A Busca da Esperança
Reflexões sobre a
educação como necessidade e o caminho da esperança como sua possibilidade
Abstrato/Sumário
A Filosofia como arte
questionadora do real apresenta-se-nos com uma dimensão antropológica incapaz
de assumir o presente comodamente. Neste sentido, pelo seu carácter formativo e
crítico, é enquanto saber e disciplina no ensino secundário que ela surge como
um despertar para o novo, o diferente, o ainda não existente! Será possível
educar para a Esperança? Este ensaio pretende refletir não só a esperança como
possibilidade da educação mas, e sobretudo, o papel da utopia filosófica na e
para a educação numa envolvência indispensável com a ideia de progresso e da
educação como necessidade do humano! Percorremos algumas parcelas dos
pensamentos de Immanuel Kant, Joan-Carles Mélich e Ernst Bloch. Momento após o
qual ousamos propor a educação como modo da elevação do humano.
Palavras-chave:
Utopia, Esperança,
Holocausto, Humanidade, Memória, Educação.
Abstract
Philosophy, as an art that questions that which comprises reality, shows
itself to us as an anthropogenic dimension unable to cozily assume the present.
In this sense, philosophy, by its formative and critic character, as a form of
knowledge and as a discipline, in High School, appears as an awakening to the
new, the different, that which still is not! Is it possible to educate for
Hope? This essay intends to reflect not only about hope as a possibility of
education but and, above all, about the role of philosophical utopias in and
for education in an indispensable engagement with the idea of progress and
education as human necessities! We have roamed along some parts of the thoughts
of Immanuel Kant, Joan-Carles Mélich and Ernst Bloch. There after we dared to
propose education as a means of elevating the humane.
Key words: Utopia, Hope,
Holocaust, Humanity, Memory, Education
Índice
Antes de mais... Pág.
3
Sentidos da Utopia Pág.
4
A natureza humana e a educação como
caminho Pág.
5
Immanuel Kant - Progresso, Educação e
Felicidade Pág.
5
Joan-Carles Mèlich – Educar após o
Holocausto Pág. 7
Ernst Bloch – O Princípio Esperança Pág. 13
Questões póstumas… Pág.
19
Antes de mais...
No contexto atual, longe
da perfeição desejada, surgem várias questões polémicas na sociedade que abrem
espaço para discussões tanto éticas quanto políticas. Na raiz destas estão realidades
trágicas como a violência, a guerra, a miséria, as desigualdades sociais, o
desemprego, o narcotráfico, a sobrepopulação, o aquecimento global, a poluição,
a perda de biodiversidade, a degradação moral e educativa, os problemas de
saúde, a crise dos refugiados, o fundamentalismo religioso, a proliferação das
armas nucleares, o terrorismo internacional, a situação económica e a violação
dos direitos humanos.
A esperança no progresso
da Humanidade e a procura de uma utopia são respostas desafiantes a estas indagações.
No entanto, levanta-se uma questão: será razoável dar alento a tais convicções
no mundo moderno?
Veementemente, o
Holocausto parece inviabilizar tais proposições otimistas. De facto, abstrações
como “progresso” e “razão na história” tendem a afigurar-se como insultos à
memória dos incontáveis milhões de homens, mulheres e crianças inocentes que
fazem desta época tamanho e tão incomensuravelmente profundo vale de lágrimas.
Consequentemente, diversos
autores têm criticado a tese do progresso[1], reprovando o seu carácter
determinístico, a priori, muitas
vezes teológico, acusando limitações ora da natureza humana, ora do meio
ambiente, que segundo estes não pode suportar desenvolvimento económico
indefinido, na medida em que foi
utilizada historicamente para fazer a apologia de massacres e crimes.
Por outro lado, Ernst
Bloch propõe que, enquanto houverem meios para melhorar a condição humana, a
esperança estará sempre resguardada e fundamentada. Por sua vez, Kant propõe
que a educação é um dos grandes motores do progresso. Teremos assim encontrado
uma medida na qual a esperança se justifica na atualidade? Ou seja, em que
medida se justifica a esperança na educação como meio de atingir a utopia?
Assim, resta-nos apenas procurarmos
construir a nossa posição, fundamentando a nossa argumentação em teóricos
conhecidos e acreditados e, procuraremos dar o nosso contributo para esta
complexa e pertinente problemática.
Sentido(s) da Utopia
Uma utopia é uma sociedade
imaginária em que tudo está organizado de uma forma ideal ou superior, pelo que
muitas vezes se utiliza o termo utópico
para denotar reformas visionárias tendencial e excessivamente idealistas.[2]
Assim, uma utopia é uma
proposta de organização alternativa, ora prática, ora especulativa, ora
satírica, uma estratégia de pensamento prospetivo e holístico, que pode
apresentar um caráter de entre imensos, pelo que há um número enorme de utopias
socialistas, capitalistas, monárquicas, democráticas, anárquicas, ecológicas,
feministas, patriarcais, igualitárias, hierárquicas, de direita, de esquerda,
de amor livre, de família nuclear, de família alargada, homossexuais, lésbicas
e de muitas outras tendências, número esse que poderia ser dobrado
acrescentando o prefixo “anti-” a qualquer uma destas palavras.
Por um lado, o termo em si
remete-nos para um dos grandes clássicos da literatura universal, De Optimo Reipublicae Statu
de que Nova Insula Utopia, de Thomas More, já que este foi criado pelo
próprio More para descrever a Utopia, uma ilha ficcional no Oceano Atlântico. A
palavra é um neologismo e vem do grego: οὐ ("não") and τόπος ("lugar") e significa "não-lugar”.
