Karl Popper e Thomas Kuhn
O Estatuto do Conhecimento científico
Quando um paradigma surge, inicia-se um período de ciência normal. Neste período, a atividade científica consiste em resolver problemas de acordo com as normas do paradigma.
Uma crise é um período de insegurança em que a confiança no paradigma é abalada por sérias anomalias.
O paradigma entra em crise porque se descobrem cada vez mais fenómenos que não estão de acordo com o paradigma.
Durante uma época de crise, a confiança no paradigma diminui e a investigação característica da ciência normal dá lugar a um período de ciência extraordinário. Assim, o fim de uma crise só poderá ocorrer quando surgir um novo paradigma .
Assim, pode concluir-se que o conceito de verdade é, segundo Kuhn, sempre relativo a um paradigma, ou seja, aquilo que é verdade num paradigma pode não ser noutro.
5. A. Porque tem o erro, para Popper, um lugar central?
Popper defende que há progresso em ciência e que o erro é o motor desse progresso. Sempre que sujeitamos uma teoria a testes e descobrimos que ela inclui erros ou está efectivamente errada eliminamos os erros e, assim, aproximamo-nos da verdade. Podemos estar seguros de alguma vez termos alcançado a verdade? Não, mas, de eliminação de erro em eliminação de erro, caminhamos na sua direção.
9. Quem foi Thomas Kuhn?
14. A. O que se entende por ciência extraordinária?
A crise provocada pela acumulação de anomalias pode originar alterações na prática científica, entrando-se num período de ciência extraordinária. Aqui, os cientistas procuram encontrar soluções para as anomalias, uns dentro do paradigma vigente (ciência normal), outros fora desse modelo (ciência extraordinária). A ciência extraordinária é, portanto, a prática científica que acontece à margem do paradigma dominante.
A - Karl Popper
Karl Popper é um
filósofo austríaco do séc. XX, especialista em epistemologia;
· Popper
desenvolveu uma teoria acerca da construção da ciência designada
por falsificacionismo;
· A
perspetiva indutivista da ciência diz-nos que para se formular uma qualquer
hipótese científica, é necessário que se parta de uma observação;
· Na
sua obra “ Conjeturas e Refutações”, afirma que a observação é sempre seletiva,
requerendo por isso um objeto, uma tarefa, um interesse, um ponto de vista e um
problema;
· Para
Popper, o cientista não parte da observação de factos particulares. Começa
antes por identificar um problema e procurar uma solução para ele;
· Karl
Popper rejeita, portanto, o método indutivo, defendendo que a teoria precede a
observação e não o contrário;
· Na
sua obra “Lógica da Pesquisa Científica”, Popper defende que, apesar de ser a
base das ciências empíricas e da investigação científica, o método
indutivo nunca deve ser aceite como tal;
· Uma
indução pode sempre revelar-se falsa, não podendo servir de justificação a
qualquer teoria;
· O
método indutivo permite-nos chegar a uma conclusão mais geral do que aquilo que
for afirmado nas premissas e por isso não garante a cientificidade das teorias;
· Popper
defende um método dedutivo de prova, em que primeiramente é formulada uma
hipótese, seguida de uma dedução de provas empíricas e só depois há a
corroboração ou falsificação dessa hipótese;
· Defende
também que se uma determinada lei científica contém mais informação do que
aquela que existe nas premissas de que foi inferida, então esta não pode ser
tida como válida, pois conclui que o que se verifica em apenas alguns casos pode ser
aplicado a todos, bastando apenas um caso diferente para a
refutar- basta aparecer um cisne preto para por em causa o axioma “Todos
os cisnes são brancos”;
· Popper
propõe então que o critério de demarcação das teorias científicas
deve ser o facto de estas poderem ou não ser refutadas ou falsificadas;
· Uma
teoria que não possa ser testada não é científica, é apenas uma pseudociência
ou dogma;
· A
melhor teoria é aquela que apresenta mais dados pois há mais conteúdo empírico
para ser testado e refutado, ou seja, pode ser falsificada através da
experiência;
· No
seu método das conjeturas e refutações, o filósofo diz-nos que para
formular uma teoria é necessário partir de uma hipótese que sirva de solução a
um facto-problema, hipótese essa que deve ser uma proposição universal;
· Dessa
hipóteses deduzem-se consequências e aplicações empíricas que são depois
testadas;
· A
teoria é falsificada ou refutada caso a previsão não se confirme;
· Se
a previsão se confirmar, a teoria mantém-se, ainda que apenas como conjetura.
