Questões de Exame
Leia o texto
seguinte.
Ser
caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há, além disso, muitas almas de
disposição
tão
compassiva que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse pessoal,
acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta e se podem alegrar com o
contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo porém que, neste
caso, uma ação deste tipo, ainda que seja conforme ao dever, ainda que seja
amável, não tem qualquer verdadeiro valor moral […].
I.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
Lisboa, Edições 70, 1988, p. 28
(adaptado)
1. Por que razão Kant
afirma que o tipo de ação descrito no texto anterior não tem valor moral?
2012 1ª fase
Leia o texto
seguinte.
Quando
Kant propõe […], enquanto princípio fundamental da moral, a lei «Age de modo
que
a
tua regra de conduta possa ser adotada como lei por todos os seres racionais»,
reconhec virtualmente
que o interesse coletivo da humanidade, ou, pelo menos, o interesse
indiscriminado da humanidade, tem de estar na mente do agente quando este
determina conscienciosamente a moralidade do ato. Caso contrário, Kant estaria
[a] usar palavras vazias, pois nem sequer se pode defender plausivelmente que
mesmo uma regra de absoluto egoísmo não poderia ser adotada por todos os seres
racionais, isto é, que a natureza das coisas coloca um obstáculo insuperável à
sua adoção. Para dar algum significado ao princípio de Kant, o sentido a
atribuir-lhe tem de ser o de que devemos moldar a nossa conduta segundo uma
regra que todos os seres racionais possam adotar com benefício para o seu
interesse coletivo.
John
Stuart Mill, Utilitarismo,
Porto, Porto Editora, 2005
Na resposta a cada um
dos itens de 1. a 4., selecione a única opção adequada ao sentido do texto.
1. Segundo Stuart
Mill, Kant verdadeiramente valoriza
(A) as circunstâncias
da ação.
(B) o interesse da
humanidade.
(C) o imperativo
categórico.
(D) um imperativo
hipotético.
2. Kant defende que
a ação moral é determinada
(A) pela inclinação e
pela boa vontade.
(B) pelo exemplo e
pelo sentimento.
(C) pela razão e pelo
dever.
(D) pelo bem-estar e
pela felicidade.
3. Stuart Mill
defende que uma ação tem valor moral
(A) sempre que o
agente renuncia ao prazer.
(B) quando a intenção
do agente é boa.
(C) sempre que
resulta de uma vontade boa.
(D) quando dela
resulta um maior bem comum.
4. Para Kant, a lei
«Age de modo que a tua regra de conduta possa ser adotada como lei por todos os seres racionais»
significa que
(A) os seres
racionais estão submetidos a leis objetivas.
(B) as ações morais
são avaliadas segundo as leis vigentes.
(C) as ações morais
são avaliadas pelas suas consequências.
(D) os seres
racionais estão submetidos às suas emoções.
2012 2ª fase
Leia o texto
seguinte.
Ficaria eu
satisfeito de ver a minha máxima (de me tirar de apuros por meio de uma
promessa não verdadeira) tomar o valor de lei universal (tanto para mim como
para os outros)? E poderia eu dizer a mim mesmo: – Toda a gente pode fazer uma
promessa mentirosa quando se acha numa dificuldade de que não pode sair de
outra maneira? Em breve reconheço que posso em verdade querer a mentira, mas
que não posso querer uma lei universal de mentir; pois, segundo uma tal lei,
não poderia propriamente haver já promessa alguma […]. Por conseguinte, a minha
máxima, uma vez arvorada em lei universal, destruir-se-ia a si mesma
necessariamente.
Immanuel
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
Coimbra, Atlântida, 1960
1.
Explique, a partir do exemplo do texto, por que razão o ato de mentir nunca é
moralmente permissível, segundo Kant.
2.
Compare o papel da intenção do agente na ética de Kant com o papel da intenção
do agente na ética de Stuart Mill.
2012
época especial
Leia
o texto seguinte.