Todavia,
as utopias são mais antigas do que o termo em si. Por isso, o próprio More
recorreu a uma utopia muito anterior, a primeira de que há registo escrito e
que foi o modelo de muitas, Kallipolis,
d’A Republica de Platão,
para construir a sua própria concepção.
A natureza humana e a educação como
caminho
De
facto, já neste primeiro texto de Platão, reconhece-se o papel da enorme importância
da educação na construção do ideal, do utópico. Do mesmo modo, em muitos e
variados textos que se lhe seguiram, de uma forma ou de outra, a educação
acabou quase sempre por colaborar, estando inevitavelmente embrenhada no ainda
não existente, no universo de possibilidades.
Passemos,
entao, à analise de três filósofos que se debruçam empenhadamente sobre a
educação como caminho para a utopia.
Immanuel Kant - Progresso, Educação e
Felicidade
No
geral, Kant era considerado ambivalente quanto ao poder da filosofia para mudar
o mundo[3]. Uma exceção à regra é a
sua opinião sobre a teoria educacional. A Filosofia, acreditava ele, devia
guardar esta ciência: a ciência que devia servir os educadores, como um guia
para preparar bem e claramente o caminho da sabedoria que todos devem
atravessar e assegurar que ninguém tomasse o caminho errado.[4]
Simultaneamente
dogmática e indutiva, como a sua filosofia crítica, a posição Kantiana é característica
de uma época que passava, mas que, ainda assim, apontava para o futuro. Uma pergunta que surgue das
suas reflexões é o chamado “paradoxo-moral”. Este paradoxo prende-se com a
questão de saber como ensinar a autonomia, sendo que esta pergunta é
especialmente urgente no contexto da teoria moral de Kant. Podemos pois
perguntar como é que qualquer processo educacional pode, através de forças que
imponham uma motivação extrínseca, levar um agente a exercer as suas faculdades
de juízo moral de uma forma genuinamente autónoma. Para o filosofo, este
problema seria resolvido através de uma educação que “iluminasse” sem quebrar,
que ensinasse a agir de acordo com princípios, mas também a pensar.
Assim,
a pedagogia Kantiana é uma construção otimística do futuro da humanidade. Nos
seus textos ainda não há preocupações com a hereditariedade bem presente em citações
como: «O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.», e, muito
menos, juízos sobre que alterações deve o currículo dos jovens sofrer mediante
as mudanças no mercado de trabalho, a luta pela vida, a corrida à riqueza, e o
estado da economia. Tudo isso extravasa os limites desta reflexão.
Para
Kant, a educação é a única forma de aperfeiçoar a natureza humana e um meio que
levará a Humanidade a aperfeiçoar-se gradual, continua e continuadamente até
que a natureza humana se torne digna de ser natureza do Homem. No entanto, o
autor admita que é para si difícil determinar quais as capacidades naturais do
Homem, já que algumas são-lhe cedidas pela educação enquanto outras são apenas
trabalhadas por esta, porque são inatas, chegando mesmo a afirmar que as duas
invenções humanas mais difíceis de todas são a educação e o governo, dado que
até o seu próprio sentido é alvo de controvérsia.
Por
outro lado, Kant vê a teoria da educação como um glorioso ideal em nada menos
válido por ainda não ter sido realizado, tal como os ideais políticos. Propõe o
estudo científico e experimental da educação de tal modo que se descubram quais
as limitações da Humanidade, mas também considera a educação uma arte, dado que
se desenvolverá gradualmente ao longo de muitas gerações, o que não impede que
algumas gerações tenham de romper com as tradições dos seus antepassados.
Assim,
para Kant, cabe à educação desenvolver a tendência natural da Humanidade para o
bem e os dons naturais de cada um, levando-os a concretizarem os seus destinos, a missão humanística da educação impede-a de
ser uma resposta aos problemas mais imediatos do presente devendo, pelo contrário,
dedicar-se à Humanidade e à realização do destino desta, ou seja, ao progresso,
que seria conseguido educando-se a Humanidade.
Por esta mesma razão a
educação não deve ser confiada nem aos pais dos alunos nem aos governantes já
que estes a distorceriam tendo em vista os seus próprios fins: as escolas
deviam, assim, depender completamente do julgamento dos mais esclarecidos
especialistas, pois para Kant, toda a cultura começa com um indivíduo que
gradualmente influencia outros através dos esforços de pessoas de mente aberta,
que se interessam pelo bem comum e capazes de conceber uma melhor condição da
Humanidade no futuro, podendo o progresso gradual da Humanidade virar-se em
direção aos seus fins.
Quanto ao conteúdo de uma
tal educação, Kant propôs:
·
Primeiro,
que fosse dada aos rapazes, já que estas reflexões ainda ignoram o género
feminino, simultânea e gradualmente consciência da desigualdade social e da
igualdade entre todos os homens;
·
Que
estes fossem educados para a bondade e sabedoria, que lhes permitiria atingir a
felicidade;
·
Que
fosse encorajada a alegria, a boa disposição e a moderação no temperamento.
·
Que
se ensinasse às crianças a sentirem-se felizes pelo progresso da Humanidade
como um todo, mesmo quanto este não as beneficiasse a elas diretamente ou ao
seu país.
