Lógica Proposicional
A lógica silogística aristotélica apenas
permite analisar a validade de argumentos com proposições universais e
particulares que estejam dispostas em forma de silogismo. Mas isso é muito
limitador uma vez que a grande maioria dos argumentos assenta em operadores
proposicionais, como os seguintes: “se… então” (condicional), “se e somente se”
(bicondicional), “ou” (disjunção), “e” (conjunção), “não” (negação).
Ora, para testar a validade de argumentos com este tipo de operadores precisamos da lógica proposicional clássica. Este tipo de lógica remonta aos estoicos, mas desenvolveu-se muito no século XX. É designada de “clássica” para se distinguir das restantes lógicas contemporâneas, como a dos predicados e a modal.
Vejamos dois argumentos que podem ser analisados quanto à sua validade com lógica proposicional mas não com lógica silogística:
Ora, para testar a validade de argumentos com este tipo de operadores precisamos da lógica proposicional clássica. Este tipo de lógica remonta aos estoicos, mas desenvolveu-se muito no século XX. É designada de “clássica” para se distinguir das restantes lógicas contemporâneas, como a dos predicados e a modal.
Vejamos dois argumentos que podem ser analisados quanto à sua validade com lógica proposicional mas não com lógica silogística:
[Argumento 1]
P1 – Se Deus existe, então não pode existir mal no mundo.
P2 – Ora, existe mal no mundo.
C – Logo, Deus não existe.
[Argumento 2]
P1 – Se não houver Deus, a vida deixa de ter sentido.
P2 – Mas, a vida tem sentido.
C – Logo, Deus existe.
É fácil ver o que difere estes dois argumentos: um tenta provar
que Deus não existe e o outro tentar provar o contrário. Mas, o que há de comum
nestes dois argumentos?
Na lógica proposicional ignora-se o conteúdo específico e atende-se às operações lógicas existentes. Cada proposição elementar que constitui os argumentos é representada pelas letras P, Q, R e sucessivamente que se chamam variáveis proposicionais.
Por exemplo, no argumento 1 o P representa a proposição elementar “Deus existe” e o Q representa “a não existência de mal no mundo”. Já no argumento 2 o P representa “Deus não existe” e o Q representa “a vida não tem sentido”. Esta tarefa é designada de dicionário. Agora tendo em conta o dicionário e se abstrairmos o conteúdo dos argumentos 1 e 2, constataremos que eles partilham a mesma forma lógica: se P, então Q; não Q; Logo, não P. Nesta forma argumentativa encontramos dois operadores verofuncionais ou conectivas proposicionais, que são o “se… então” e o “não”. É importante saber que na lógica proposicional clássica existem várias conectivas proposicionais com os seus respetivos símbolos lógicos:
Na lógica proposicional ignora-se o conteúdo específico e atende-se às operações lógicas existentes. Cada proposição elementar que constitui os argumentos é representada pelas letras P, Q, R e sucessivamente que se chamam variáveis proposicionais.
Por exemplo, no argumento 1 o P representa a proposição elementar “Deus existe” e o Q representa “a não existência de mal no mundo”. Já no argumento 2 o P representa “Deus não existe” e o Q representa “a vida não tem sentido”. Esta tarefa é designada de dicionário. Agora tendo em conta o dicionário e se abstrairmos o conteúdo dos argumentos 1 e 2, constataremos que eles partilham a mesma forma lógica: se P, então Q; não Q; Logo, não P. Nesta forma argumentativa encontramos dois operadores verofuncionais ou conectivas proposicionais, que são o “se… então” e o “não”. É importante saber que na lógica proposicional clássica existem várias conectivas proposicionais com os seus respetivos símbolos lógicos:
“Não” – negação, símbolo: ¬
“E” – conjunção, símbolo: ∧
“Ou” – disjunção, símbolo: ∨
“Ou…ou” – disjunção exclusiva, símbolo: ⊻
“Se…então” – condicional, símbolo: →
“Se e só se” – bicondicional, símbolo: ↔
Além destes símbolos pode-se utilizar o martelo semântico ╞ ou o
símbolo de conclusão ∴ para
substituir o “logo” ou o indicador de conclusão; e as várias proposições são
separadas por vírgulas (,).
Atendendo a isto, pode-se escrever os argumentos 1 e 2 na linguagem da lógica proposicional clássica da seguinte forma:
Atendendo a isto, pode-se escrever os argumentos 1 e 2 na linguagem da lógica proposicional clássica da seguinte forma:
P→Q, ¬Q
╞ ¬P
Mas será esta uma forma lógica válida?
Para isso temos primeiro de ver as funções de verdade expressas por cada conectiva proposicional:
Para isso temos primeiro de ver as funções de verdade expressas por cada conectiva proposicional:
Negação: inverte o valor de verdade.
Conjunção: só é verdadeira se as proposições elementares que a
compõem forem ambas verdadeiras.
Disjunção: só é falsa se as proposições elementares que a
compõem forem ambas falsas.
Disjunção exclusiva: só é verdadeira quando uma proposição
elementar é verdadeira e a outra falsa.
