sábado, 14 de maio de 2016

Conhecimento vulgar e conhecimento científico




Conhecimento vulgar e conhecimento científico


Se até agora tratámos do conhecimento em geral, perspectivando-o como fenómeno comum aos seres humanos e fizemo-lo no intuito de o compreender sob as vertentes fenomenológica e gnoseológica. Então, vamos agora centrar-nos nas diferenças entre o conhecimento vulgar e conhecimento científico, para depois nos ocuparmos deste último de uma forma mais detalhada .

Situando-nos no domínio da epistemologia ou filosofia da ciência, debruçar-nos-emos sobre o conhecimento cientifico, procurando individualizá-lo relativamente a outras formas de conhecimento, e evidenciar alguns dos problemas que se colocam a seu respeito.


O saber do quotidiano

De modo natural e directo, vamos conhecendo os objectos que nos cercam, as pessoas com quem lidamos, a cidade, a aldeia, ou a rua onde moramos. Sabemos onde é o supermercado mais próximo e aí selecionamos os produtos que queremos comprar, pronunciamo-nos sobre as pessoas que conhecemos, sobre as suas acções, sobre o nosso meio e sobre os acontecimentos em geral, sabendo avaliá-los em termos de solidariedade , justiça, beleza, amizade, em termos do que é bom e mau.
E fazemos tudo isto sem ser de forma propriamente científica, mas regulando-nos pela experiência vivida que é o “nosso” modo de conhecer e de nos relacionarmos com o mundo. Quer dizer, a grande maioria dos nossos atos e apreciações quotidianas são realizadas espontaneamente, com base no “ saber de experiências feito”. A  experiência vivida, que é a forma natural de contactar com as coisas determina uma modalidade de conhecimento que, por ser acessível a todas as pessoas, é costume designar-se por conhecimento vulgar ou senso comum . Merece também o nome de conhecimento empírico, precisamente por ter origem na experiência, isto é, no contacto directo das pessoas com as situações reais.

Conhecimento vulgar

Saber adquirido imediata e espontaneamente a partir da experiência, sem qualquer intenção metódica ou sistemática e sem qualquer preocupação reflexiva.
Quando falamos de experiência , referimo-nos  não à experiência pessoal de vida, colhida directa e ocasionalmente pelo ser humano, mas também a uma outra mais sistematizada , obtida no exercício das práticas profissionais . Podemos mencionar  ainda a experiência colectiva, acumulada pelos povos, grupos e civilizações ao longo do seu desenvolvimento, a qual constitui um legado ancestral, transmitido e actualizado pela coexistência de gerações.
Porém , a ocorrência de um facto , uma noticia do jornal ou uma reportagem televisiva podem contradizer os nossos esquemas habituais de pensar , abalando as convicções nutridas até então. Gera-se  a perplexidade, instala-se a desconfiança, e quantas vezes somos levados a questionar as nossas crenças, sacudindo o entorpecimento das ideias feitas. Quando isso acontece, significa que o senso comum já não nos satisfaz, aspirando a formas mais exigentes e reflexivas de conhecimento.

O conhecimento científico

Se a motivação do conhecimento vulgar se prende com a utilidade prática das coisas os motivos da ciência ligam-se a uma curiosidade intelectual, à necessidade teórica de saber, de compreender e explicar os fenómenos do mundo que nos rodeia.
Ciência - o mesmo que o conhecimento cientifico. Conjunto de conhecimentos relativos  a factos, objectos ou fenómenos explicados por leis e que são susceptíveis de verificação.
Observando a definição anterior veremos de imediato que dela ressaltam três aspectos que se encadeiam de modo circular 
:
1.        Conhecimento de factos
2.        Obediência a leis
3.        Verificabilidade


Objetivos gerais da ciência

·Compreensão ou explicação - conhecer cientificamente um fenómeno é saber como ele é , enquadrando-o numa lei, ou seja, explicando-o em termos de causa e efeito.
 Previsão –  para  o homem se sentir mais seguro, pois assim já sabe quando o fenómeno acontece.
Controlo – o homem procura formas de as manipular de modo a incrementar o seu aparecimento , se forem benéficos, ou a impedi-los, no caso de o molestarem.

Distinção entre o conhecimento vulgar e científico

O conhecimento vulgar é:
  •  acrítico
  •   Intuitivo
  •   Dependente de preconceitos
  •   Dogmático
  •   Espontâneo
  •   Dado
  •   Heterogéneo
  •   Subjectivo
  •   Ilusório
  •   Assistemático
  •   Sincrético

Conhecimento científico é:
  •  critico
  •  Racional
  •   Autónomo
  •  Reversível
  •  metódico
  • Construtivo
  • Homogéneo
  • Objectivo – intersubjectivo
  • Positivo – operatório
  • Sistemático
  •  Especializado
  •  Rigoroso

·
Algumas diferenças entre o senso comum e a ciência


Do senso comum fazem parte conhecimentos vulgares mas muito úteis na vida quotidiana (saber cozinhar, conhecer a cidade onde se vive, saber que no Verão há mais calor que na Primavera.
Pode também incluir superstições, isto é, crenças falsas ou injustificadas (acreditar que o número 13 dá azar, acreditar que uma mulher durante o período menstrual não deve fazer bolos pois estes não ficarão bons e outras!