·
Que não tenham demasiada estima pelo aproveitar daquilo que a
vida tem de bom.
·
E, finalmente, que aprendam a estimarem-se em absoluto, pela
sua dignidade humana e não relativamente a outros.
Em síntese, Kant propõe a educação
como aspeto central ao progresso na medida em que permite o desenvolvimento
pleno das faculdades naturais da Humanidade[5].
Joan-Carles Mèlich – Educar pós
Holocausto
Neste momento, surge com
pertinência abordar as inquietações antropológicas de Mèlich[6] dado que, como alguns autores
defendem o projeto iluminista falhou e, provavelmente, olhar para o futuro não será o suficiente.
Joan-Carles Mèlich coloca
uma questão tão inquietante quanto tangível: É possível pensar em educação, da mesma
forma, antes e depois do Holocausto Nazi? Através da leitura de alguns relatos
de sobreviventes do Holocausto [7], Mèlich examina as
condições da possibilidade de ética e pedagogia após Auschwitz.
Mèlich descreve Auschwitz
como um espaço novo, um espaço desconhecido até agora, onde a morte torna-se
indiferente, um espaço onde não se vive nem se morre, um espaço onde tudo é
possível, um espaço onde o imaginário é possível. É um espaço indizível, uma
realidade perante a qual a linguagem se mostra insuficiente.
"Auschwitz" é um
evento que rompe a História e nos obriga a repensar radicalmente todas as
categorias filosóficas e pedagógicas. É um acontecimento. E porquê?
Mèlich distingue dois
conceitos: facto e acontecimento. Cada dia, ocorrem diversos factos no mundo
sem que as pessoas tenham sequer consciência dos mesmos. A vida segue
independentemente deles. Acontecimento é um género de facto que nos forma e
transforma. O acontecimento é transformador ou deformador, pode levar-nos ao
êxito ou ao fracasso.
O acontecimento é uma
brecha no tempo. Depois dele, nada é nem será como antes. O evento abre um
antes e um depois na História, ou seja, face aos terríveis acontecimentos do
século XX, as velhas categorias e os conceitos antigos que permitiam a
compreensão do mundo, tornaram-se obsoletos.
O Holocausto serviu para
descobrir a cultura da “desumanidade”. A refrigeração
do século XX consiste na ideia de que a Humanidade se esqueceu do ser racional
e que se manifesta apenas nas desajeitadas e atrapalhadas efusões de um animal
desprovido de um cérebro necessário para conter a maioria dos seus impulsos.
Nos campos do extermínio o
Homem caiu no limiar mais precário da desumanidade o que significa significa
que a questão que se deve colocar não é: “Onde estava Deus em Auschwitz?” mas
sim, “Onde estava o Homem em Auschwitz? Onde estava a Humanidade?”
“Se
a vítima não tiver direitos sobre o criminoso, deixará de haver justiça;
deixará de haver humanidade.”
José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira[8]
A Shoah[9]é um evento que abre uma
lacuna no tempo. Depois dele, nada pode ser o mesmo. Mas acima de tudo, os
meios que possibilitaram o Holocausto tornam aquilo que parecia impossível em
algo real o que nos Coloca perante o fim da humanidade de um modo grotesco quase
inimaginável.
Por outro lado, é
necessário repensar a forma como encaramos a subjetividade. conceito este que
ganha um novo sentido em Mèlich, que a encara sob a forma de heteronomia. É a
resposta à busca do rosto do Outro, da sua fragilidade, da sua vulnerabilidade
e do seu sofrimento.
Para a filosofia, a
educação é uma das questões fundamentais deste início do milénio: “Como pensar a
ação educativa depois dos terríveis acontecimentos do século XX?”
O autor aborda a questão
de uma forma crua e dura. Apresenta a necessidade de valorizar a dimensão ética, repensando e propondo um ato educativo que
promova a discussão e a reflexão sobre o sentido e a natureza dos projetos de
educação nas sociedades contemporâneas do mundo pós-guerra.
Que oportunidades de
aprendizagem e de desenvolvimento é que se proporcionarão às crianças e aos
adolescentes do séc. XXI? Qual o sentido educativo desses projetos e que
implicações futuras é que estes poderão vir a ter sobre a vida das pessoas e
das organizações?
Noutra perspetiva, a
sociedade atual ainda persiste em dar continuidade a dicotomias decadentes e
bloqueadoras, rivalidades que algum cartesianismo pedagógico cimentou e que
continuam a perdurar nos nossos discursos e nos nossos atos.
Ora, a conceção cartesiana
do mundo ainda continua a exercer uma enorme influência na nossa sociedade. A
educação escolar, como parte dela, também recebeu influências em muitos dos
seus aspetos. Um exemplo é a fragmentação das disciplinas académicas que, frequentemente,
nos impedem de operar os vínculos entre as partes e o todo. A especialização do
ensino em disciplinas impede tanto a perceção do global quanto do essencial que
ela dissolve. A escola também dá ênfase à mente (cérebro) como a única
responsável pela aprendizagem, parecendo ainda acreditar ser possível
desconsiderar o “corpo” no processo de aprendizagem.
Experiências de
aprendizagem cognitiva versus experiências de ordem afetivo-emocional? Com que
justificação e fundamento? Educação técnica versus educação ética?
Então,
Como educar depois de Auschwitz?
Através de um algoritmo, da escrita de um texto, talvez mesmo através de
exercícios aborrecidos, e aparentemente sem sentido, de Biologia ou de
História?