O
princípio da felicidade pode, sem dúvida, fornecer máximas, mas nunca aquelas
que serviriam de leis da vontade […]. Podem certamente dar-se regras gerais,
mas nunca regras universais, isto é, regras que, em média, são corretas na
maior parte das vezes, mas não regras que devem ser sempre e necessariamente
válidas […]. Este princípio não prescreve, pois, a todos os seres racionais as
mesmas regras práticas, embora estejam compreendidas sob um título comum, a
saber, o de felicidade.
Kant,
Crítica da Razão Prática,
Lisboa, Edições 70, 1989
Na
resposta a cada um dos itens de 1. a 4., selecione a única opção adequada
ao sentido do texto.
1.
Segundo Kant, o princípio da felicidade
(A)
prescreve regras universais, porque todas as pessoas as podem seguir.
(B)
é contrário à moral, porque torna as pessoas egoístas.
(C)
é um princípio ético que a todos impõe a beatitude.
(D)
pode fornecer regras, mas não uma lei moral.
2.
O texto de Kant refere-se implicitamente ao imperativo categórico quando
menciona
(A)
as máximas da ação.
(B)
as leis da vontade.
(C)
regras em média corretas.
(D)
o princípio da felicidade.
3.
Diferentemente de Kant, Stuart Mill defende que a ação ética visa
(A)
a obtenção do prazer pessoal e a promoção de interesses individuais.
(B)
o prazer em realizar a ação independentemente dos seus resultados.
(C)
a promoção do maior bem comum.
(D)
o desejo do agente de ser feliz.
4. A ética de Stuart Mill pode ser classificada como
(A)
hedonista, porque a felicidade e a qualidade dos prazeres são o objetivo da
vida boa.
(B)
hedonista, porque a intensidade e a duração do prazer são o objetivo da vida
boa.
(C)
deontológica, porque o critério ético é a vontade enquanto determinante da
ação.
(D)
deontológica, porque o critério ético é o resultado das ações.
5. Atente no problema
apresentado no caso seguinte.
Circulam já alguns
automóveis autónomos, ou seja, capazes de se conduzirem a si próprios.
As empresas
envolvidas na produção de automóveis autónomos têm feito grandes progressos,
e os problemas
tecnológicos levantados pela exigência de autonomia estão quase resolvidos.
Subsiste, todavia, um
problema ético: os automóveis autónomos podem ser programados para, em caso de
acidente iminente, darem prioridade à segurança dos seus passageiros ou, em
alternativa, darem prioridade à minimização do número total de vítimas.
Qual das duas
programações referidas seria adotada por um defensor da ética de Mill?
Justifique.
2016 1ª fase
1. Será que, de acordo
com a ética utilitarista de Mill, quando calculamos as consequências dos nossos
atos, temos a obrigação de dar prioridade aos nossos familiares, amigos e
vizinhos mais próximos? Porquê?
2. Segundo Kant, a
máxima de que devemos diminuir os outros para ver reconhecida a nossa
superioridade não está de acordo com o imperativo categórico, tal como é
apresentado na fórmula da lei universal, porque
(A) a sua adoção
universal anularia o nosso sentimento de igualdade.
(B) não tem em conta
o interesse próprio de todos os agentes.
(C) a sua adoção por
todos os agentes teria consequências negativas.
(D) não é possível
universalizá-la sem que ela se anule a si mesma.
2016 1ª fase
Leia o texto.
Que
outra coisa pode ser, pois, a liberdade da vontade senão autonomia, isto é, a
propriedade da vontade de ser lei para si mesma? […] Vontade livre e vontade
submetida a leis morais são uma e a mesma coisa.
I.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
Lisboa, Edições 70, 1988, p. 94
(adaptado)
1. Explique por
que razão, segundo Kant, «vontade livre e vontade submetida a leis morais são
uma e a mesma coisa».
2014 2ª fase
1. Leia o texto
seguinte.
É na verdade conforme
ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente, e,
quando o movimento do negócio é grande, o comerciante esperto também não faz
semelhante coisa, mas mantém um preço fixo geral para toda a gente, de forma
que uma criança pode comprar no seu estabelecimento tão bem como qualquer outra
pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isso ainda não é bastante para
acreditar que o comerciante assim proceda por dever e por princípios de
honradez; o seu interesse assim o exige […].
