quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Crença Verdadeira Justificada - críticas





Crença Verdadeira Justificada
 - críticas


A definição tradicional de conhecimento (proposicional), que remonta a Platão, diz que temos conhecimento quando temos uma crença verdadeira justificada. Tomadas em conjunto, a crença, a verdade e a justificação, constituem condições suficientes para haver conhecimento. Será isso correcto? Bastará reunir essas três condições para termos um conhecimento?

Em 1963, o filósofo americano Edmund Gettier publicou um artigo em que procurava mostrar, através da apresentação de contra-exemplos, que a reunião dessas três condições não é suficiente para haver conhecimento; ou seja, que podemos ter uma crença verdadeira justificada que não é conhecimento.
(Em vez dos contra-exemplos desse filósofo, vamos considerar outros, equivalentes mas mais fáceis de entender.)


1. Contra-exemplo formulado pelo filósofo inglês Bertrand Russell (1872-1970).

“O relógio da igreja da tua terra é bastante fiável e costumas confiar nele para saber as horas. Esta manhã, quando vinhas para a escola, olhaste para o relógio e viste que ele marcava exactamente 8h e 20m. Por isso, formaste a crença de que eram 8h e 20m. O facto do relógio ter sido fiável no passado justifica a tua crença. Contudo, sem que o soubesses, o relógio tinha avariado no dia anterior exactamente quando marcava 8h e 20m. Assim, tens uma crença verdadeira justificada que não é conhecimento.”
Luís Rodrigues e outros, “Filosofia – 11º”, 
1ª edição, 2004, Plátano Editora, pág. 198.



 2. Contra-exemplo formulado por Jonathan Dancy, no livro “Epistemologia Contemporânea”:



“Henry está a ver televisão numa tarde de Junho. Assiste à final masculina de Wimbledon e, na televisão, McEnroe vence Connors; o resultado é de dois a zero e ‘match point’ para McEnroe no terceiro ‘set’. McEnroe ganha o ponto. Henry crê justificadamente que

1. Acabei de ver McEnroe ganhar a final de Wimbledon deste ano, e infere sensatamente que
2. McEnroe é o campeão de Wimbledon deste ano.

No entanto, as câmaras que estavam em Wimbledon deixaram na realidade de funcionar, e televisão está a passar uma gravação da competição do ano passado. Mas enquanto isto acontece, McEnroe está prestes a repetir a retumbante vitória do ano passado.


 Portanto, a crença 2 de Henry é verdadeira, ele tem decerto justificação para crer nela. Contudo, dificilmente aceitaríamos que Henry conhece 2.”

Jonathan Dancy, “Epistemologia Contemporânea”,
 Edições 70, pp. 41-42.




Lola


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