É necessário um sistema
que assuma de facto a alteridade como eixo fundamental dos projetos de educação
contemporâneos. Algo que valorize o Homem na sua vertente social e que lhe
possibilite ter uma relação de interação e dependência com o OUTRO. O
"eu" mesmo na sua forma individual só pode existir através de um
contato com o OUTRO, algo que permitirá, em última análise, conferir uma outra
credibilidade e uma outra utilidade às intervenções educativas nas sociedades
em que vivemos.
Educar é abrir-se ao tempo e espaço
para que o OUTRO possa surgir e existir. Uma relação educativa é um encontro
entre duas pessoas concretas, que se encontram cara a cara: falam, escutam e
ajudam-se mutuamente.
Como os encontros podem ser de
distintos tipos, como podemos distinguir uma relação educativa de outros tipos
de relação? O que caracteriza a educação?
Para o autor, sem ética
não há educação, há apenas domesticação de cérebros. A ética é o critério de demarcação
de uma relação educacional. Por outro lado, este afirma que é difícil definir
ética, já que existem distintas linhas, posturas e modos de conceptualizá-la.
Para o filosofo catalão, a ética não tem uma linguagem própria, a linguagem da
ética é a estética e só se poderá
falar de ética eticamente, porque ela está mais próxima da paixão do que da
razão. Não se pode falar da ética, somente é possível mostrá-la.
Outra dificuldade inerente
à educação passa pelo modo como encaramos e ensinamos a encarar o tema da
diversidade. O tema faz parte da pedagógica atual, é habitual falar sobre
aprender a tolerar as diferenças. Mas, há um tipo de relação de tolerância da
diferença que acaba por converter-se em indiferença. O importante, do ponto de
vista ético, não é tolerar o OUTRO como diferente, mas sim a relação
estabelecida com essa diferença. A Ética começa quando alguém é capaz de ser
“deferente” com o outro, ou seja, ocupar-se do outro, atende-lo, cuidá-lo,
acolhê-lo. O autor converge com a ética
da hospitalidade de Levinas.[10]
Há um “antes” e um
“depois” de cada encontro, de cada momento. O sujeito é transformado pelo
encontro educativo. E este é-lhe dado desinteressadamente pois a educação como
um acontecimento ético não é um intercâmbio, porque não depende da
reciprocidade: quem oferece deve fazê-lo
sem esperar nada em troca. Assim, o que faz com que a educação seja um acontecimento
ético, é que nada volta a ser como antes. Todos os encontros são únicos,
insubstituíveis, incomparáveis. Não há o que devolver e não há porque o repetir
para que o OUTRO devolva o bem que lhe foi dado.
A educação é a
configuração de uma identidade, de um si mesmo que nunca é de todo ele mesmo.
Nesse sentido, parafraseando e transformando Kant, um dos imperativos
pedagógicos fundamentais é: chega a ser quem ainda não foste!
Assim, deve-se partir de
uma subordinação da autonomia à heteronomia, da liberdade à responsabilidade,
onde devemos dar lugar à memória, que possibilita a imagem do OUTRO que não
está presente face a face, mas sim pelos relatos da barbaridade do Holocausto.
O autor propõem
compreender a identidade humana não apenas como diferença, mas deferência, como
hospitalidade ao OUTRO que, no caso das histórias do Holocausto, é uma ausência
que, através da leitura e da memória, se mantem viva, de modo a evitar que algo
tão trágico aconteça novamente.
No Holocausto é perceptivel
que o ser humano não é encontrado nem no direito, nem no dever, nem na
sociedade, nem em Deus, nem se quer no eu. O ser humano está no Outro. Um
sujeito, uma identidade edificada na margem do OUTRO, contra o outro, não é uma
identidade humana.
“À
humanidade? À humanidade nós não lhe interessamos. Hoje tudo é permitido. Tudo
é possíveis inclusive os fornos crematórios.” ElieWiesel,
La nuit
Como Reyes Mate[11] diz, a descoberta do OUTRO
como primeiro princípio da configuração de ética da subjetividade é o ponto de
viragem deste novo humanismo – descrito por Levinas como humanismo do OUTRO
homem. É um humanismo que reconhece a ética como uma prioridade na ontologia, o
que torna a ética fulcral e com um papel prioritário na filosofia.
A identidade humana quando
sujeita ao Holocausto torna-se numa identidade narrativa, uma identidade que é
evocada e causada pelo OUTRO, um OUTRO que pode estar presente face a face ou
mesmo ausente como é o caso dos relatos de vida das vítimas do Holocausto. No
fundo, a vida de uma pessoa centra-se numa narrativa, pode ser descrita.
Responder à pergunta “Quem?”
é contar a história de uma vida. Daí que na construção da ética da identidade,
a memória desempenhe um papel fundamental. A memória permite, para além da
construção de um novo humanismo, também, de algum modo, trazer justiça às
vítimas do passado.
A testemunha, o
sobrevivente, são indivíduos específicos, seres de carne e osso, capazes de
amar, de viver, morrer, sofrer e recordar. É uma história que não pode ser
esquecida, é um assunto que constrói a identidade dos indivíduos na medida em
que a lembrança do passado, a fim de antecipar um futuro justo, estará sempre
presente. A Identidade, após o Holocausto, é construída em memória das vítimas.
O esquecimento é a morte.