Diz-se que a teoria foi corroborada;
· Uma
conjetura é uma teoria aceite como muito aproximada à verdade, não sendo uma
verdade definitiva porque pode ser refutada;
· Se
uma conjetura resiste a todas as refutações, então esta é mais credível não
sendo, no entanto, verdadeira visto que não sabemos nada em relação ao futuro;
· Karl
Popper afirma que o método científico defendido por Platão, Aristóteles, Bacon
e Descartes não existe – o método indutivo;
· Não
há nenhum método que permita verificar e descobrir uma hipótese ou teoria
científica;
· Não
há nenhum método que determine se uma hipótese é provável;
As teorias científicas são diferentes
dos mitos porque podem ser modificadas através da crítica;
· Popper
defende que o conhecimento científico vai progredindo e evoluindo;
· Essa
evolução leva à verdade;
· Os
cientistas procuram alcançar a verdade;
· A
verdade é um ideal regulador;
· Uma
teoria nunca deve ser considerada verdadeira e definitiva;
· Quando
um cientista refuta uma teoria, está a contribuir para que se chegue à verdade;
·A
objectividade do conhecimento científico é atingida através de um método
rigoroso;
· A
ciência progride através da falsificação de teorias e através da constatação de
erros;
· As
melhores teorias são as que podem ser testadas, refutadas e criticadas;
· Para
Karl Popper, o progresso da ciência faz-se por meio da falsificação de teorias.
B- Thomas Kuhn
Thomas Kuhn defende que todas disciplinas cientificamente amadurecidas
se organizam de acordo com paradigmas. No entanto, antes de o paradigma estar
devidamente constituído, não existe ainda ciência propriamente dita. Os
investigadores encontram-se num período de pré-ciência.
É ultrapassado o período pré-científico quando surge uma teoria mais
poderosa e consensual. Esta irá ajudar a fundar um paradigma.
Um paradigma assume-se como um modelo de
investigação através do qual os cientistas desenvolvem a sua atividade.
Quando um paradigma surge, inicia-se um período de ciência normal. Neste período, a atividade científica consiste em resolver problemas de acordo com as normas do paradigma.
Num período de ciência normal, os cientistas não procuram refutar ou
criticar a teoria central do paradigma. Pelo contrário, tentam aumentar a
credibilidade dessa teoria e aumentar o maior número de explicações fornecido
pelo paradigma. O período é sempre indefinido. Ao
longo do período de ciência normal, podem surgir enigmas que não se conseguem
resolver. É assim que surge uma anomalia.
Quando estamos perante uma anomalia, há algo na natureza que não acontece de acordo com a explicação apresentada pelo paradigma. Quando as anomalias colocam verdadeiramente em causa os fundamentos do paradigma estão reunidas as condições para a emergência de uma crise.
Quando estamos perante uma anomalia, há algo na natureza que não acontece de acordo com a explicação apresentada pelo paradigma. Quando as anomalias colocam verdadeiramente em causa os fundamentos do paradigma estão reunidas as condições para a emergência de uma crise.
Uma crise é um período de insegurança em que a confiança no paradigma é abalada por sérias anomalias.
O paradigma entra em crise porque se descobrem cada vez mais fenómenos que não estão de acordo com o paradigma.
Durante uma época de crise, a confiança no paradigma diminui e a investigação característica da ciência normal dá lugar a um período de ciência extraordinário. Assim, o fim de uma crise só poderá ocorrer quando surgir um novo paradigma .
No entanto, a instauração de um novo paradigma não é tarefa fácil. Para
que seja possível o seu aparecimento, é preciso que surja primeiro uma nova teoria. Quando isto acontece, afirma Kuhn, dá-se o passo
decisivo para a ocorrência de uma revolução científica.
Kuhn considera que a diferença de paradigmas é de tal modo radical que
eles não se podem comparar. Este facto revela que existe uma incomensurabilidade entre paradigmas.
Deste modo, estamos perante uma das teses mais
controversas defendidas por Kuhn, a qual nos leva a concluir que é impossível
determinar se um paradigma é superior ou mais verdadeiro do que outro.
