sábado, 21 de outubro de 2017

Filosofia Oriental





Filosofia Oriental
Por que não?

Artigo do Prof. Nicholas Tampio, da Universidade Fordham, sobre a tradição do pensamento filosófico. O ponto é polêmico. Tampio acusa uma pressão sofrida pelos departamentos de filosofia para que se tornem mais diversificados e adotem também o ensino das doutrinas de origem não européia. Segundo o professor, esta demanda é artificial e a filosofia deve ser compreendida por meio da tradição iniciada por Sócrates e Platão lá na Grécia Antiga e que pautou o estudo da filosofia até hoje. Não que a filosofia não deva dialogar com os outros campos do conhecimento e visões de mundo, deve, mas, diz Tampio, não podemos tomar uma coisa pela outra e achar que tudo é filosofia.
Eu compreendo o argumento do professor e consigo assimilá-lo. Contudo, incomoda-me o modo como ele sugere que as doutrinas não europeias não seriam filosóficas. Segundo ele, tais doutrinas tratar-se-iam mais de dicas práticas de vida do que de um pensamento especulativo sobre os conceitos filosóficos, como justiça ou verdade, por exemplo. Não sei não. Primeiramente chamaria Schopenhauer para lutar em meu lugar e poder demonstrar como algumas doutrinas orientais podem ser compreendidas como filosofia. Em segundo, perguntaria ao professor: e Epicuro? E Sêneca? E por acaso boa parte da filosofia helenística não se concentrava em um "bem-viver"? O critério me parece estranho a própria tradição do pensamento filosófico.
De todo modo, concordo com o professor que a filosofia não é este balaio de gatos que querem fazer dela. Filosofia é estudo sistemático dos problemas mais conceituais que afetam o pensamento humano e, por isso mesmo, a tradição do pensamento é precisamente o nosso legado e também importa.
"Não concordo [...] que departamentos de filosofia devam diversificar e incorporar imediatamente cursos de filosofia africana, indiana, islâmica, judaica e latino americana em seus currículos. [...] Essa abordagem mina o diferencial da filosofia enquanto tradição intelectual. [...] A filosofia é o amor à sabedoria acima do amor ao seu sangue ou país. É, em princípio, aberta a todos, e as pessoas de todo o mundo atendem ao chamado de Platão para viver uma vida examinada. [...] Filosofia [...] pretende ser um diálogo entre pessoas de diferentes pontos de vista, mas, mais uma vez, é um amor à sabedoria, ao invés de uma posse da sabedoria. [...] A implicação é que a filosofia acadêmica é racista, sexista e digna de um falecimento iminente. Esta será uma boa notícia para os decisores políticos que querem proibir fundos federais de subsidiar o estudo da filosofia. [...] Como alguém que gosta de ler, estudar e, na ocasião, filosofar, eu considero isso uma tragédia. Devemos deixar que departamentos de filosofia evoluam organicamente, permitindo estudiosos de convencerem os outros de que um novo autor, ideia ou tradição vale o envolvimento."
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Professor de Filosofia - Pense fora da caixa!




Por que não estudamos a filosofia oriental?
Embora valha estudar outras tradições de pensamento, as tentativas de ampliar o cânone filosófico em nome da diversidade são equivocadas.