Envolvido no esquecimento, o homem sucumbe ao poder constituído. Lutar contra o
esquecimento significar opor-se ao poder: "A luta de um homem contra o
poder é a luta da memória contra o esquecimento ", escreve Milan Kundera.[12]
O OUTRO, que não se pode
esquecer, torna-se num novo imperativo depois de Auschwitz. O OUTRO é sempre
alguém e alguma coisa, tem um nome próprio. É na memória que a identidade
começa a ser humana. A identidade, depois do Holocausto, passa através da
memória e da história.
O Humano enfrenta assim um
imperativo implícito na construção da identidade humana: Lembrar! Mas “lembrar”
não deve ser entendido apenas com o significado de que o passado não volta.
Não. É ir mais longe e perceber que o
“Lembrar” é a base de uma teoria de justiça, ética ou mesmo política. Talvez
até uma teoria pedagógica. O Lembrar funciona como uma referência ao futuro, o
futuro que está por vir, ao nascimento de uma geração baseada neste princípio.
Devemos evitar que o que
aconteceu re-aconteça. É urgente a construção de uma educação que tenha como um
dos propósitos fundamentais a preocupação que algo como Auschwitz não se
repita. Auschwitz é o fracasso do velho “humanismo”, o fracasso do Iluminismo,
o fracasso da cultura ocidental. De Auschwitz nasce uma nova visão da
identidade não centrada no cuidado do eu, mas sim no cuidado do OUTRO, em deferência.
De Auschwitz nasce uma
ética de hospitalidade, de acolher os outros, de quem não tem nada mas a quem
todos devem, de alguém que está ausente, que não está vivo, mas a quem devemos
continuar a dar hospedagem pelo simples acto de lembrar. Ao lembrá-lo, estamos
a fazer justiça e estamos a mantê-lo vivo porque a morte não é mais do que
isso, o esquecimento.
Como no livro do
Apocalipse onde a velha ordem é destruída pelo fogo que atua como elemento
purificador. Também para Mèlich a revolução-pós Holocausto que surge depois da
destruição, ressurge a humanidade, como uma Fénix pelas cinzas de outrora.
A esperança num novo humanismo baseado
na educação, na memória e no OUTRO está presente na visão de Mèlich que surge
como proposta de solução aos eventos desumanos do séc. XX .
Ernst Bloch – O Princípio Esperança
Ernst Bloch (1885-1977) tem o objetivo
de elevar a filosofia até à esperança - “um lugar do mundo tão habitado quanto
as terras menos cultivadas e inexploradas da Antártida”[13].
Com a sua obra “O
Princípio Esperança”, mais conhecida por “enciclopédia da esperança”, primeira
de uma série de três volumes, Bloch aposta na esperança e reafirma a força dos
resistentes. Este livro foi escrito entre 1938 e 1947 enquanto a humanidade
vivia tempos de grande destruição (Segunda Guerra Mundial).[14]
Para concretizar o seu
objetivo, este filósofo tenta responder a questões fundamentais, tais como:
·
Quem
somos? De onde viemos? Para onde vamos? O que esperamos? O que nos espera?
Para além disso, foi capaz
de reconhecer os problemas da sociedade em que vivia e ainda tentou resolvê-los com base no Princípio
Esperança que explicaremos detalhadamente mais à frente.
De uma forma sucinta, a
sua grande finalidade é eliminar estes problemas e, portanto, alcançar uma
utopia socialista através da esperança com função utópica.
O Princípio Esperança
engloba inúmeros conceitos de onde destacamos os mais relevantes: os sonhos, os
desejos, a possibilidade, o futuro, a utopia e obviamente, a esperança.
Como maior parte dos
filósofos, Bloch começa por colocar em questão a estrutura da realidade
(objetos finitos) e a estrutura mais íntima do Homem, incluindo a sua relação
com o mundo, onde se reflete a possibilidade da realização da esperança que há
em si, sendo a esperança a energia vital e entrópica que nos move em função da uniformização
do que somos e do que queremos ser, permite-nos também nunca atingir o zero
absoluto perante as situações mais adversas. Ao analisar certas situações
adversas percebe que dois dos principais problemas da sociedade são o facto de
vivermos contaminados pelo ontem e pelo senso comum que anestesia a nossa
grandiosa imaginação e a rotina do quotidiano que nos mata aos poucos.
Estamos preparados agora
para explicar o conceito de futuro em Bloch, para este filósofo existem dois
tipos de futuros: o futuro autêntico e o futuro inautêntico, a esperança
funda-se apenas no futuro autêntico.[15] No íntimo deste futuro
autêntico, Bloch esperança[16] uma utopia que está
presente nos grandes e pequenos movimentos sociais.
Para atingirmos esta
utopia futura, é necessário sabermos o que nos coloca em movimento no presente
e o que permite a concretização da esperança. Há três fatores que nos fazem ser
seres dinâmicos: o tempo, a possibilidade e o trabalho. O Homem é um ser do
tempo e no tempo, na busca da elaboração de um princípio de identidade no
espaço da possibilidade impregnada do pressentimento de liberdade futura.
A possibilidade tem como
fim último tornar-se uma imagem de esperança de um mundo melhor e funciona como
ponte de ligação entre o passível e a utopia, juntamente com a realidade e a
matéria, esta funciona como base permanente da esperança. Estes três conceitos
são o suficiente para que existam manifestações da esperança e que estas sejam
vistas como ideais estimulantes pelo Homem e para que este se aperceba que é a
possibilidade real de tudo aquilo que foi ao longo da história e sobretudo o
que ele pode ser graças ao livre progresso. Por último, através do trabalho o
Homem humaniza a natureza e é humanizado pela mesma.
