Dentro
de uma fábrica de exames chinesa
BROOK LARMER
Na escola de
Maotanchang não há telemóveis, tomadas de electricidade ou qualquer diversão
dita do mundo moderno. Ali, só se estuda intensivamente com pausas semanais de
apenas três horas ao domingo.
A rua principal de
Maotanchang, uma pequena cidade remota no rendilhado montanhoso da província de
Anhui, na China oriental, está quase deserta. Um homem dormita sentado no seu
riquexó e duas idosas encaminham-se com a sua enxada para os campos de arroz
nos arredores da cidade. Eram 11h44 de uma manhã de domingo na Primavera
passada e as lojas com comida, chá e livros estavam fechadas. Nem a árvore
sagrada da cidade atraía suplicantes: debaixo dos seus frondosos ramos, apenas
um pacotinho de incenso ardia num monte de cinza.
Um minuto mais
tarde, às 11h45 precisamente, toda esta tranquilidade foi estilhaçada. Milhares
de adolescentes romperam pelo portão da frente da escola secundária de
Maotanchang. Muitos deles vestiam casacos corta-vento parecidos, pretos e
brancos, com o slogan escrito em inglês: “Eu acredito, eu consigo”. Era hora de
almoço numa das mais reservadas escolas chinesas de estudo intensivo — uma
fábrica de memorização onde 20 mil estudantes, o quádruplo da população oficial
da cidade, estudam noite e dia para o exame nacional de admissão à
universidade, conhecido como “gaokao”. Este dificílimo exame, que
acontece anualmente em Junho e se estende por dois ou três dias (dependendo da
província), é a prova seminal para a entrada nas universidades chinesas. Para
os estudantes de Maotanchang, na sua maioria originários de zonas rurais, é A OPORTUNIDADEpara terem uma vida
para além do trabalho nos campos ou nas fábricas, de garantirem um futuro às
suas famílias à custa do seu trabalho árduo e notas elevadas.
Yang Wei, filho de
um produtor de pêssegos, está no último ano do secundário e é quem me guia pela
multidão. Calça uns ténis-bota e passou os últimos três anos, fins-de-semana
incluídos, a entrar às 6h20 na primeira aula e a regressar a casa pelas 22h50.
Só nos encontramos a esta hora, depois de já ter feito mais um teste nesta
manhã de domingo, porque era o seu único tempo livre em toda a semana — as
únicas três horas livres de que dispõe. Agora que faltam apenas 69 dias para o gaokao —
a data aparece em todos os calendários espalhados pela cidade —, Yang está
prestes a entrar numa recta final frenética. “Se juntássemos todo o papel que
gastei com todos os testes que tive de fazer nestes últimos três anos, dava
para embrulhar o mundo”, diz com um sorriso amargo.
Yang e eu
comunicámo-nos ao longo de semanas através das redes sociais. Com os seus 18
anos, parecia até um pouco excitado por ser o anfitrião de um americano
expatriado. E, contudo, uma crise estava prestes a rebentar. Apesar de todos os
testes, as notas de Yang entraram em derrapagem e isso ensombrou o almoço que
tivemos com a sua família no quarto que ele e a mãe ocupam, muito perto da
árvore sagrada. A nós juntou-se o pai de Yang, de visita naquela tarde de
domingo, e Cao Yingsheng, o seu melhor amigo e conterrâneo, também ele colega
de estudo em Maotanchang — todos apinhados num espaço que pouco mais leva do
que um beliche, uma secretária e uma panela de pressão para cozer o arroz. A
renda do quarto é alta, rivalizando mesmo com os preços praticados na Baixa de
Pequim, mais um dos sacrifícios que os pais de Yang têm de fazer para ajudar o
seu único filho e também único membro desta família a conseguir chegar à
universidade.
Lin Jiamin, a mãe
de Yang, abandonou o seu EMPREGO numa fábrica
de vestuário para o ajudar neste último ano de estudo. Também a mãe de Cao veio
viver com o filho. “É muita pressão”, diz Cao, cuja família pagou dois mil
dólares por semestre, mais do que a de Yang porque Cao tinha notas baixas
quando chegou ao secundário. “A minha mãe passa a vida a lembrar-me de como
tenho de estudar mesmo a sério, porque para pagar as propinas o meu pai tem de
estar a TRABALHAR na
construção, longe de casa.” Durante um minuto o silêncio caiu sobre o quarto.
Também eles sabem que esse será o destino destes rapazes se falharem no gaokao.
“Dagong”, diz Yang. “TRABALHO MANUAL.” Ele e Cao teriam
de se juntar ao exército de 260 milhões de chineses trabalhadores migrantes.
A minha mãe passa a
vida a lembrar-me de como tenho de estudar mesmo a sério, porque para pagar as
propinas o meu pai tem de estar a trabalhar na construção, longe de casa.”
