção de Xavier que nada disse.
Há
uns dias Marta, com a mãe veio passar a tarde a minha casa. Falamos disto e de
muito mais. Xavier (numa das zangas com Marta) envolveu-se com uma miúda, de
doze anos, desta escola, que largou mediante pressão da Comissão de Protecção
de Menores. Marta fala desta ligação e quer saber como está esta menina que,
curiosamente, ainda não tem catorze anos, será mãe em Novembro, vivendo já com
o namorado de vinte anos, a vinte kilómetros a norte do Porto.
Vidas
demasiadamente entrelaçadas!
Marta
sabe que se algo acontecer à sua filha esta será institucionalizada. Sabe,
também, porque eu lho disse (terá ela interiorizado?) que no caso de ter de
optar, a sua filha terá de estar sempre em primeiro lugar.
Penso
que sabe que a violência não pode voltar porque quem ama respeita e aceita o
outro como um EU-OUTRO e nunca como um OUTRO-EU.
Não
será a diferença e os olhares diferenciadores do real aquilo que, precisamente,
nos aproxima?
Lola
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