Assim, pode concluir-se que o conceito de verdade é, segundo Kuhn, sempre relativo a um paradigma, ou seja, aquilo que é verdade num paradigma pode não ser noutro.
Popper e Kuhn:
questões e respostas
1. Quem foi Karl
Popper?
Karl Popper
foi um filósofo nascido na Áustria e naturalizado inglês. A sua indiscutível
reputação como pensador está, fundamentalmente, associada à sua filosofia da
ciência. Neste campo, foi opositor feroz da perspetiva indutivista, defendendo
que a observação não é o ponto de partida da atividade científica, que existem
alternativas à indução e que o papel da experimentação é falsificar ou refutar
hipóteses e não confirmá-las.
2. Como se
posiciona Karl Popper face ao problema da indução?
O problema da
indução, tal como foi formulado por Hume, existe e não é solucionável: serão
sempre injustificáveis as nossas tentativas de ir de enunciados singulares ou
particulares para enunciados gerais. Porém, Popper considera que existem
alternativas à indução. Segundo este filósofo, os cientistas devem submeter as
suas teorias a testes que visem falsificá-las (refutá-las), e não verificá-las
(confirmá-las). A lógica subjacente à falsificação de um enunciado universal é
dedutiva e não indutiva. Vejamos porquê. Pensemos no enunciado geral «todos os
peixes têm escamas». É possível verificá-lo? Não, pois isso implicaria observar
todos os peixes, sem exceção. Contudo, sabemos que se todos os peixes têm
escamas, então não existem peixes sem escamas. Imaginemos que somos confrontados
com um peixe sem escamas. Daqui deriva, necessariamente, que é falso que todos
os peixes tenham escamas. Este exemplo mostra que é possível, recorrendo a
inferências puramente dedutivas, concluir acerca da falsidade de enunciados
universais: S implica P; não acontece P; logo, não acontece S.
3. Em que
consiste o método de Popper?
Em alternativa
ao verificacionismo e ao indutivismo, Popper propõe um método falsificacionista
e hipotético-dedutivo, o método das conjeturas e refutações. Em primeiro lugar,
para Popper, já vimos, a investigação científica não começa pela observação,
mas pelo problema, que surge quando uma dada observação põe em causa a teoria
estabelecida e as expectativas do cientista. Face ao problema, a imaginação do
cientista cria uma hipótese ou conjetura para explicá-lo. Segue-se a refutação.
A hipótese é sujeita a testes empíricos rigorosos, que têm por objetivo
falsificá-la ou refutá-la, isto é, mostrar que é falsa, e não verificar a sua
verdade. Se a hipótese for refutada, a teoria é substituída por outra, mais
forte e mais resistente. Se a hipótese resistir aos testes, dizemos que se
trata de uma explicação provisoriamente corroborada.
4. Corroboração e
verdade são sinónimos?
Não, para
Popper as hipóteses nunca perdem o seu carácter conjetural. Verdade e
corroboração não são a mesma coisa. A corroboração é um indicador temporal. Uma
teoria corroborada é uma teoria que resistiu aos testes a que foi sujeita num
determinado momento, mas isto não faz dela uma verdade, apenas indica que, até
ao momento, é a melhor teoria. Nada garante, porém, que ela não venha a ser
refutada, ou parcialmente refutada num próximo momento de falsificação.
5. Que diferença
existe entre uma teoria falsificada e uma teoria falsificável?
Uma teoria
falsificável ou refutável é uma teoria que tem a propriedade (uma importante
propriedade, na perspectiva de Popper) de poder ser sujeita a testes empíricos
que a possam refutar. Uma teoria falsificada ou refutada é uma teoria que já se
provou ser falsa, isto é, que foi sujeita a testes e não resistiu.
5. A. Porque tem o erro, para Popper, um lugar central?
Popper defende que há progresso em ciência e que o erro é o motor desse progresso. Sempre que sujeitamos uma teoria a testes e descobrimos que ela inclui erros ou está efectivamente errada eliminamos os erros e, assim, aproximamo-nos da verdade. Podemos estar seguros de alguma vez termos alcançado a verdade? Não, mas, de eliminação de erro em eliminação de erro, caminhamos na sua direção.
6. Existe progresso
em ciência, para Popper?