Cao Yingsheng
Yang estava
desejoso de mostrar como era um bom anfitrião. Mas, enquanto a sua mãe nos
voltava a servir de asas de frango e tofu com sésamo, as suas pálpebras iam
fechando. A mãe de Yang queria que ele fosse estudar logo a seguir ao almoço,
mas o pai intercedeu: “O cérebro também precisa de descanso”, disse. E, quase
sem emitir palavra, Yang subiu para o beliche e adormeceu profundamente ainda
de ténis calçados.
Não há nada mais
esgotante para as famílias chinesas do que o espectro do gaokao. O
exame — há duas versões, uma para Humanística e outra para Ciências — é a
encarnação moderna do kejuimperialista, entendido como o primeiro
modelo standardizado de exame do mundo. Por mais de 1300 anos e já no século XX
foi o keju que conduziu os jovens chineses a um diploma
académico e a ingressarem nos serviços públicos. Hoje, mais de nove milhões de
estudantes fazem anualmente o seugaokao (menos, cerca de 3,5
milhões, fazem outro tipo de exames, o SAT e o ACT). Mas a pressão sobre os
estudantes chineses para começarem a memorizar e a regurgitar informação começa
muito antes, logo na primária. Até no jardim infantil bilingue e liberal onde
os meus filhos andaram em Pequim, os pais empurravam os filhos de cinco anos
para a aprendizagem das tabuadas de multiplicar e para o domínio perfeito da
sintaxe chinesa e inglesa, prevenindo assim que, chegados à primária, não
ficassem atrás dos demais. “Para ser mesmo honesta, a corrida ao gaokao começa
logo à nascença”, disse-me uma mãe chinesa minha amiga.
A passadeira
rolante que são estes testes na China tem produzido, juntamente com elevados níveis
de literacia e sob controlo governamental, alguns dos mais assustadoramente
competentes examinandos do mundo. Os estudantes secundários de Xangai têm
dominado os últimos dois ciclos do Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes [Pisa, na sigla em inglês, avaliação dos alunos da OCDE], o que já
foi interpretado por fontes norte-americanas como um “momento Sputnik” da
superioridade chinesa. Contudo, apesar de os profissionais americanos de
Educação procurarem a todo o custo descortinar os segredos por detrás da
mestria do estudo na China, é no próprio país que o gaokaoestá sob
fogo, visto como um anacronismo, que sufoca a criatividade e coloca demasiada
pressão sobre os ombros dos jovens. À medida que se aproxima o gaokao,
a taxa de suicídios entre os adolescentes tende a aumentar. Há dois anos, um
estudante divulgou online uma fotografia chocante: estudantes
debruçados sobre livros numa sala de aula numa escola secundária pública, todos
ligados a catéteres de alimentação intravenosa para se aguentarem durante o
estudo.
Pequim está agora a
forçar a introdução de reformas para redução da carga de estudo, algo que
poderia vir a permitir tanto a valorização dos currículos para além das notas
finais de cada um, como as próprias universidades passarem a considerar outros
factores que não somente os resultados dogaokao. Mas estes esforços têm
encontrado resistência, sinal de uma burocracia enraizada mas também do receio
dos próprios pais de que se for aliviada a pressão sobre os filhos estudantes
isso possa comprometer os seus resultados escolares e o seu futuro. “A China
foi apanhada no dilema do prisioneiro: ninguém quer dar parte de fraco porque o gaokao ainda
é o único caminho que leva ao paraíso”, diz Yong Zhao, professor de Ciências da
Educação na Universidade do Oregon e autor do livro Who’s Afraid of the
Big Bad Dragon?
Em todas as áreas
urbanas chinesas têm proliferado este tipo de escolas de preparação intensiva
para os exames. Mas Maotanchang permanece um mundo à parte, uma cidade que vive
à custa da sua única indústria, a produção de máquinas de exame, com o mesmo
empenho cego com que outras produzem decorações natalícias ou meias. A
abundância de estudantes universitários pode ter corrompido o valor de se ter
uma licenciatura, sobretudo quando olhamos para os números do desemprego ou do
subemprego, em ascensão junto dos recém-licenciados. E muitas famílias ricas
chinesas nem entram nesta contabilidade porque podem ter os filhos a estudar em
escolas internacionais privadas ou no estrangeiro. Mas para os menos abastados,
como Yang, a incerteza da economia apenas veio intensificar a competição do gaokao:
poucos pontos podem determinar se uma licenciatura vale tudo — ou nada.
“A competição está
agora ainda mais feroz”, diz Jiang Xueqin, vice-director da Tsinghua University
High School. “E os estudantes de origem rural são quem fica para trás.”