Outro aspeto importante em
Bloch são os desejos, que têm como principal função alimentar a esperança[17] e a vontade de seres
desmesurados, complexos e insatisfeitos; os seres humanos. Geralmente,
desejamos sem saber o quê, sem saber como desejar, desejar é algo que permanece
além do nosso alcance, exigindo liberdade infinita e interior. De forma
paradoxal, a satisfação das nossas privações não nos conduz ao apaziguamento
mas leva a novos desejos e o excesso de objetos de desejo conduz a um desejo
ainda maior[18]
De acordo com Bloch: “O desejo lancinante do melhor mantém-se e subsistirá,
quaisquer que sejam os entraves que se oponham a este”.
Qual o estatuto dos sonhos
em Ernst Bloch, mais propriamente os
sonhos de uma vida melhor; os sonhos de uma utopia? O sonho é a base da
existência autêntica e inautêntica, funcionando como ponto de partida e tendo
como finalidade comandar a vida e motivar a ação. Do ponto de vista deste
filósofo existem dois tipos de sonhos: os sonhos diurnos e os sonhos noturnos[19]. Os sonhos diurnos podem
proporcionar ideias que não pedem interpretação e sim elaboração, sendo
sonhados por um eu consciente que suspende o sonho quando quer, estes são os
sonhos que Bloch salienta. Os sonhos noturnos são de carácter regressivo pois
não são verdadeiras realizações de desejos, são apenas as recordações do
passado que são revividas devido à nossa necessidade de sonhar, são deformadas
pelo tempo. Pelo contrário, os sonhos diurnos são de carácter antecipador, onde
o ser humano implica-se a si próprio e aos outros. É de salientar que só a
exposição dos sonhos ao mundo é o suficiente, onde são expostos a testes e onde
é possível atingir a sua concretização. Assim, o ser humano não busca a
sonolência mas sim a viagem.
Como já foi referido,
Bloch ambiciona uma utopia como solução dos problemas da atualidade, não são
aos que já foram referidos mas também a inúmeros outros que irei explicar. Numa
utopia teria que existir um equilíbrio entre a cultura tecnológica e o Homem,
algo que não se visualiza hoje em dia. Atualmente, o Homem desligou-se dos fins
a atingir pois estes são assegurados pelas máquinas[20]. A tecnologia provocou a
total instrumentalização da sociedade em prol de maior rapidez, fazendo com que
o ser humano desvalorizasse a esperança. Outro problema, desta vez alertado por
K. Manheim é o individualismo, que faz com que esqueçamos a noção de sociedade.
O nosso processo de personalização têm-se tornado cada vez mais
incaracterizado, onde há uma crescente fuga do compromisso para com a
comunidade, levando a que o papel do sujeito como célula fundadora da sociedade
esteja em vias de extinção.
Um outro parâmetro
importantíssimo que não podemos deixar de referir para atingir a utopia de
Ernst Bloch é a educação e fazemo-lo com esta citação de Ernst Bloch: “A teoria
mecanista do melhor afirma que os homens são produtos da circunstância e da
educação, logo, consequentemente, os homens transformados são produtos de
circunstâncias e educação modificadas. Mas os homens transformam as
circunstâncias e até o educador precisa de ser educado”
Como podemos verificar a
partir desta citação, a educação é vista como uma abertura de possibilidades
pois é a responsável pela interação entre os grupos humanos que colaborarão
para a elaboração de um mundo melhor. Deste modo, a educação é a antecipação de
uma sociedade dinâmica, uma sociedade utópica.[21]
A verdadeira utopia que
Bloch ambiciona é caracterizada como sendo o ponto de equilíbrio absoluto entre
o ser e o dever-ser, entre o lugar e o não-lugar, surgindo de uma antecipação
de mudança a partir da aprendizagem das estruturas sociais, culturais,
históricas, políticas. A vontade utópica não se deseja no infinito- quer o
imediato mas a vontade e o positivismo não são o suficiente, é necessária uma
ação. Posto isto, a experiência utópica é a capacidade de distanciação do real,
desvendando a esperança que há em nós.
É possível relacionar a
utopia ambicionada por Bloch com os sonhos acordados de uma vida melhor, de
facto, estes sonhos tocam tangencialmente a utopia, sendo definidos como a mais
exata experiência imaginária possível de perfeição, não esquecendo que quando
sonhamos um mundo melhor para nós, inconscientemente também sonhamos com um
mundo melhor para o outro.
De acordo com E. Bloch:
“Imaginação utópica é a consciência do estado das coisas alimentada do desejo
de mudar o mundo numa certa direção”. Esta utopia é encarada como o horizonte
de toda a realidade.
Dentro desta utopia, Bloch
sugere uma igualdade social onde aquele que trabalha é recompensado pelo seu
trabalho, ou seja, o sujeito não deve idealizar o fruto do seu trabalho mas sim
projetá-lo; relembra, também, a importância da solidariedade para o Homem,
necessária para a conservação de si próprio. Apesar do Homem reunir todas as
condições à sua satisfação, precisa de ser solidário para que haja um crescente
desenvolvimento humano.
