Argumento cosmológico
"Vários argumentos estreitamente relacionados para a existência de Deus baseiam-se na aparente necessidade de o universo como um todo ter uma causa. Parecem existir três possibilidades. Ou o universo começou a existir por si; ou existiu desde sempre; ou, então, foi trazido para a existência por alguma força ou ser extremamente poderoso. Geralmente, aqueles que acreditam em Deus acham incrível que o universo possa ter chegado à existência apenas por si e igualmente incrível que possa ter já existido durante uma quantidade infinita de tempo. Acreditam que um ser extremamente poderoso, Deus, o deve ter criado. Esta é uma das razões que as pessoas dão com mais frequência para acreditar em Deus".
William Godoy
Ficha de trabalho
1. Por que razão o argumento
cosmológico é a posteriori?
2. Qual é a ideia central do
argumento cosmológico de Tomás de Aquino?
3. O
argumento cosmológico de Tomás de Aquino é logicamente válido. Recordando a
matéria lecionada de lógica proposicional, constrói um inspetor de
circunstâncias para provar que este argumento é válido.
4. Quais são as principais
críticas que se podem apresentar ao argumento cosmológico?
5. Considera que se pode formular um argumento cosmológico que evite
alguma das críticas anteriormente referidas? Justifique.
Soluções - Ficha de
trabalho
1. Um argumento a priori é um
argumento cujas premissas são a priori, ou seja, tem apenas premissas que podem
ser conhecidas independentemente da experiência do mundo. Pelo contrário, um
argumento a posteriori é um argumento em que pelo menos uma das suas premissas
é a posteriori, isto é, pelo menos uma das suas premissas baseia-se em
informação sobre como o mundo realmente é. Seguindo este critério, o argumento
cosmológico é um argumento a posteriori, dado que tem as seguintes premissas
empíricas: existem coisas no mundo e essas coisas foram causadas a existir por
alguma outra coisa.
2. A ideia central do argumento é
a seguinte: parte-se de factos simples acerca do mundo, como o facto de nele
haver coisas cuja existência é causada por outras coisas, para daí concluir que
tem de haver uma primeira causa, ou seja, Deus.
3. Para se mostrar a validade do
argumento de Tomás de Aquino devemos começar pela construção do respetivo
dicionário:
P = Existem coisas no mundo.
Q = As coisas do mundo foram
causadas a existir por alguma outra coisa.
R = Há uma cadeia causal que
regride infinitamente.
S = Há apenas uma primeira causa
que é a origem da cadeia causal.
Com base neste dicionário, a
forma lógica do argumento é a seguinte:
P, (P→Q), (Q→(R∨S)),
¬R ∴ S Com esta formalização pode-se construir
um inspetor de circunstâncias (ver aqui) e pode-se constatar que não há nenhuma
circunstância em que as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa; por
isso, o argumento é válido.
4. Pode-se criticar o argumento
de Tomás de Aquino pelo facto de cometer a falácia do falso dilema. Isto
porque, na premissa 3, além da opção de cadeia de regressão infinita, e da
opção de haver apenas uma primeira causa, também se deveria considerar a opção
de haver várias primeiras causas diferentes. Além disso, pode-se argumentar que
podem existir cadeias causais infinitas. E, por fim, ainda que o argumento
fosse bom, não provaria que existe o Deus teísta, dado que a primeira causa não
tem de ser omnisciente ou moralmente perfeita.
5. Por exemplo, uma forma de
evitar a crítica do falso dilema é argumentar que «Tudo o que começa a existir
tem uma causa para a sua existência; ora, o universo começou a existir; logo, o
universo tem algum tipo de causa para a sua existência.»
Domingos Faria
Lola
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