Sim. A ciência
progride por conjeturas e refutações, eliminando erros. O erro é o motor de
progresso em ciência. De cada vez que se eliminam erros, aproximamo-nos da
verdade, embora não tenhamos forma de saber se alguma vez a alcançaremos.
Popper estabelece, neste ponto, uma analogia com o evolucionismo e a ideia de
selecção natural.
7. Será a ciência objetiva, para Popper?
Sim, na medida
em que se afasta progressivamente do erro e dado que possuímos um método que
nos permite comparar teorias e afirmar que a teoria X está mais próxima da
verdade do que a teoria Y. A objectividade advém do método utilizado e não, por
exemplo, da forma como são elaboradas as hipóteses.
8. Existem
objeções ao falsificacionismo de Popper?
Sim, na medida
em que, por exemplo, se valorizam apenas os resultados negativos da prática
científica. Popper não considera uma dada descoberta, mas sim as fragilidades e
fracassos do trabalho dos cientistas. Por outro lado, na prática, os cientistas
não procedem como Popper diz.
9. Quem foi Thomas Kuhn?
Thomas Kuhn foi um pensador
norte-americano e um dos filósofos contemporâneos mais importantes, cujas
ideias marcaram a reflexão sobre a ciência na segunda metade do séc. XX.
10. Qual é o padrão habitual de desenvolvimento de uma ciência?
10. Qual é o padrão habitual de desenvolvimento de uma ciência?
Para
Thomas Kuhn, as transições em ciência acontecem segundo um processo cíclico, em
que se alternam três fases sucessivas: fase normal, fase crítica e fase
revolucionária.
11. O que é uma
revolução científica, para Thomas Khun?
A revolução
científica corresponde a uma mudança profunda nas convicções e no trabalho dos
cientistas. Trata-se de um episódio não cumulativo, no qual a comunidade
científica abandona o caminho até
então seguido a favor de outra abordagem da sua disciplina, em geral
incompatível com a anterior, alterando-se a forma como olha para o mundo e
pratica ciência. As grandes mudanças no desenvolvimento
científico associadas a nomes como Copérnico, Newton, Lavoisier ou Einstein são
episódios que espelham revoluções científicas. As alterações revolucionárias de
uma dada tradição científica são relativamente raras.
12. Em que
consiste a prática da ciência normal?
Ciência normal
é a ciência que a maioria dos cientistas pratica no seu dia a dia. É a ciência
em que o paradigma é encarado como um dado adquirido, que não deve ser
desafiado. A ciência normal articula e desenvolve o paradigma. Kuhn descreve a
ciência normal como a atividade de resolver enigmas, dirigida pelas regras do
paradigma. Durante a atividade científica normal, a comunidade científica
procede a reajustamentos e ao aumento da abrangência e precisão do paradigma.
Trata-se, por esta razão, de uma atividade essencialmente cumulativa,
conservadora e, por conseguinte, pouca dada à inovação.
13. Qual a importância
do paradigma para a prática da ciência normal?
Desde logo, a
existência de um paradigma é o que distingue a ciência da não ciência. É o
paradigma que dá os suportes teóricos e práticos gerais da atividade da ciência
normal.
Do mesmo modo,
o paradigma estabelece as normas necessárias para tornar legítimo o trabalho
dentro dessa ciência e forja a comunidade científica. Por fim, ele é também
fundamental, pois coordena e dirige a atividade de resolver os problemas com
que os cientistas se deparam na fase de ciência normal, fornecendo um critério
para escolher aqueles que sejam solucionáveis. Em boa medida, como diz Kuhn,
estes são os únicos problemas que a comunidade considerará científicos ou
merecedores de atenção.
14. O que
caracteriza o estado de crise?
As crises são
uma pré-condição necessária para a emergência de novas teorias e paradigmas.
Começam a formar-se quando se dá um acumular de anomalias que, pela sua
quantidade e grau, põem em causa os fundamentos do paradigma. As anomalias
levam a um esforço suplementar, por parte da comunidade científica, para tentar
preservar a visão do mundo que o paradigma lhes garante.
14. A. O que se entende por ciência extraordinária?
A crise provocada pela acumulação de anomalias pode originar alterações na prática científica, entrando-se num período de ciência extraordinária. Aqui, os cientistas procuram encontrar soluções para as anomalias, uns dentro do paradigma vigente (ciência normal), outros fora desse modelo (ciência extraordinária). A ciência extraordinária é, portanto, a prática científica que acontece à margem do paradigma dominante.