Por último, refere que
para uma crescente humanização social e para o alcance da liberdade, para além
do trabalho recompensado, é necessária a existência de uma sociedade sem
classes [22],
de uma cultura com conteúdos de esperança materialista e da criação de novas
imagens[23]
Para Bloch, a morte é a
única capaz de retirar todo o sentido à vida pelo simples facto de eliminar
toda e qualquer possibilidade de o alcançar. Podemos concluir a partir deste
facto que a experiência do mundo é sempre intencional.
Bloch termina a sua obra
dizendo que o mais importante de tudo não é quem somos ou o que somos mas saber
quem seremos e como chegar a sê-lo, realçando que o único caminho a percorrer
para desvendar este mistério é o caminho da esperança. Podemos ainda comparar a
perspetiva deste filósofo com Gabriel Marcel que diz que “esperar é dar crédito
ao universo”, ou seja, a esperança vai para além do limite empírico e meramente
objetivo. A esperança orienta-nos para além do tempo!
Neste sentido, “a essência
não é aquilo que já foi, pelo contrário, a essência do mundo está, ela mesma,
na vanguarda.”
Conclusão
Educar
para a Esperança?
Sim. A utopia surge na
contemporaneidade como força capaz de des-construir o presente, lançando-se para
além do espaço e do tempo. "As utopias dirigem-se à comunidade humana no
seu conjunto, a toda a terra, e não apenas a um meio geográfico e temporalmente
fechado"[24].
Questões póstumas...
Ao
longo deste ensaio, procuramos refletir sobre a relação entre educação,
esperança e utopia e, embora sejam várias as divergências entre as teorias dos
autores abordados, procuramos fazer dessas discordâncias complementos ao nosso
pensamento, na medida em que tentamos que nos proporcionassem a possibilidade
de construirmos as nossas próprias aceções.
Por
um lado, Mèlich, que se destaca entre os teóricos analisados por questionar o
progresso, é crítico da ideia de utopia, pois acredita que o velho “Humanismo”,
a Cultura Ocidental e o Iluminismo falharam, embora admita o papel da educação
enquanto arquiteta de uma nova sociedade pós-Auschwitz.
Por outro, embora a
ocorrência de acontecimentos como o Holocausto possam levar-nos à crítica do
Humanismo pré-Auschwitz, nós recusamo-nos a nos resignarmos ao pessimismo,
pois, segundo Kant, a natureza dolorosa e descontínua do progresso, permite,
infelizmente, que estes massacres ocorram, continuando a Humanidade não
obstante num trajeto ascendente. Ainda assim temos de recusar que este seja uma
certeza, como Kant e Hegel propunham.
Portanto,
alinhamo-nos com Kant e Bloch, quando estes afirmam o papel da educação como
motor do progresso, e reconhecermos a esperança no progresso e a possibilidade
de utopia.
No entanto, não podemos afirmar saber
que a Humanidade elevará a sua condição no futuro, tomamos apenas a posição de
que a procura ativa da utopia é um intento não só louvável como fundamentado
racionalmente.
“Deixo
Sísifo no sopé da montanha! Encontramos sempre o nosso fardo. Mas Sísifo ensina
a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também
julga que tudo está bem. Esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril
nem fútil. Cada grão dessa pedra cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de
noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta
para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.” – Albert
Camus, O Mito de Sísifo
Por outro
lado, este excerto de Albert Camus aponta para a possibilidade de justificarmos
racionalmente a procura ativa do progresso, mesmo quando a elevação da condição
humana se torna muito dificil e dolorosa.
Se é verdade que não
podemos antever um Sísifo esperançado, temos de acreditar que, desde o sopé da
montanha, podemos lutar para atingir os píncaros num esforço contínuo e continuado
de buscar a Esperança!
Assim, refletir a
Esperança na e para a educação deverá ser entendida como um horizonte de
possibilidades, não um devaneio pretensioso mas sim um olhar comprometido com a
humanidade!
A esperança perante o que
é, na medida em que transcende o real e o empírico, permite-nos dar o salto
para o que deve ser, ou seja, a educação orienta
a busca esperançada de utopia.
Seremos
nos capazes desta busca incessante?
Bibliografia
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hospitalidade. Barcelona:Anthropos,2000.
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fenomenológica de la educación, Vol.160 Barcelona: Anthropos, p. 30-32
CARNEIRO, Alexandra M. Pereira. O possível e a esperança, Reflexões sobre a
educação como necessidade humana e da esperança como seu fundamento a partir da
leitura da obra de Ernst Bloch, «O princípio esperança», Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, Setembro de 1999.
CARVALHO, Adalberto Dias (Org.) - Problematicas
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CAMUS, Albert, O Mito de Sísifo, ensaio sobre o
absurdo. Ed. Livros do Brasil, pp. 121-127, 2000.
[1]São exemplo disso autores como Baltasar
Gracián, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Giacomo Leopardi,
Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, Albert Camus, Theodor Adorno, Walter Benjamin, Samir Amin, Jared
Diamond eRonald Wright.
[2] OS EDITORES DA ENCICLOPÉDIA
BRITANNICA ‐ Utopia,
Ideal community [Em linha]. Chicago, Illinois: EncyclopædiaBritannica, Inc.
[Consult. 28 de Maio de 2016]. Disponível em WWW: <URL:
http://www.britannica.com/topic/utopia>.
[3]Klas Roth and
Chris W. Surprenant‐ Kant
and Education: Interpretations and Commentary [Em linha]. Routledge. [27/05/2016]. Disponível em
WWW:<`URL: http://ndpr.nd.edu/news/29530-kant-and-education-interpretations-and-commentary/>.