I.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
Lisboa, Edições 70, 1988, p. 27
(adaptado)
1. Distinga,
partindo do exemplo dado por Kant, agir por dever de agir em conformidade com o
dever.
2. Explique, de
acordo com Kant, a relação entre autonomia e boa vontade.
3. De acordo com
Kant, uma pessoa que, motivada pela obediência a um mandamento da religião que
professa, dá assistência a quem vive numa situação de pobreza
(A) age, neste caso,
apenas por dever.
(B) age, neste caso,
por respeito à lei moral.
(C) não tem, neste
caso, uma vontade autónoma.
(D) é uma pessoa que,
neste caso, se autodetermina.
Leia o texto
seguinte.
O utilitarismo exige
que o agente seja tão estritamente imparcial entre a sua própria felicidade
e a dos outros como
um espectador desinteressado e benevolente.
J.
S. Mill, Utilitarismo, Lisboa,
Gradiva, 2005, pp. 63-64
1. Há quem critique a
exigência referida no texto por ser excessiva.
Dê um exemplo que
ilustre essa crítica ao utilitarismo. Na sua resposta, comece por explicitar a
exigência referida no texto.
2014 2ª fase
Leia o texto
seguinte.
É perfeitamente compatível com o princípio de utilidade reconhecer
que alguns tipos de prazer são mais desejáveis do que outros [...]. É melhor
ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor ser um
Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma
opinião diferente, é porque só conhecem o seu próprio lado da questão. A outra
parte da comparação conhece ambos os lados.
J.
S. Mill, Utilitarismo, Lisboa,
Gradiva, 2005, pp. 52-54 (adaptado)
1. Caracterize, a partir
do texto, a perspetiva de Mill sobre a felicidade.
2018 1ª fase.
1. Segundo a perspetiva utilitarista, a única coisa desejável por si mesma é
(A) a felicidade.
(B) o dever.
(C) a boa vontade.
(D) a justiça.
2018 1ª fase
1. Considere o caso seguinte.
Um agressor apoderou-se de um tanque de guerra e
manifestou publicamente a intenção de matar centenas de pessoas. Fez ainda um
refém inocente, que mantém no tanque, usando-o como escudo humano. Destruir o
tanque, matando o agressor e o refém, é a única alternativa capaz de evitar a
morte de centenas de pessoas. De acordo com a ética de Mill, num caso como o
apresentado,
(A) é obrigatório abstermo-nos de agir.
(B) é permissível abstermo-nos de agir.
(C) é obrigatório destruirmos o tanque.
(D) é proibido sacrificarmos inocentes.
Leia
o texto seguinte.
Não existe sistema
moral algum no qual não ocorram casos inequívocos de obrigações em
conflito. Estas são
as verdadeiras dificuldades, os momentos intrincados na teoria ética e na
orientação
conscienciosa da conduta pessoal. São ultrapassados, na prática, com maior ou
menor sucesso,
segundo o intelecto e a virtude dos indivíduos; mas dificilmente pode alegar-
-se que alguém está
menos qualificado para lidar com eles por possuir um padrão último para
o qual podem ser
remetidos os direitos e os deveres em conflito. Se a utilidade é a fonte última
das obrigações morais, pode ser invocada para decidir entre elas quando as suas
exigências são incompatíveis. Embora a aplicação do padrão possa ser difícil, é
melhor do que não ter padrão algum […].
S.
Mill, Utilitarismo, Lisboa,
Gradiva, 2005 (adaptado)
1. Stuart Mill afirma
que «a utilidade é a fonte última das obrigações morais» (linhas 6 e 7).
Esclareça o conceito
de «utilidade», integrando-o na ética de Stuart Mill.
2. Atente na primeira
afirmação do texto de Stuart Mill: «Não existe sistema moral algum no qual não
ocorram casos inequívocos de obrigações em conflito.» (linhas 1 e 2).
Confronte as
perspetivas de Kant e de Stuart Mill acerca da forma de resolver conflitos de
obrigações.
Na sua resposta,
recorra a um exemplo de conflito de obrigações.
2015 1ª fase
1. Haverá alguma
circunstância em que seja moralmente aceitável matar uma pessoa inocente, sem o
seu consentimento, para salvar a vida de outras cinco pessoas?