Vejamos algumas das características distintivas entre senso comum e ciência.
As crenças que fazem parte do senso comum adquirem-se com base na experiência quotidiana das pessoas, na chamada experiência de vida (que se distingue da experiência científica por ser feita sem um planeamento rigoroso, sem método). Nalguns casos trata-se de experiências pessoais, noutros casos são experiências partilhadas pelos membros da comunidade – no decurso do processo de socialização. Em suma, é um conhecimento que se adquire sem estudos, sem investigações.
Por exemplo: para aprender onde fica a padaria mais próxima de casa ou para aprender a atar os sapatos não é preciso efectuar uma investigação metódica, basta a experiência de vida.
Pelo contrário, a ciência implica investigações, estudos efectuados metodicamente.
Por exemplo: De outra forma, como se poderia descobrir a temperatura média de um planeta tão distante como Mercúrio? Como é que a simples experiência de vida podia permitir a descoberta de que a luz do Sol leva 8,33 minutos a chegar à Terra?
O senso comum é assistemático, na medida em que constitui um conjunto disperso e desorganizado de crenças (algumas constituem conhecimentos e outras não), não implicando por parte dos seus detentores um esforço de organização. Por isso, algumas das crenças podem ser contraditórias.
Por exemplo: as mesmas pessoas podem acreditar que “Quem espera desespera” e “Quem espera sempre alcança”.
Ciência é um saber sistemático na medida em constitui um conjunto organizado de conhecimentos, havendo da parte dos cientistas um esforço para que as diversas teorias se articulem entre si e sejam coerentes.
Por exemplo: Os historiadores ficariam preocupados se descobrissem que, nas suas análises de um fenómeno do passado como a batalha de Aljubarrota, havia afirmações sobre o relevo da zona incompatíveis com as informações fornecidas pela Geografia.
O senso comum é impreciso, na medida em que normalmente não se exprime de modo rigoroso e quantificado.
A ciência é um saber mais preciso que o senso comum. As diversas ciências, naturais ou sociais, recorrem sempre que possível à Matemática, na tentativa de apresentar resultados rigorosos. Mesmo nas investigações em que não é possível quantificar (a observação psicológica de uma certa pessoa, por exemplo) existe essa procura do rigor.
Por exemplo: É de conhecimento geral que no Norte de Portugal chove mais do que no Sul. O conhecimento científico desse fenómeno é muito mais exacto: no mês de Janeiro de 2003 a precipitação em Faro situou-se entre os 20 e os 40 mm, enquanto no mesmo período no Porto situou-se entre os 350 e os 400 mm (de acordo com o Instituto de Meteorologia).
O senso comum é acrítico. Acrítico significa não reflectido, não examinado. É compreensível que assim seja, pois trata-se de crenças cuja aprendizagem é informal: aprende-se à medida que se vai vivendo e tendo experiências, aprende-se vendo, ouvindo e imitando os outros. Muitas vezes essa aprendizagem é inconsciente: as pessoas não têm noção de que estão a aprender, mas vão interiorizando tradições, costumes, saberes práticos, etc. Tanto podem aprender crenças verdadeiras como crenças falsas e injustificadas (superstições).
Por exemplo: Algumas crianças portuguesas, ao observarem muitas vezes os pais e outros adultos deitarem lixo para o chão, aprendem a fazer o mesmo e interiorizam a ideia de que esse comportamento é correcto. Outras crianças portuguesas – talvez em menor número – ao observarem muitas vezes os pais e outros adultos deitarem o lixo para o caixote aprendem a fazer o mesmo e interiorizam a ideia de que esse comportamento é correcto. Na maior parte dos casos, tanto umas como outras realizam essas aprendizagens sem reflectir, sem discutir: limitam-se a imitar. Ou seja: aprendem acriticamente.
A ciência não pode ser acrítica como o senso comum. Pelo contrário, implica uma atitude crítica por parte dos cientistas. Ou seja: para fazer ciência é preciso reflectir, pensar pela própria cabeça, e ter uma preocupação permanente com a fundamentação das ideias. Os cientistas devem ter essa atitude crítica relativamente às suas próprias ideias e relativamente às ideias dos outros.
Por exemplo: um cientista que queira publicar um artigo científico numa revista tem de submetê-lo a um processo de avaliação que costuma ser chamado “refereeing”: o artigo tem de ser lido primeiro por especialistas da área; o nome destes não é divulgado e estes também não sabem quem é o autor do artigo, para que a crítica possa ser mais livre e imparcial.



 


                                                                                                                                                         Lola 


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