Eu publiquei recentemente uma análise sobre o pensamento político islâmico, incluindo uma entrada de enciclopédia sobre o tema.
Entre outros textos, ao ler o Alcorão, a jurisprudência islâmica (fiqh), a filosofia (falsafa) e a história do mundo pré-moderno de Ibn Khaldun, o Muqaddimah (1377), acabei por enriquecer a minha vida e pensamento.
No entanto, não concordo com a chamada feita por Jay L. Garfield e Bryan W. Van Norden no The New York Times, que sugere que departamentos de filosofia devam diversificar e incorporar imediatamente cursos de filosofia africana, indiana, islâmica, judaica e latino americana em seus currículos.
Pode parecer uma visão muito inclusiva pedir que professores de filosofia ensinem poucos estudiosos asiáticos antigos, como Confúcio e Candrakīrti, junto a diversos homens brancos ocidentais e mortos, como David Hume, Sócrates, SpinozaGiordano Bruno, Immanuel Kant e outros.
No entanto, essa abordagem mina o diferencial da filosofia enquanto tradição intelectual, e elogia outras tradições, dizendo que são a mesma coisa. Além disso, essa demanda enche de combustível a campanha política para difundir os departamentos de filosofia acadêmica.
A filosofia tem origem na República de Platão, e é uma busca incessante pela verdade através de um diálogo controverso.
O livro é destinado para os seres humanos comuns nas cidades, não para grandes pensadores e discípulos que vivem no topo de montanhas, e requer o uso sem medo da razão, mesmo num mundo repleto de tradições estabelecidas ou de compromissos religiosos.
livro de Platão é o primeiro texto da filosofia e um ponto de referência para os textos tão diversos como a Política de Aristóteles, a Cidade de Deus de Agostinho, o regime político da Al-Farabi, e o livro do filósofo francês Alain Badiou, a República de Platão (2013).
O filósofo britânico Alfred North Whitehead disse uma vez que a história da filosofia é uma série de notas de rodapé a Platão. Mesmo filósofos que não mencionam Platão diretamente ainda usam suas palavras – incluindo “ideias” – e sua orientação geral para dar prioridade à verdade sobre a piedade.
A filosofia é o amor à sabedoria acima do amor ao seu sangue ou país. É, em princípio, aberta a todos, e as pessoas de todo o mundo atendem ao chamado de Platão para viver uma vida examinada.
Eu estou ciente do argumento, no entanto, de que toda reflexão séria sobre questões fundamentais deva ser chamada de filosofia. A filosofia é uma entre muitas maneiras de pensar sobre questões como a origem do universo, a natureza da justiça ou os limites do conhecimento.
Filosofia, no seu melhor, pretende ser um diálogo entre pessoas de diferentes pontos de vista, mas, mais uma vez, é um amor à sabedoria, ao invés de uma posse da sabedoria. Essa característica particular já tornou muitas vezes que a filosofia fosse o pior inimigo da religião e da tradição.
Considere as perspectivas de Abu Hamid al-Ghazali (1058-1111), uma figura de destaque no pensamento islâmico.
Em Libertação do Erro, al-Ghazali reconta seu tempo lendo Platão, Aristóteles e seus outros leitores ostensivamente muçulmanos. Ele afirma:
“Temos de reconhecer como descrentes tanto os próprios filósofos quanto seus seguidores islâmicos, como Ibn Sina, al-Farabi e outros. Por isso, recomendo que os muçulmanos mantenham o povo comum longe da leitura equivocada desses livros”.
Mesmo que ele tenha argumentos filosóficos, ele não deseja inserir a tradição de falsafa e é amplamente creditado com a tentativa de acabar com essa tradição com livros como A incoerência dos filósofos.
Se alguém quiser estudar o pensamento político islâmico nos séculos depois de al-Ghazali, estudiosos devem estudar principalmente a sua teologia (kalam) e a jurisprudência (fiqh), não a filosofia (falsafa).
Da mesma forma, Confúcio (551-479 aC) pode ser uma leitura válida, mas estaremos forçando demais ao chamá-lo de filósofo. Em Os Analectos,
‘Disse o mestre: “Quando o pai de alguém ainda está vivo, observe suas intenções; depois que seu pai faleceu, observe sua conduta. Se, por três anos, ele não alterar os caminhos instruídos pelo pai, ele pode ser chamado de um filho fiel.”‘
Confúcio apresenta uma doutrina abrangente de uma boa vida que inclui a piedade filial e respeito pelos mais velhos. Por outro lado, nas páginas de abertura da República, Sócrates ridiculariza o velho Confúcio por sua má compreensão do significado da justiça.
A mensagem de Platão é que a filosofia não tem paciência para idosos que gostam das coisas como são e não querem lutar no terreno das ideias. Para o confucionismo, a defesa do pensamento crítico de Platão pode parecer uma receita para conflitos familiares e desarmonia social.
Eu duvido que os departamentos de filosofia sejam o lar natural para os estudiosos da jurisprudência islâmica ou da ética confucionista.
Os departamentos de filosofia apoiam o ensino e pesquisa sobre lógica (as regras do pensamento), a metafísica (o estudo do ser), epistemologia (teoria do conhecimento), a estética (o estudo da arte), ética (a investigação de moralidade pessoal) e política (a busca da justiça).
A filosofia como disciplina acadêmica tem consistência na medida em que tem origem na tradição socrática-platônica.
Deveriam os filósofos conversar com estudiosos de diferentes tradições religiosas e morais? Claro. Mas faz pouco sentido que filósofos tornem-se juristas islâmicos amadores ou que estudiosos do Alcorão estudem filosofia como um pré-requisito para o doutorado.
Para entender por que os limites da filosofia importam, é preciso situar o debate dentro de debates em curso sobre o financiamento do ensino superior.
No ano passado, o senador republicano Marco Rubio disse: “Precisamos de mais soldadores que filósofos”, uma articulação sem corte de um ponto de vista amplamente compartilhado entre contribuintes e formuladores de políticas que procuram razões para eliminar, cortar ou difundir departamentos de filosofia.
Nesse caso o New York Times diz que os departamentos de filosofia são ‘templos de adoração de homens de ascendência europeia’. A implicação é que a filosofia acadêmica é racista, sexista e digna de um falecimento iminente.
Esta será uma boa notícia para os decisores políticos que querem proibir fundos federais de subsidiar o estudo da filosofia, digamos, em faculdades comunitárias e universidades estaduais.
Como alguém que gosta de ler, estudar e, na ocasião, filosofar, eu considero isso uma tragédia. Devemos deixar que departamentos de filosofia evoluam organicamente, permitindo estudiosos de convencerem os outros de que um novo autor, ideia ou tradição vale o envolvimento.
E incentivar as universidades a explorarem maneiras de ampliar seus escopos de pesquisa para aprender sobre outras tradições intelectuais.
Mas exigir que os filósofos tratem al-Ghazali ou Confúcio como um dos seus não é razoável, e fornece munição para as pessoas que estão prontas para banir os filósofos de seu meio.

Por

Artigo traduzido por Rodrigo Zottis e

Lola

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