Condicional: só é falsa se a antecedente for verdadeira e a
consequente for falsa.
Bicondicional: só é verdadeira se os seus dois lados tiverem o
mesmo valor de verdade.
Com estes princípios podem-se formar as tabelas de verdade que
representam as várias conectivas proposicionais:
Tendo em conta estas tabelas de verdade já conseguimos examinar
a validade dos argumentos 1 e 2. Para isso construímos um inspetor de
circunstâncias, ou seja um dispositivo gráfico com uma sequência de tabelas de
verdade que mostra o valor de verdade de cada premissa e da conclusão em todas
as circunstâncias possíveis. Se existir pelo menos uma circunstância em que
todas as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa, então o argumento é
inválido. Caso contrário, o argumento é válido.
Então, serão válidos ou inválidos os argumentos 1 e 2?
Então, serão válidos ou inválidos os argumentos 1 e 2?
Após a construção do inspetor de circunstâncias é preciso
questionar: será que existe alguma circunstância, ou seja alguma linha, em que
todas as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa? Se sim, o argumento é
inválido. Se não, o argumento é válido. Nesta forma lógica, na quarta linha
constata-se que todas as premissas são verdadeiras mas a conclusão também é
verdadeira, por isso esta forma argumentativa é válida. Só seria inválido se
existisse uma linha em que todas as premissas fossem verdadeiras e a conclusão
falsa. Como não é esse o caso, então podemos dizer que os argumentos 1 e 2 são
válidos. Aliás, estes argumentos têm a forma válida de modus tollens; ou seja,
é a forma da negação da consequente.
Mas, vejamos uma outra forma lógica que, em vez de negar a
consequente, afirma a consequente. Podemos escrever esta forma lógica do
seguinte modo: P→Q, Q ╞ P. Será válido um argumento estruturado deste modo?
Para ver isso temos novamente que recorrer a um inspetor de circunstâncias:
Ao examinar este inspetor de circunstâncias vemos que existe uma
situação em que todas as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa (na
terceira linha). Portanto, esta forma argumentativa é inválida. Aliás, este
tipo de forma argumentativa comete a falácia da afirmação da consequente e
qualquer argumento que se faça com esta estrutura será um mau argumento, pois a
conclusão não se segue das premissas.
Consideremos outro argumento, que pode surgir na linguagem
natural, para se determinar a sua validade:
Penso que o ensino da filosofia deve promover uma discussão
crítica. Isto porque o ensino da filosofia ou promove uma discussão crítica, ou
tem horror às discussões. Será um ensino que formará cidadãos críticos,
criativos e autónomos caso se pretenda promover uma discussão crítica. Será um
ensino que formará cidadãos acríticos, dogmáticos e amorfos se tiver horror às
discussões. Porém, é errado formar cidadãos com estas últimas características.
Primeiro, é necessário representar canonicamente o argumento,
deixando claro quais são as premissas e qual é a conclusão:
P1 – O ensino da filosofia ou promove uma discussão crítica, ou
tem horror às discussões.
P2 – Se pretende promover uma discussão crítica, então será um
ensino que formará cidadãos críticos, criativos e autónomos.
P3 – Se tem horror às discussões, então será um ensino que
formará cidadãos acríticos, dogmáticos e amorfos.
P4 – Mas, é errado formar cidadãos acríticos, dogmáticos e
amorfos.
C – Logo, o ensino da filosofia deve promover uma discussão
crítica.
Segundo, é preciso fazer a interpretação ou construir o
dicionário que capte de modo adequado as proposições elementares presentes no
argumento:
P = O ensino da filosofia promover uma discussão crítica.
Q = O ensino da filosofia ter horror às discussões.
R = Formar cidadãos críticos, criativos e autónomos.
S = Formar cidadãos acríticos, dogmáticos e amorfos.
Terceiro, com este dicionário já é possível formalizar o
argumento na linguagem da lógica proposicional clássica:
P ⊻ Q
P→R
Q→S
¬S
∴ P
Quarto, o passo seguinte é construir um inspetor de
circunstâncias. Atenção ao seguinte pormenor: as linhas dos inspetores de
circunstâncias variam consoante o número de variáveis proposicionais, de acordo
com a fórmula 2n (em que “n” representa o número de variáveis).
Assim, se “n”=2, ficamos com 4 linhas (2x2); se “n”=3, então ficamos com 8
linhas (2x2x2); se “n”=4, ficamos com 16 linhas (2x2x2x2); se “n”=5, ficamos
com 32 linhas (2x2x2x2x2); e assim sucessivamente… Com esta informação já se
pode construir adequadamente o inspetor de circunstâncias:
Um exercício para o leitor:
Formalize e examine a validade do seguinte argumento:
Temos o dever de promover o bem supremo. Se o bem supremo
não fosse possível, não teríamos o dever de o promover. Se Deus não existisse,
o bem supremo não seria possível. Logo, Deus existe.
Tudo que eu queria
ResponderEliminarBom trabalho que irie fazer de investigação!
Obrigado
Tudo que eu queria
ResponderEliminarBom trabalho que irie fazer de investigação!
Obrigado