Isolada nas
montanhas de Anhui, a duas horas da cidade mais próxima, a escola de
Maotanchang dirige-se sobretudo a estes estudantes vindos dos campos. E
orgulha-se de ter banido as distracções da vida moderna: o uso de telemóveis e
de computadores está proibido; e nos dormitórios, onde não cabem nem metade dos
alunos que os ocupam, não há tomadas de electricidade. Também o amor está
banido. Na cidade, onde também ficam os estudantes que vivem com as mães em
exíguos quartos, as autoridades mandaram fechar todos os locais de
entretenimento. Esta é bem capaz de ser a única cidade em toda a China que não
tem um cibercafé, um salão com mesas de bilhar ou máquinas de jogo. “Não há
mais nada para fazer além de estudar”, diz Yang.
Mas não é só por
aquilo que a cidade (não) oferece que se consegue instilar disciplina em miúdos
como Yang, um adolescente adorável vindo de Yuejin e a quem o pai se refere
como “o miúdo mais traquina da aldeia”. Todo o corpo docente masculino de
Maotanchang distribuiu lições de vida, reprimendas e, frequentemente, até
castigos, com um espírito de rigor militarista: os seus postos de TRABALHO e os bónus no
ordenado dependem directamente dos elevados resultados conseguidos pelos seus
alunos. Guardas patrulham os 6600 metros quadrados do campus em
carrinhos de golfe e em motos, e câmaras de vigilância captam os movimentos dos
alunos dentro das salas de aula, nos dormitórios e até nas ruas desta pequena
cidade. Mas viver neste “circuito fechado”, como lhe chama Li Zhenhua, um
professor assistente, dá resultados. Em 1998, apenas 98 dos alunos de
Maotanchang tiveram a nota mínima exigida no gaokao para
acesso ao ensino universitário. Quinze anos depois, 9312 estudantes passaram e
a escola pretendia chegar aos 10 mil em 2014. Yang e Cao esperavam estar entre
estes.
“Agora não o podemos perturbar”, murmura Yang Qi, o pai de Yang, mal ele adormece no beliche. Põe os óculos de sol à aviador e a mulher, que tem um vestido cor de laranja e sapatos de salto alto forrados a lantejoulas, procura o seu guarda-sol azul para me levarem a passear pelos jardins da escola. No campus de Maotanchang só são permitidas visitas nestas três horas das tardes de domingo. São horas que os pais de Yang aproveitam para consultar as tabelas com notas espalhadas pela escola e verificam as listas de alunos à procura dos resultados dos últimos testes do filho. No início do ano lectivo, este era até um ritual gratificante porque as notas de Yang se aproximavam do que é exigido para entrar numa das 120 principais universidades da China. Mas agora parece duvidoso que ele consiga sequer entrar numa das de segunda linha. “Nem precisamos de ver”, diz Yang Qi. “Só queremos que o nosso filho se esforce e estude porque tanto a mãe dele como eu nunca tivemos A OPORTUNIDADE de chegar tão longe [na escolaridade].”
À chuva, estudantes revê |
“Agora não o podemos perturbar”, murmura Yang Qi, o pai de Yang, mal ele adormece no beliche. Põe os óculos de sol à aviador e a mulher, que tem um vestido cor de laranja e sapatos de salto alto forrados a lantejoulas, procura o seu guarda-sol azul para me levarem a passear pelos jardins da escola. No campus de Maotanchang só são permitidas visitas nestas três horas das tardes de domingo. São horas que os pais de Yang aproveitam para consultar as tabelas com notas espalhadas pela escola e verificam as listas de alunos à procura dos resultados dos últimos testes do filho. No início do ano lectivo, este era até um ritual gratificante porque as notas de Yang se aproximavam do que é exigido para entrar numa das 120 principais universidades da China. Mas agora parece duvidoso que ele consiga sequer entrar numa das de segunda linha. “Nem precisamos de ver”, diz Yang Qi. “Só queremos que o nosso filho se esforce e estude porque tanto a mãe dele como eu nunca tivemos A OPORTUNIDADE de chegar tão longe [na escolaridade].”
Apesar de alguns
sinais de pânico, os pais de Yang queriam mostrar-me as razões do sucesso da
escola, como se as suas próprias expectativas de mobilidade social dependessem
disso. A escola de Maotanchang começou de forma humilde em 1939, como um oásis
que acolhia os estudantes que procuravam escapar à invasão japonesa de Hefei, a
capital da província de Anhui. Estabeleceu-se definitivamente como escola
depois da revolução comunista de 1949. Mas meio século depois, enquanto a
economia do litoral chinês floresceu, Maotanchang transformou-se num velho
navio cujo casco foi sendo escavado por comunidades de trabalhadores rurais
migrantes e soterrada em dívidas. A sua ressurreição deve-se à decisão da
China, em 1999, de “dar o seu salto em frente” como tantas vezes é referida a APOSTA na educação
superior. O número de universidades chinesas triplicou e a população estudantil
passou para 31 milhões — maior do que em qualquer outro país do mundo (os
Estados Unidos têm 21 milhões). E cada um destes alunos tem primeiro de passar
pelo seu gaokao.