Apresente as
respostas que Kant e que Mill dariam à questão anterior, comparando-as.
2015 2ª fase
1. A maximização da
utilidade, defendida por Mill, obriga a
(A) considerar
imparcialmente o bem de cada pessoa.
(B) dar prioridade às
pessoas que nos são mais próximas.
(C) satisfazer apenas
o nosso interesse próprio racional.
(D) valorizar mais a
comunidade do que o indivíduo.
2015 2ª fase
1. A perspetiva ética de
Mill enfrenta a objeção seguinte.
(A) A felicidade não
pode ser uma questão meramente quantitativa.
(B) É errado não dar
prioridade aos interesses da maioria das pessoas.
(C) Temos de ser
responsáveis pelas consequências do que fazemos.
(D) Dar sempre
prioridade à felicidade geral é demasiado exigente.
2015 2ª fase
«Não mintas se queres
que acreditem em ti quando dizes a verdade.»
O imperativo anterior
é hipotético ou categórico?
1. Justifique a sua
resposta, distinguindo os dois tipos de imperativo.
2014
1ª fase
Leia
o texto seguinte.
O valor moral da ação não reside, portanto, no efeito que dela se espera […]. Nada senão a representação da lei em si mesma, que em verdade só no ser racional se realiza, enquanto é ela, e não o esperado efeito, que determina a vontade, pode constituir o bem excelente a que chamamos moral, o qual se encontra já presente na própria pessoa que age segundo esta lei, mas não se deve esperar somente do efeito da ação.
O valor moral da ação não reside, portanto, no efeito que dela se espera […]. Nada senão a representação da lei em si mesma, que em verdade só no ser racional se realiza, enquanto é ela, e não o esperado efeito, que determina a vontade, pode constituir o bem excelente a que chamamos moral, o qual se encontra já presente na própria pessoa que age segundo esta lei, mas não se deve esperar somente do efeito da ação.
I.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
Lisboa, Edições 70, 1988,
pp. 31-32 (adaptado)
1. Compare, a partir do
texto, a perspetiva de Kant com a de Mill relativamente àquilo que determina o
valor moral da ação.
2013 1ª fase
Leia o texto
seguinte.
Ora todos os
imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente. Os hipotéticos
representam a
necessidade prática de uma ação possível como meio de alcançar qualquer
outra coisa que se
quer (ou que é possível que se queira). O imperativo categórico seria
aquele que nos
representasse uma ação como objetivamente necessária por si mesma, sem
relação com qualquer
outra finalidade. […] No caso de a ação ser apenas boa como meio para qualquer
outra coisa, o imperativo é hipotético; se a ação é representada como boa em
si, por conseguinte, como necessária numa vontade em si conforme à razão, como
princípio dessa vontade, então o imperativo é categórico.
I.
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
Lisboa, Edições 70, 2011
1. A partir do texto,
mostre por que razão, para Kant, a ação com valor moral se fundamenta no
imperativo categórico e não em imperativos hipotéticos.
Na sua resposta,
integre, de forma pertinente, informação do texto.
2. Será que há
deveres morais absolutos?
Compare as respostas
de Kant e de Stuart Mill a esta questão.
2018 1ª fase.
1. Leia o texto seguinte. Uma pessoa, por uma série de desgraças, chegou ao
desespero [...]. A sua máxima […] é a seguinte: Por amor de mim mesmo, admito
como princípio que, se a vida, prolongando-se, me ameaça mais com desgraças do
que me promete alegrias, devo encurtá-la. [...] Vê-se então [...] que uma
natureza cuja lei fosse destruir a vida em virtude do mesmo sentimento cujo
objetivo é suscitar a sua conservação se contradiria a si mesma.
I. Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
Lisboa, Edições 70,
1986, p. 63.
1. Explique como Kant, recorrendo à fórmula da lei universal do imperativo
categórico, condena o suicídio.
2. Segundo Kant, uma pessoa que, nas circunstâncias descritas no texto,
optasse pelo suicídio agiria de modo autónomo ou heterónomo? Justifique a sua
resposta.
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