críticas
Crença verdadeira justificada...
... mas que não é conhecimento
A Rita é apreciadora de carros antigos e
tem reparado no Citroën boca‑de‑sapo estacionado num dos lugares reservados à
administração, na garagem do edifício da empresa onde trabalha. Ela forma a
crença de que um dos administradores da empresa tem um boca‑de‑sapo. Algum
tempo depois, a Rita veio a descobrir, com grande surpresa, que o boca‑de‑sapo que
viu era afinal de um morador daquela zona, que se aproveitava para estacionar
discretamente ali o seu estimado carro. O morador oportunista só tinha
conseguido estacionar ali o seu carro simplesmente porque o segurança julgava
ser o boca‑de‑sapo de colecção que, por coincidência, a administradora Paula
possuía. Até ter sido apanhado.
O que nos mostra esta história?
Em primeiro lugar,
mostra‑nos que a Rita formou uma crença verdadeira: que um dos administradores
tem um boca‑de‑sapo. Em segundo lugar, que a Rita tem uma justificação razoável
para esta crença: ela própria viu um boca‑de‑sapo vários dias estacionado num
lugar onde apenas podem ser estacionados veículos dos administradores.
Consequentemente, a Rita formou justificadamente uma crença verdadeira;
todavia, parece estranho dizer que ela sabia que um dos administradores tinha
um boca‑de‑sapo. Isto porque ela ficou surpreendida ao descobrir que o carro
não era de um dos administradores mas antes de um morador atrevido das vizinhanças;
ora, não costumamos ficar surpreendidos com o que sabemos.
Parece, pois, que a
Rita tem uma crença verdadeira justificada, mas não tem conhecimento.
Isto parece mostrar que não basta que uma crença verdadeira esteja
justificada para haver conhecimento.
Será que tem de se acrescentar alguma
outra condição?
Como reagir a contra‑exemplos deste género?
A. Almeida e D. Murcho,
Janelas Para a Filosofia, pp.180-181
Lola
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