Como o ancestral
exame imperial, o gaokao pretendia introduzir a meritocracia
num sistema que de outra forma seria sobretudo elitista, garantindo um rumo e a
possibilidade de ascensão social a quem tem menos recursos. (Os alunos que
conseguissem os melhores resultados no keju, depois de dias
trancados numa cela sem janelas, tinham a honra de entrar na Cidade Proibida de
Pequim pelo portão médio do Imperador.) Mas os estudantes de zonas rurais
continuam em clara desvantagem. Em aldeias como Yuejin, onde o pai de Yang é
secretário do Partido Comunista, há poucas condições para o ensino e escassez
de docentes bem preparados. As famílias da cidade, mais abonadas, podem
recorrer a tutores privados, pagarem cursos intensivos de preparação para os
exames ou até subornarem para conseguirem chegar às melhores escolas. O sistema
de quotas da universidade também afasta os estudantes que vêm dos campos, a
quem são dadas menos admissões do que aos seus pares das cidades.
Os miúdos de zonas
rurais precisam de ajuda reforçada, e Maotanchang dá resposta a essas
necessidades. Ao princípio, a escola oferecia cursos extra de preparação para
os exames, além dos já exigidos pelo currículo habitual, a baixos custos. Em
2004, quando o Governo impediu os cursos com pagamento de propinas nas escolas
públicas, o poder local transformou todo o currículo escolar de serviço público
exclusivamente em megacursos de preparação para os exames nacionais. (No 10.º e
11.º anos, os alunos ainda podem escolher entre duas horas semanais de música,
artes ou educação física. Mas no último ano, 12.º, já nenhuma dessas disciplinas
é permitida, apenas as que são dirigidas para o gaokao.) Ainda mais
audazes são os cursos que foram aparecendo, cursos privados com fins lucrativos
para atrair estudantes “repetentes” — estudantes que apesar de já estarem na
universidade estão desesperados por subir as notas e dispostos a pagar pelo
privilégio de reincidir nogaokao. Esta iniciativa teve os seus frutos. A
ala dos “repetentes” situa-se no mesmo campus de uma escola
secundária pública normal, usa os mesmos recursos e é agora uma das principais
fontes de lucro do sistema de ensino, com mais de 6 mil estudantes que pagam
valores que vão de umas poucas centenas de dólares a quase 8 mil de anuidade.
(Os estudantes com as notas mais baixas são os que pagam valores mais elevados
de propina — um sistema de mensalidades concebido para garantir as taxas mais
elevadas de sucesso e de retorno financeiro para as escolas.) “Esta escola é
muito mais rica do que se consegue imaginar”, diz Yang Qi enquanto me segura no
braço e passamos pelos guardas de segurança no portão. No seu tom de voz há
mais admiração do que reprovação.
Já dentro dos
portões, Yang Qi mostra-me, ávido, os frutos do investimento de 32 milhões de
dólares da escola: um gigantesco ecrã em LED, um complexo desportivo, estátuas
enormes do camarada Mao e de Deng Xiaoping e, no cume, um faiscante edifício em
forma de ampulheta — é onde funcionam os escritórios administrativos e mais
parece uma torre de controlo de aeroporto ou uma torre de vigia de prisão. Os
jardins são tão cuidados como se estivéssemos num campus universitário
americano, apesar de num deles, com pedras decorativas, podermos ler o mote:
“Não é com a inteligência que competimos, mas com o TRABALHO árduo.”
A nova estrutura, a
mais importante, é um edifício de tijolo com cinco andares que alberga as aulas
para os alunos “repetentes”. À medida que ia vendo milhares desses alunos de
regresso ao edifício naquele domingo à tarde — 90 minutos é de quanto dispõem
para as suas pausas semanais —, lembrei-me de como Yang se lhes referia como
“os alunos mais desesperados”. São tantos os que se amontoam em cada aula —
mais de 150 — que, dizem eles, os professores usam megafones de chifre para se
fazerem ouvir. O rapaz que vive no quarto ao lado de Yang é um desses
“repetentes” que tentaram fazer o gaokao no ano anterior. Agora
estuda até às 1h30 da manhã e subiu de tal forma no ranking — 2000 lugares —
que está entre os três melhores da aula. “Ele é como um fantasma. Mas só me
serve de motivação porque nunca mais quero ter de passar por isto”, diz-me
Yang. A mãe, por sua vez, replica: “Mesmo que falhasses, não poderíamos ter-te
aqui por mais um ano.”