[4]Na restante análise da teoria
pedagógica de Immanuel Kant recorremos à obra Kant on Education (über Pädagogik) de Immanuel Kant.
[5]Meek Lange,
Margaret - "Progress" [emlinha], The Stanford Encyclopedia of
Philosophy (Spring 2011 Edition), [Consult. 28/05/2016]. Disponível em WWW: <URL: http://plato.stanford.edu/archives/spr2011/entries/progress/>.
[6]Joan-Carles Mèlich (Barcelona, 1961) é
doutorado em Ciências da Educação e professor de Filosofia e Antropologia da
Educação na Universidade Autônoma de Barcelona. Estudou as consequências morais
e éticas dos campos de concentração europeus e elaborou uma conceção pedagógica
baseando-se na lembrança do passado. Segundo o autor, a Humanidade não deve
esquecer os horrores que o ser humano pode cometer. No entanto, não deixa de
acreditar na possibilidade de humanismo (na verdadeira aceção do termo), desde
que este seja construído na base de um poderoso instrumento: a educação.
.
É autor de inúmeros livros escritos em catalão. Tem textos publicados em vários
países e é estudado em diversas faculdades de educação.
[7] Os relatos dos sobreviventes estão descritos
no artigo Narración y hospitalidade
do autor.
[8] Esta citação de José Saramago corrobora a
ideia de que a humanidade é totalmente perdida em eventos como este. Daí a
designação de “desumanidade”.
[9] Termo da língua
iídiche usado para definir o holocausto judeu.
[10] Emmanuel Levinas foi
um filósofo francês nascido numa família judaica na Lituânia.
[11]Manuel-Reyes Mate
Rupérez (Pedrajas
de San Esteban, 6 de Janeiro de 1942) é um filósofo espanhol, que
se dedica à investigação da dimensão política da razão, da la Historia,da religião e da memória
e o papel da filosofia depois do Holocausto e Auschwitz.
[12] Em uma frase já
célebre, o escritor tcheco Milan Kundera afirma que “A luta do homem contra o
poder é a luta da memória contra o esquecimento” (Kundera, 1987, p.10).
[13] Esta nota de rodapé
pretende realçar o facto de a esperança ter sido sempre um conceito
desvalorizado pela sociedade inativa em que vivemos.
[14] De facto, é
interessante relacionar a Segunda Guerra Mundial com as obras filosóficas
produzidas durante esta. Não será por acaso que também neste período escreveu
Albert Camus O Mito de Sísifo. Em
suma, obras estoicas para tempos estoicos.
[15] Futuro autêntico-
“ainda-não”- ainda não está objetivado
Futuro inautêntico- limite do
dado-materialista-manifestações aparentes da esperança.
[16] Neste ponto, é importante realçar a diferença
entre “esperar” e “esperançar” Distinção entre espera e esperança. Esperançar é
mais complexo que esperar.
[17] Esperançar é agir de
modo proactivo, esperar é esperar passivamente, sem agir, sem tomar iniciativa.
[18]“O ser humano
permanece como uma promessa por cumprir”-N.Grinaldi, Letempsetle désir,p.7
[19] Bloch critica
psicanálise de Freud- “uma psicanálise que considera todos os sonhos apenas
como caminho para o reprimido e a realidade sendo apenas a da sociedade
burguesa e do mundo existe para ela, pode tranquilamente definir os sonhos
diurnos como meros prelúdios dos sonhos noturnos.”
[20] O poder das máquinas
está expresso nesta citação. “A falta de liberdade não se apresenta como um
facto irracional ou um facto que tem contornos políticos, traduz sim o fenómeno
de submissão a um aparelho técnico que fornece mais conforto à vida e favorece
mais produtividade no trabalho”- Helbert Marcuse, L’hommeunidimensionnel, p.182
[21]Segundo AdalbertoDias
de Carvalho:“A educação serve, pois, a construção de um homem definido pelo seu
futuro: antecipa humanidade futura-o que lhe confere sentido-porque o homem tem
necessidade da educação para concretizar a sua liberdade e se instituir como
ser moral”
“O estatuto social, político e
ideológico da educação, se não é, por si, um facto novo, conhece, porém uma
alteração profunda ao ser considerado e explicado largamente segundo óticas que
em muito ultrapassam as simples preocupações pedagógicas”
[22] Bloch dá como
exemplo de uma sociedade sem classes, a sociedade da internet.
[23] Analogia com o relato de Thomas Bernhard de
que, quando voltou à escola depois da guerra, percebeu que tinham substituído a
fotografia de Hitler por um crucifixo. O prego, contudo, era o mesmo. Mudar o
prego significa sonhar com um mundo melhor e a criação de novas imagens, já que
o princípio esperança de Bloch aposta no que ainda não-veio-a-ser.
[24]Carvalho,
A., D., Utopia e Educaçao, p.25
Ensaio concorrente à II edição de Ensaio Filosófico no Ensino Secundário da Associação de Professores de Filosofia...
... e que não ganhou!
Obrigado aos autores, alunos do 11°ano:
Pedro Miguel Brandão Duarte Justo
Gonçalo Manuel Gomes Rocha
Liliana Vasconcelos Pinho Ferreira
Prof. Orientadora: Rosa Sousa
Muito Orgulhosa do trabalho que, empenhada e reflectidamente construíram!
Foto Rafael Barbosa |
Lola
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