Ciência e Filosofia
Por quê falar de filósofos?
Os conceitos da física
confundem-se com os conceitos debatidos pelos filósofos e, não raras vezes, a
filosofia é a fonte do entendimento acerca das questões mais intrincadas desta
ciência.
Neste curto artigo, um físico faz
uma interessante defesa da filosofia. Os físicos, diz o autor, devem à
filosofia não a solução de uma equação ou a rapidez no processamento dos
resultados de um experimento, mas sim a discussão detalhada daqueles que são
propriamente os objetos de estudo da física.
"Um equívoco comum acontece
quando a filosofia é julgada em relação a sua utilidade para os cientistas. 'Eu
nunca tive que usar a filosofia em minha própria pesquisa', o físico pensa, e
conclui que a filosofia, portanto, não deve ser útil a todos. E, de fato, a
grande maioria das pesquisas em física [...] funcionam perfeitamente bem sem
qualquer entrada filosófica. [Mas] a filosofia não visa tornar o cálculo mais
fácil, mas esclarecer questões fundamentais. E essas questões podem ser de
importância central para os físicos. Como podemos calcular probabilidades em um
multiverso com muitos observadores idênticos? O que queremos dizer quando
falamos de uma 'medida quântica'? Como explicar melhor a diferença entre o
passado e o futuro? Estes são os tipos de perguntas que os filósofos podem
fazer [...] precisamente porque eles são especialistas em uma espécie rigorosa
de análise conceitual que é completamente desnecessária para grande parte da
física."
Por que falar de
filósofos?
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Na imagem, o físico Sean Carroll. |
Por Sean Carroll
Astrofísico e Físico Teórico da California Institute of Technology
Física e filosofia, cada uma tem uma
série de objetivos diferentes, mas ambas aspiram a desenvolver uma compreensão
mais completa e abrangente da realidade. Os físicos, às vezes, menosprezam a
ideia de que a filosofia tem um papel útil a desempenhar nesta busca –
geralmente porque eles não entendem o que a filosofia é, e o que ela pode
trazer de bom.
Um equívoco comum acontece quando a
filosofia é julgada em relação a sua utilidade para os cientistas. “Eu nunca
tive que usar a filosofia em minha própria pesquisa”, o físico pensa, e conclui
que a filosofia, portanto, não deve ser útil a todos. E, de fato, a grande
maioria das pesquisas em física (e de outras ciências) ao longo do tempo,
funciona perfeitamente bem sem qualquer entrada filosófica. Se você deseja
calcular a temperatura de uma fase de transição, ou a amplitude de espalhamento
entre duas partículas, o seu primeiro movimento não vai ser chamar o seu amigo
filósofo.
Note, no entanto, que essas tarefas
compartilham uma propriedade fundamental: elas são bem definidas. A filosofia
não visa tornar o cálculo mais fácil, mas esclarecer questões fundamentais. E
essas questões podem ser de importância central para os físicos. Como podemos
calcular probabilidades em um multiverso com muitos observadores idênticos? O
que queremos dizer quando falamos de uma “medida quântica”? Como explicar
melhor a diferença entre o passado e o futuro? Estes são os tipos de perguntas
que os filósofos podem fazer – e, como uma questão de fatos históricos, já
fizeram – uma contribuição real, precisamente porque eles são especialistas em
uma espécie rigorosa de análise conceitual que é completamente desnecessária
para grande parte da física. Como escrevi aqui: “Os físicos tendem a expressar
uma certa frustração pelos filósofos, precisamente porque eles se importam
muito com as palavras [definições]. Os filósofos, por sua vez, tendem a se
irritar com os físicos, porque na maioria das vezes, eles usam palavras o tempo
todo sem saber o que elas realmente significam.”
Isto nos leva diretamente para outro
erro comum entre os físicos: que os filósofos desperdiçam seu tempo com
questões de grandes sonoridades que podem não ter respostas reais. Talvez, o
“erro” não seja a palavra certa – algumas dessas perguntas são um desperdício
de tempo, mas os filósofos, por vezes, se apegam a elas. (Assim como os
físicos, por vezes, gastam seu tempo em questões que são chatas.) Mas os
filósofos, em contraste com os cientistas, nunca usarão “não sei o porquê, mas
ela funciona” ou “não entendo isso completamente, mas bem o suficiente” para
uma resposta. A busca pela clareza absoluta de descrição e compreensão
rigorosa, é uma característica fundamental do método filosófico.
E estas perguntas de “efeito” são
importantes. A ciência, muitas vezes, nos dá modelos de mundo que são mais do
que suficientes, em termos de obtenção de respostas que se encaixam nos dados,
dentro das barras de erro, embora nem sempre seja coerente ou bem definido. Mas
isso não é realmente o que nos leva a fazer ciência em primeiro lugar. Não
devíamos ficar felizes em fazer “bem o suficiente”, ou simplesmente em ajustar
os dados – devíamos estar lutando para entender como o mundo realmente
funciona. A melhor chance de alcançar essa estranha ambição, é se a ciência e a
filosofia, de fato, trabalharem juntas.
Por
set 21, 2014
Lola
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