Eu e os pais de
Yang demoramo-nos em frente à fila de dormitórios onde ele passou os primeiros
dois anos que esteve em Maotanchang. Dez estudantes, às vezes 12, amontoam-se
em cada quarto. A rede de arame que cobre as janelas — “para evitar os
suicídios”, como mais tarde me disse um outro aluno, meio a gracejar — está
pejada de roupa a secar, meias, cuecas, T-shirts, sapatos. Os
dormitórios têm poucas condições — não há tomadas de electricidade ou máquinas
de lavar roupa, e até há um ano, quando instalaram um quarto de banho, não
havia sequer água quente. Mas há, como notam os estudantes, um aparelho high-tech:
um scanner de impressões digitais utilizado pelos professores
para confirmar que fizeram a obrigatória ronda pelos quartos.
17
horas por dia é
quanto os professores passam a
monitorizar aulas de 100 a 170 alunos
Talvez no campus de
Maotanchang ninguém se sinta mais motivado — e exausto — do que os próprios
professores. São 500 e manter os seus postos de TRABALHO depende do
sucesso de cada um dos alunos. Um salário-base de cada um destes professores é
duas a três vezes superior aos salários médios dos restantes docentes das
escolas públicas chinesas, e os bónus podem duplicar-lhes o ordenado. Por cada
aluno que chega a uma universidade de primeira linha, a equipa de seis
professores (há sempre um orientador e mais cinco por disciplina) partilham
prémios de 500 dólares. “Conseguem um bom ordenado mas enfrentam uma pressão
ainda maior do que a nossa”, diz-me Yang.
Os horários dos
professores-orientadores são de tal forma exaustivos — 17 horas por dia a
monitorizar aulas de 100 a 170 alunos — que a escola foi obrigada a decretar
que apenas homens jovens e solteiros poderiam candidatar-se ao lugar. A
competição para se manterem à tona neste tipo de TRABALHO é também ela
intensa. Há tabelas nas paredes para mostrar o ranking das turmas de semana
para semana. Para aqueles professores cujas turmas terminaram em último lugar
no ano anterior, o despedimento é certo. Não admira que os métodos de motivação
para os próprios professores sejam duríssimos. Além das reprimendas severas,
alguns professores colocam os alunos em “desafios de morte” frente a frente — o
que falhar no teste tem de permanecer de pé por toda a manhã. Num caso que deu
muito que falar, a mãe de um estudante que se atrasou teve de ficar toda a
semana em frente à sala de aula do filho como castigo. E para os “repetentes”
os professores têm este mantra impiedoso: “Lembra-te sempre do teu falhanço.”
O mais famoso
graduado da Maotanchang é um rapaz magro de 19 anos, com os cabelos a
caírem-lhe nos olhos. Chama-se Xu Peng e, apesar de estar longe de parecer um
masoquista, sentiu-se atraído pelo rigor da escola porque, como ele diz,
“queria um lugar cruel”.
Xu foi uma das 60
milhões de crianças chinesas “deixadas para trás”. Foi criado pelos avós
enquanto os pais trabalhavam como vendedores de fruta migrantes da cidade
distante de Wuxi. Mas o avô mandou vir os pais para casa, na aldeia de
Hongjing, quando Xu ficou fora de controlo, na preparatória — faltava às aulas,
saía às escondidas com os amigos, tornou-se obcecado por jogos de vídeo. Os
rendimentos da família caíram quando a mãe deixou de TRABALHAR para se
dedicar à sua educação. Apesar de ter acalmado para agradar à mãe, Xu
continuava a falhar no exame de admissão ao secundário, arruinando as suas
hipóteses de entrar nos melhores liceus da região. A mãe estava tão chateada
que durante dias mal falou com ele. Restavam-lhe poucas hipóteses para entrar
no secundário e por isso Xu virou-se para a Maotanchang. “Eu sabia apenas que a
escola era muito rígida, ao ponto de alguns alunos se terem suicidado”,
disse-me. “Isso convenceu-me. Não acreditava que me disciplinasse se não fosse
assim.”
Pouco depois de
chegar a Maotanchang, Xu decidiu que os professores não eram suficientemente
cruéis. A fixação da escola em aumentar o nível de sucesso dos seus alunos no gaokao —
a sua maior bandeira publicitária — significa que os professores trabalham
intensamente para levantar os resultados dos estudantes marginais para que
tenham as notas necessárias para as universidades de segunda ou terceira linha.
“O objectivo é pôr todos acima da linha”, afirma Xu. “Mas, se tens notas
suficientemente boas para passar, eles deixam de prestar atenção.” Durante os
dois primeiros anos, Xu decidiu que tinha de desenvolver o seu próprio sentido
de autocontrolo. Todos os tempos livres eram passados a estudar, fazia testes a
si próprio entre as aulas, na casa de banho, no refeitório. À noite, depois de
as luzes se apagarem às 23h30, às vezes, usava uma lanterna a pilhas para
continuar.