15. Como terminam
as crises?
Todas as
crises terminam, segundo Kuhn, de uma de três maneiras: - A ciência normal
acaba por ser capaz de lidar com o problema que gerou a crise. - O problema é
etiquetado, mas abandonado e deixado para uma geração futura. - Emerge um novo
candidato a paradigma e batalha-se pela sua aceitação.
16. Quais são as
consequências de uma revolução científica?
A principal
consequência de uma revolução científica é a mudança de paradigma, com tudo o
que isso implica: novas práticas da ciência normal, porque novos serão os
problemas e as soluções avançadas, novos pressupostos, novas teorias, etc. O
novo paradigma será muito diferente do velho e incompatível com ele. No fundo,
o que a revolução científica impõe é uma nova visão do mundo.
17. O que
significa dizer que os paradigmas são incomensuráveis entre si?
Ao dizer que
são incomensuráveis, Kuhn pretende dizer que eles não são comparáveis, nem
tão-pouco podem servir de medida um para o outro, pois o novo paradigma não é
melhor do que o anterior, é apenas diferente. Os proponentes de paradigmas
rivais praticam a sua atividade em mundos completamente distintos, discordam
sobre a lista de problemas a resolver e sobre os critérios a adotar e comunicam
de forma forçosamente parcial: termos idênticos ganham novos significados e
novos termos são adotados. A nova representação do real que o novo paradigma
traz consigo não se acrescenta à precedente, pelo contrário, substitui-a. O que
antes se via como um coelho passa a ser visto como um pato.
18. Podemos falar
em objetividade em ciência, para Kuhn?
Os critérios
que Kuhn considera para avaliar uma teoria são de dois tipos: objetivos e
subjetivos. Os critérios objetivos são partilhados por toda a comunidade
científica e são os seguintes: exatidão, consistência, alcance, simplicidade e
fecundidade. Os critérios subjetivos, dada a natureza humana dos cientistas,
também existem e devem ser considerados, pois, perante uma mesma realidade, a
interpretação e as convicções podem fazer dois cientistas trabalharem de
maneira diversa e adotarem paradigmas diferentes. Pelo facto de a escolha entre
paradigmas estar sujeita a critérios subjetivos relevantes, não é possível
falar em objetividade em ciência. Esta posição foi alvo de duras críticas,
tendo sido frequentemente classificada como sendo, além do mais, contraditória.
19. O que separa
Popper de Kuhn?
Popper e Kuhn
respondem de forma divergente ao problema do progresso em ciência. Popper crê
que a eliminação de erros conduz, por aproximação, à verdade. O autor
estabelece, neste ponto, uma analogia com o evolucionismo e a ideia de seleção
natural: as teorias que melhor resistirem ao erro são as que se mantêm. Já para
Kuhn, não existe progresso em ciência, nem por acumulação, nem por eliminação
de erros. A transição sucessiva de um paradigma para outro ocorre por meio de
revoluções científicas, nada garantindo que o novo paradigma seja mais
verdadeiro que o anterior. Popper e Kuhn respondem também de forma
relativamente distinta ao problema da objetividade em ciência. Popper crê que a
ciência é objetiva, na medida em que se afasta progressivamente do erro e dado
que existe um método que nos permite comparar teorias e afirmar que a teoria X
está mais próxima da verdade do que a teoria Y. Para Kuhn, embora existam
critérios objetivos na escolha de teorias, a ciência não é imune à subjetividade,
já que esta desempenha um papel decisivo na escolha de um determinado modelo em
detrimento de outro.
20. Existem
objeções a Kuhn?
Sim. Kuhn foi
frequentemente acusado de defender uma posição relativista. Kunh rejeitou a
crítica, considerando-a injusta e redutora. Todavia, não há dúvida de que
algumas das suas afirmações a propósito do progresso científico parecem
aproximar Kuhn da tentação relativista. Se os paradigmas são incomensuráveis,
se não podemos comparar paradigmas nem concluir que um é superior ao outro, se
não podemos estar certos de que nos aproximamos da verdade, o que nos resta?
Para alguns, apenas o relativismo.
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