Noções de Lógica
Tese, Verdade, Argumento, Validade e Solidez
1. A Filosofia aborda problemas
fundamentais acerca do TODO (Ser, Conhecer, Valores, Agir....);
2. Para encontrar
respostas aos problemas que colocam, os filósofos recorrem à
discussão crítica e à argumentação;
3. O ponto de partida da
Filosofia são os problemas.
A. Os problemas
filosóficos devem ser bem formulados.
Por exemplo: o problema da justiça da guerra pode ser formulado assim - Poderá
haver guerras justas?
B. Os
filósofos também devem ser capazes de esclarecer um problema, ou seja, explicar o seu
conteúdo e a sua relevância/importância. Exemplo: "O problema da justiça
na guerra consiste em procurar determinar se existem (ou não) situações que
justificam o recurso ao conflito armado entre diferentes Estados ou comunidades
políticas. Este problema é importante porque.... (argumentação dos filósofos).
C. O filósofo
pretende relacionar o
problema que vai abordar com outros temas/problemas filosóficos. Exemplo: o
problema da justiça na guerra pode relacionar-se com a moralidade
das nossas acções, ou seja, com a reflexão acerca do que torna uma acção boa ou
má.
4. Um outro aspecto
importante do trabalho filosófico consiste em analisar conceitos. Um
conceito é uma ideia geral e universal acerca das características comuns a um
conjunto de seres, como por exemplo: Escola, Homem, Liberdade, Mesa, Cavalo.
A. Os
conceitos são ideias (são mentais), exprimem-se em termos
que são a expressão verbal (oral ou escrita) dos conceitos.
B.
Termos diferentes podem expressar o mesmo conceito. Termos diferentes
podem expressar o mesmo conceito. Por exemplo: Hortênsia e Hidranja.
C. Um
termo pode referir-se a mais que um conceito. exemplo: "Canto" pode
ser o canto do pássaro, o canto da sala ou o canto da igreja.
D. Um
conceito pode ter vários termos. Por exemplo: Aluno, Aluno do ensino
secundário, Aluno português do ensino secundário.
5. Teses
ou Teorias
As teses ou teorias são
as diferentes respostas dadas pelos filósofos para responder aos problemas que
eles próprios colocam.
Uma tese filosófica é
uma resposta a algum problema filosófico.
As teses
articulam-se com outras teses que as suportam ou complementam.
Normalmente as teses
apresentam-se sob a forma de frases declarativas.
Os filósofos chamam
proposições aquilo que é expresso por uma frase declarativa.
6. Proposições
e não proposições
O que é uma proposição?
É uma frase/enunciado declarativo que pode ser VERDADEIRO ou FALSO.
Por exemplo: Paris é a
capital de França - é uma proposição verdadeira. Paris é a capital
de Portugal é uma proposição falsa.
Toda a proposição tem um
conteúdo verdadeiro ou falso.
Não são proposições as frases:
- Interrogativas: O João
fechou a porta?
- Exclamativas: Oxalá o
João chegue cedo!
- Imperativas (ordens):
João, feche a janela.
- Conselhos: Penso que o
João deveria estudar mais.
-
Proposição: O João fechou a porta.
Nem
todas as frases declarativas são proposições.
Por exemplo:
"Incolores teorias vermelhas dormem profundamente" - é uma frase
absurda e por isso não exprime nenhum pensamento verdadeiro ou falso.
Apenas as frases
declarativas, que não são absurdas, expressam proposições.
Uma frase é um item
linguístico e a proposição é o seu significado ou conteúdo.
Há
frases diferentes que exprimem o mesmo conteúdo. Por exemplo: “Paris é a capital de
França”, “A capital de França é Paris”, “Paris is the capital town of France”.
As três frases são todas
verdadeiras, exprimem uma proposição verdadeira.
Uma frase nunca é uma
proposição pois apenas o é se for VERDADEIRA ou FALSA – se tiver um valor de
verdade.
7. Verdade
O filósofo deve
apresentar teses que sejam verdadeiras. A verdade de uma tese ou de uma
proposição é a característica de ela representar adequadamente as coisas como
elas são, caso isso não aconteça a tese ou proposição é falsa.
A verdade é a adequação entre o que é dito e a realidade.