No seu terceiro ano
na Maotanchang, quando a mãe veio viver com ele num quarto alugado na cidade,
as notas dos testes começaram a subir, até chegarem ao topo do seu ano —
tornou-se o primeiro entre milhares. O director de turma chamou-o à parte no
início da Primavera de 2013 para lhe comunicar que ele poderia tornar-se o
primeiro aluno de sempre da Maotanchang a entrar na prestigiada Universidade
Tsinghua, em Pequim, conhecida como o MIT da China. Ao longo dos anos, a
Maotanchang ganhou fama como uma linha de montagem para universidades de
segunda linha. Agora, disse-lhe o professor, os administradores da escola
estavam tão entusiasmados com a ideia de terem um aluno admitido numa das
principais universidades do país que ofereciam um prémio considerável: quase 42
mil dólares para serem equitativamente distribuídos entre a família de Xu, a
escola preparatória e — naturalmente — os seus professores na Maotanchang.
Antes do gaokao,
Xu enclausurou-se num quarto de HOTEL perto do
local do exame, na cidade de Lu’an, e não saiu de lá durante 48 horas. “Os meus
pais acharam que eu era maluco”, conta. “Não percebiam porque é que eu me
recusava a sair do quarto. Mas memorizar esta matéria é como treinar para os
Olímpicos. Temos de aproveitar o momento. Falhamos um dia ou dois, e podemos
perder a forma.”
Esse empurrão extra
pode ter ajudado: Xu conseguiu 643 dos (nunca conseguidos) 750 pontos dogaokao.
A nota mínima no exame de Ciência para os estudantes da província de Anhui
entrarem na Tsinghua era de 641. Ele conseguiu por apenas dois pontos.
O feito de Xu é tão
conhecido na Maotanchang que Yang fala dele como uma “figura de culto”. O
espaço minúsculo que Xu e a mãe alugaram no ano passado é agora publicitado
como o “quarto zhuangyuan”, uma referência ao examinando que teve a nota mais
alta no antigo exame imperial. Os administradores da Maotanchang levaram-no ao campus durante
o ano lectivo passado para que fizesse um discurso motivacional a 300 alunos
especialmente seleccionados — os que tiveram as notas mais altas em cada turma.
Numa altura em que
as massas chinesas são incentivadas a “estudar Lei Feng” — um soldado altruísta
exemplar que deu a vida pela pátria —, os estudantes da Maotanchang são agora
encorajados a “estudar Xu Peng”.
Quando na Primavera
me encontrei com Xu no campus relvado da Tsinghua, perto do
fim do seu primeiro ano, ele continuava a parecer deslocado: um jovem aldeão
com um blazer gasto, as mangas puxadas para cima. Muitos dos
estudantes à nossa volta eram membros da elite urbana chinesa, jovens ricos,
sofisticados, armados de iPhones, cartões de passageiro frequente e algum
entendimento de Harry Potter e da Teoria do Big Bang.
Xu parecia
desolado. Mostrou-me o seu cartão de identificação de aluno, tirado no Outono
anterior, quando a sua cara ainda era rosada e redonda. “Perdi sete quilos
porque não me habituo à comida”, disse. Também foi preciso adaptar-se à vida
universitária. “Aqui não há regras”, afirmou. “Durante o primeiro semestre
andei confuso, porque ninguém me dizia o que fazer.”
Xu, que está num
curso de Engenharia, está a aprender a apreciar coisas novas: sair com amigos,
fazer voluntariado, passar fins-de-semana no parque. “Continuo a estudar
muito”, precisa Xu, que pretende prosseguir os seus estudos nos Estados Unidos.
“Mas agora consigo finalmente respirar.”
Com todo este estudo, o cérebro dos miúdos torna-se rígido. Eles sabem
fazer um exame, mas não sabem pensar por eles.”
Yang Qiming,
professor reformado
Quando voltei a
Maotanchang em Junho, na véspera de os alunos partirem em massa para o gaokao,
o céu escuro era iluminado por dezenas de lanternas de papel. As etéreas
esferas laranja subiam cada vez mais alto, até formarem uma constelação de
esperança. Segui o rasto das lanternas até à sua origem: um terreno vazio ao
lado do portão lateral da escola. Enquanto o calor em expansão fazia levantar
as lanternas do chão, acendidas por várias famílias, as orações ouviam-se cada
vez mais alto. “Por favor, que o meu filho passe a linha!”, entoava uma mãe.
As lanternas
luminosas erguiam-se sem obstáculos pelo ar da noite, as famílias cantavam. Mas
uma lanterna prendeu-se num cabo eléctrico. A mãe de um aluno pareceu ficar
devastada — porque isto, segundo a crença local, era um mau presságio, que
predestinava o filho a ficar “abaixo da linha” nogaokao.
