sábado, 2 de dezembro de 2017

Lógica aristotélica ou proposicional?




Lógica aristotélica 

ou proposicional?


Ao longo de vários anos, tenho-me dado conta de que por cada dúvida que professores e alunos nos fazem chegar quanto à lógica proposicional, recebemos mais de uma vintena de dúvidas relativamente à lógica aristotélica. Isto só por si seria uma razão com alguma força para fazer os professores considerar leccionar a lógica proposicional em vez de leccionarem a aristotélica. Claro, esta é uma razão de mera expediência, e por isso sem muita força. Contudo, se a isto acrescentarmos os dois factos seguintes, ficamos com fortes razões para preferir leccionar a lógica proposicional à aristotélica.

E que factos são esses? O primeiro e mais óbvio é que a lógica proposicional ensina lógica aos alunos num sentido estruturante e operativo, porque ensina a lógica elementar profunda da linguagem do raciocínio, que eles usam todos os dias e a toda a hora: a lógica da negação, da condicional, da conjunção e da disjunção. Além disso, esta lógica está subjacente a muitas discussões filosóficas: para compreender com rigor o que é uma definição explícita de arte, por exemplo, ou de conhecimento, é preciso dominar a lógica da bicondicional, que não é mais do que uma conjunção de condicionais. Ainda mais além disso, quase nenhuma reconstrução de um argumento filosófico tem forma silogística, mas a maior parte dos argumentos filosóficos (sobretudo os estudados no secundário) têm uma estrutura proposicional, como é o caso do problema do mal, que se formula adequadamente como um modus tollens, mas também os argumentos centrais acerca do livre-arbítrio estudados no secundário.

O segundo facto é que a lógica aristotélica é tradicionalmente ensinada de uma maneira que não envolve da parte do aluno, efectivamente, qualquer tipo de raciocínio lógico relevante. Isto porque não ensinamos a demonstrar directamente a validade ou invalidade das formas silogísticas, como o fez o próprio Aristóteles; ensinamos apenas a aplicar mecanicamente uma lista de "regras". Isto torna-se nítido se pensarmos que uma pessoa que nada saiba de lógica é perfeitamente capaz de aplicar aquelas regras para determinar a validade ou invalidade das formas silogísticas; mas para demonstrar directamente a validade ou invalidade dessa formas, tal como Aristóteles o fez, é preciso saber realmente lógica.

Estas são razões suficientes para optar pelo ensino da lógica proposicional. Ao fazê-lo, temos tudo a ganhar, não apenas em termos de expediência — pois quase não surgem dúvidas na leccionação desta lógica — mas também, e sobretudo, em termos do serviço educativo que prestamos aos nossos alunos.
Fica o convite gentil. E nós estaremos sempre disponíveis para trabalhar em conjunto com os professores que se decidirem pela lógica proposicional.
 




Lola

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