Por exemplo:
- “Há extraterrestres em
Portugal”, só é verdadeira se houver extraterrestres.
- “Toda a arte
representa algo” só é verdadeira se não houver mesmo obras de arte que não
representem algo, caso contrário é falsa.
8. Argumento
A argumentação assume-se como um dos aspectos mais importantes do trabalho filosófico na medida em que as teorias devem ser suportadas por bons argumentos.
O filósofo deverá ser capaz de formular argumentos, avaliar argumentos e contra-argumentar.
Uma tese é defendida com vários argumentos. Um argumento é o conjunto (que pode variar) de proposições articuladas em que uma é apoiada pelas outras.
A proposição que se procura apoiar ou defender é a CONCLUSÃO e as que apoiam esta são as PREMISSAS do argumento.
A conclusão não tem que surgir em último lugar, nem as premissas têm de surgir antes da conclusão. O importante é identificar a conclusão e as premissas que a suportam.
Num argumento, embora o número de premissas seja variável, a conclusão é só uma.
Podemos apresentar os argumentos na “forma canónica” ou “forma padrão” com as premissas separadas e a conclusão no fim.
Por exemplo: Todo o Homem é Mortal
Sócrates é Homem
Logo, Sócrates é mortal.
Muitas vezes num texto encontramos os argumentos misturados com outras informações e considerações laterais, daí que seja importante identificar os argumentos e avaliar cada um deles como bom ou mau argumento.
Como identificar premissas e conclusão?
a. Identificar a conclusão
b. Identificar as premissas
c. Completar o argumento
d. Formular explicitamente o argumento.
Um exemplo:
“É claro que Deus não existe! Deus não permitiria que existisse o mal no mundo, por isso, Deus não existe”.
Na forma padrão:
Se Deus existisse, o mal não existia
O mal existe
Logo, Deus não existe
Qual é a ideia que o autor do argumento quer defender?
Quem apresenta este argumento quer convencer-nos a acreditar em quê?
DEUS NÃO EXISTE - é a conclusão (pela expressão “por isso”)
Quais são as premissas? Que razões apresenta o autor para defender a sua conclusão?
- A existência de Deus é incompatível com a existência do mal no mundo.
Indicadores de Premissas e conclusão
Existem expressões linguísticas que servem para indicar os chamados “indicadores de premissas” e “indicadores de conclusão”.
Indicadores de Premissas |
Indicadores de Conclusão |
Porque… Pois… Dado que Visto que … Devido a … Já que … A razão é que … Supondo… ......... |
Logo … Portanto … Consequentemente… Por isso… Daí que … Por conseguinte… Infere-se que … Como tal… Assim… ....... |
9.
Validade
Uma vez identificados os argumentos a favor ou contra uma tese, é preciso averiguar se tais argumentos são aceitáveis ou não. Será que as premissas apoiam, efectivamente, a conclusão? Será que a conclusão se segue logicamente das premissas?
Isto faz-se analisando dois
aspectos: um acerca da relação entre as premissas e a conclusão (validade ou
invalidade do argumento) e outro acerca da credibilidade das premissas (solidez
do argumento).
A
validade é uma característica ou propriedade dos argumentos como um todo e não
das premissas ou da conclusão.
Exemplo:
A. A Sofia fala francês e é portuguesa. Portanto é portuguesa.
B. A Sofia fala francês ou é portuguesa.
Portanto, é portuguesa.
Nestes dois argumentos a conclusão é: “A Sofia é portuguesa”. Mas serão os
argumentos válidos? Ou seja, as conclusões dos argumentos derivam ou seguem logicamente as
premissas?
O que torna válido um argumento?
Num argumento válido a verdade das premissas garante a verdade da conclusão, ou seja:
·
É impossível todas as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa;
·
A conclusão não pode ser falsa se as premissas forem verdadeiras;
·
A conclusão tem de ser verdadeira se as premissas forem verdadeiras.
Um argumento válido pode ter premissas e conclusão falsas, mas o que não pode acontecer nunca num argumento válido é ter todas as premissas verdadeiras e conclusão falsa, por exemplo dar uma notícia falsa baseada em informações verdadeiras.
Também podemos raciocinar bem e chegar a uma conclusão falsa, basta que
alguma das premissas de que partimos seja falsa.