Para uma cidade que
transformou o exame de preparação num acto mecânico de memorização e repetição,
a Maotanchang continua a ser um lugar cheio de fé e superstição. A maioria dos
estudantes tem algum tipo de talismã, quer seja roupa interior vermelha
(acreditam que dá sorte), sapatos de uma fábrica chamada Anta (o logótipo faz
lembrar a marca de uma resposta correcta) ou uma saqueta de chá de
“rejuvenescimento cerebral” vendido por comerciantes à porta da escola. Os
suplementos nutricionais que mais se vendem na cidade chamam-se Mente Limpa e
Seis Nozes (as nozes são consideradas fontes de energia para o cérebro em
grande parte porque a sua forma é semelhante a um cérebro).
Os pais de Yang não
pareciam particularmente supersticiosos, mas pagavam uma renda elevada para
viver ao lado da árvore mística e do seu monte de cinza de incenso de um metro.
“Se não rezarmos à árvore, não passamos”, diz Yang, repetindo um ditado local.
No corredor do
andar de cima do quarto de Yang, encontro um VIDENTE sentado num
banco, junto a uma tela com um gráfico. Por 2,8 euros, o homem com um fato às
riscas que mal lhe serve pode prever o futuro: casamento, filhos, morte — e
notas do gaokao. “O negócio corre bem hoje em dia”, diz com um
sorriso. Um homem mais velho com corte de cabelo à Mao observa a nossa
conversa. É Yang Qiming, professor de Química reformado, que me diz que
assistiu ao crescimento de Maotanchang de uma escola pobre de 800 estudantes,
quando foi para a faculdade em 1980, para o monstro que é hoje — uma
transformação notável durante um período em que a maioria das escolas rurais
entrou em declínio. Mesmo assim, aponta para os efeitos nocivos do ensino
mecanizado. “Com todo este estudo, o cérebro dos miúdos torna-se rígido”,
afirma. “Eles sabem fazer um exame, mas não sabem pensar por eles.”
Nessa noite, quase
todos em Maotanchang pareciam estar a executar os seus últimos rituais. Duas
raparigas com fardas escolares subiram de joelhos a longa escada para a estátua
do Mao, curvando-se a cada passo como se estivessem a pedir misericórdia a um
imperador. À frente da árvore sagrada, dezenas de suplicantes — tanto
estudantes como pais — queimavam os seus últimos pauzinhos de “incenso dos
campeões” e transformavam o monte de cinzas num inferno que continuaria a arder
durante a noite. Na esquina, dúzias de autocarros preparavam-se para
transportar na manhã seguinte mais de 10 mil examinandos de Maotanchang para o
local do gaokao. Todas as matrículas dos autocarros terminavam em 8
— considerado o número da sorte na China.
Mas Yang não se
sentia com muita sorte. O sorriso desapareceu-lhe da cara, juntamente com as
suas observações sobre o basquetebol e o primo a quem esperava juntar-se em
Xangai. A mãe dele também já se tinha ido embora. A sua ansiedade começou a
deixá-lo tenso e irritável, por isso perguntou ao avô se poderia olhar por ela
nas últimas semanas. Agora, só lhe restava um dia e Yang não tinha tempo para
nada senão estudar. O cansaço de anos de estudo resume-se assim: “Estou quase a
acabar.”
Antes da manhã
seguinte, os pais de Yang vieram de carro da sua terra natal em Yuejin para
apanhar o filho e levá-lo para o quarto alugado perto do local do exame na
cidade de Lu’na. Eu passara a noite num HOTEL fora da
cidade, por isso eles convidaram-me a juntar-me a eles numa boleia para
Maotanchang na minivan coberta de lama que eles usam para
transportar pêssegos. A carrinha (conhecida na China como mainbao che,
ou carrinha pão de forma, devido à sua forma) não tinha bancos de trás.
Sentei-me numa cadeira de madeira que o pai de Yang tinha trazido, agarrada na
zona de carga. A mãe de Yang estava sentada em silêncio ansioso, enquanto o pai
fazia as curvas, fazendo com que eu e a minha cadeira escorregássemos, falando
dos pêssegos californianos que cultiva na sua quinta, a que deu o nome Grande
Amor.
Consulta das turmas para exame numa universidade em Pequim WANG ZHAO/AFP |
Os cerca de dez mil
pais que vieram viver para Maotanchang farão tudo o que for preciso para
aumentar as hipóteses dos filhos no gaokao. Muitas das mães, como
Lin, não receberam instrução. Mas são as maiores defensoras das regras não
escritas que proíbem os residentes de Maotanchang de ver televisão, lavar a
roupa ou a loiça durante o período de sono dos estudantes. Quando um café
cibernauta abriu na cidade, há poucos anos, constituindo uma possível
distracção para os alunos, as mães ajudaram a escola num boicote que acabou por
levar ao seu encerramento. Quando as notas de Yang derraparam, a mãe
confiscou-lhe o telemóvel e fê-lo estudar noite fora, sentando-se ao seu lado a
coser cuecas com desenhos de peixes e borboletas. Durante o dia, Lin ajustava
os seus cozinhados para que coincidissem precisamente com os intervalos das
aulas, para que o filho não perdesse um segundo de tempo de estudo. “Temos de
fazer tudo o que podemos”, disse ela. “Caso contrário, vamos estar sempre a
culpar-nos.”