Então, o que raciocinar correcta ou incorrectamente?
Para raciocinar correctamente/validamente ou invalidamente não tem a ver com as premissas ou conclusão serem, isoladamente,
verdadeiras ou falsas, mas antes com a ligação entre as premissas e a conclusão.
Voltemos aos exemplos:
A. A Sofia fala francês e é portuguesa. Portanto é portuguesa.
B. A Sofia fala francês ou é portuguesa. Portanto, é portuguesa.
Nestes dois argumentos a conclusão é: “A Sofia é portuguesa”. Mas serão os argumentos válidos? Ou seja, as conclusões dos argumentos derivam ou seguem logicamente as premissas?
No caso A. e dado que os argumentos válidos admitem qualquer combinação de valores de verdade menos uma (ter premissas verdadeiras e conclusão falsa), este argumento pode ser válido ou não:
- Sim, é possível este argumento ter premissa verdadeira e conclusão falsa - assim seria inválido;
Não, não é possível aquela conclusão ser falsa, caso a premissa seja verdadeira- assim seria válido.
No caso B., continuamos a não saber se a premissa do argumento é verdadeira ou falsa mas sabemos que nada impede a conclusão de ser falsa, mesmo que a premissa seja verdadeira, pois a Sofia pode falar francês e não ser portuguesa. Neste caso, a premissa será verdadeira, mas a conclusão será falsa. É possível um argumento ter a premissa verdadeira e a conclusão falsa - assim é inválido.
Síntese:
Conhecemos a conclusão, mas será que os
argumentos são válidos?
No 1º caso, o argumento pode ser válido ou
não.
No 2º caso, o argumento é inválido pois a
Sofia pode falar francês e não ser portuguesa.
Esquematizando:
Premissas |
Conclusão |
Validade |
A. Verdadeiras |
Verdadeira |
Válido ou inválido |
B. Falsas |
Falsa |
Válido ou inválido |
C. Falsas |
Verdadeira |
Válido ou inválido |
D. Verdadeiras |
Falsa |
NUNCA PODE SER VÁLIDO |
10. Solidez
Já sabemos que um argumento válido pode ter premissas falsa mas apresentar argumentos com premissas falsas, mesmo que válidos, é pouco ou nada convincente.
O facto de um argumento ser válido não é suficiente para nos convencer da verdade da sua conclusão.
Por isso, é necessário que além dos argumentos serem válidos, eles tenham premissas verdadeiras.
Chama-se sólido a um argumento válido com premissas verdadeiras. A solidez engloba a validade.
Exemplo de um argumento sólido:
Todo o Homem é racional
Kant é Homem
Logo, Kant é racional.
Exemplo de um argumento não sólido:
Nenhum mamífero põe ovos
O elefante é um mamífero
O elefante não põe ovos
Argumento válido com conclusão verdadeira, mas não é sólido pois a primeira premissa pode ser negada/refutada....o ornitorrinco põe ovos e é um mamífero.....
11. Cogência
Será que as premissas são mais plausiveis ou aceitáveis que a conclusão?
Para que um argumento seja persuasivo, a solidez não é suficiente e por isso é importante que depois de constatarmos se um argumento é sólido, devemos verificar se as premissas são mais plausiveis ou aceitáveis do que a conclusão - esta propriedade chama-se cogência.
Diz-se que um argumento é cogente quando este, além de ser sólido, tem premissas mais plausíveis ou aceitáveis que a conclusão.
Exemplo de um argumento cogente:
Se tenho febre alta, preciso de ir ao médico
Tenho febre alta
Logo, preciso ir ao médico.
Exemplo de um argumento não cogente:
Se tenho febre alta, preciso de ir ao médico
Não preciso de ir ao médico
Logo, não tenho febre alta.
Nota: este último argumento não nos dá boas razões para acreditar que não temos febre, uma vez que é mais fácil perceber se não temos febre do que perceber se não temos de ir ao médico.
Texto elaborado com base em dois documentos, um de Aires Almeida (Racionalidade Argumentativa da Filosofia (...) SPF e APF e outro de Domingos Faria/Luis Verissimo (Lógica Proposicional e outras ferramentas para o trabalho filosófico).
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