Eram cinco da manhã
quando entrámos em Maotanchang, mas a multidão de mães reunida à volta da
árvore sagrada já era cerrada. As chamas dos seus incensos eram tão quentes e o
monte de cinza tão grande que foi difícil passar para chegar ao quarto alugado
de Yang. A sua mãe acendeu uns paus de incenso, enfiou-os no monte de cinza e
balançou a cabeça para a frente e para trás em oração. Uma mulher ao seu lado
balançava suavemente um saco com ovos no fumo — os ovos, devido à sua forma de
cabeça, são considerados um símbolo de inteligência.
Yang tinha acabado
de acordar quando a mãe bateu na janela. A bagagem tinha sido preparada na
noite anterior — um pequeno saco para roupas, outro maior para livros — mas o
avô parecia agitado. Queria ter saído mais cedo para evitar as centenas de carros
e autocarros que iriam congestionar o trânsito na cidade. Mas havia ainda outra
razão para a sua tensão: alguém — um responsável da escola? Um vizinho? — o
tinha avisado de que ele iria ficar em apuros por estar a falar comigo. Um ano
depois de a imprensa chinesa ter anunciado o seu sucesso, Maotanchang estava
agora em busca de um low profile, de acordo com o apanágio chinês
de que “as pessoas temem a fama como o porco teme engordar”. Agora, com uma voz
trémula, o avô de Yang pedia-me que me fosse embora. Despedi-me da família e, à
distância, vi-os a entrar na carrinha “pão de forma” para a última viagem de
Yang para o gaokao. Ao passar por mim, o pai apitou rapidamente a
buzina.
Três horas depois,
exactamente às 8h08, a primeira caravana de autocarros fazia fila à porta do
Liceu de Maotanchang e serpenteava à volta da multidão agitada de pais e
habitantes locais. No passado, esta procissão era acompanhada pelo ribombar de
tambores e fogo-de-artifício. Este ano, a celebração foi silenciosa a pedido da
escola. Mas alguns rituais mantiveram-se: o condutor do primeiro autocarro
nasceu no ano do cavalo, uma referência não apenas ao ano actual mas também ao
ditado chinês “ma dao cheng gong”, que significa “sucesso quando o
cavalo chegar”. Ao fim do dia, Maotanchang estará sem ninguém, esvaziada de
estudantes, pais e comerciantes que vivem à conta deles.
Semanas mais tarde,
quando os resultados do gaokao foram conhecidos, telefonei a
Yang. Depois do nosso último encontro, temi que ele chumbasse — e que a minha
presença fosse em parte culpada. Mas, em vez disso, Yang estava entusiasmado.
Os seus resultados ultrapassaram em muito os dos exames de preparação. Não
chegavam para o qualificar para uma universidade de primeira linha em Xangai,
como ele chegara a sonhar, mas garantia-lhe entrada numa das melhores
universidades de segunda linha em Anhui. Não há garantias de que encontre EMPREGO quando se
formar, mas está desejoso por descobrir o mundo fora de Maotanchang — e fora da
sua limitada escolarização. “Estudei ciência lá, mas a verdade é que gosto de
arte, música, escrita, coisas mais criativas”, disse-me. “Acho que há muitos
estudantes como eu, que realmente não sabem muita coisa para além dogaokao.”
Uma coisa que ele sabe realmente: a sua vida será diferente da dos seus pais na
quinta Grande Amor.
Nem todas as
notícias desse dia eram felizes. O amigo de infância de Yang, Cao, chumbou — um
ataque de pânico, disse Yang. A família de Cao estava desfeita. A mãe passara
anos a apoiá-lo nos estudos, o pai trabalhava 12 horas por dia, 50 semanas por
ano, erguendo arranha-céus no Leste do país para pagar as propinas de
Maotanchang. Cao falava ainda vagamente em tornar-se professor de Inglês,
afirmou Yang, mas o seu futuro parecia incerto. A família nunca conseguiria
pagar mais um ano em Maotanchang, e de qualquer das formas ele não tinha a
certeza de o aguentar. Na verdade, só lhe restava uma opção. “Dagong.”
“Ele já partiu.” Dias depois de saber que tinha chumbado no exame, Cao deixou a
sua aldeia para PROCURAR TRABALHO migrante nas
reluzentes cidades costeiras da China. Acabaria na construção, tal como o pai.
Exclusivo PÚBLICO/
The New York Times Company
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