David Hume
(1711-1776)
1. Qual a origem do Conhecimento?
·
O entendimento humano é limitado para
conhecer;
·
Não há fundamento metafísico para o
conhecimento;
·
O conhecimento tem origem na experiência -
valoriza o que é conhecido;
·
Crenças e ideias vêm da experiência, até as
ideias mais complexas.
2. O que se capta pela experiência?
·
Da realidade o Homem tem percepções - as mais importantes são as
impressões;
·
Impressões são: Sensações, emoções, amor, ódio, revolta, paixão e
desejo;
·
As impressões representam-se em ideias ou pensamentos;
·
As ideias derivam das impressões;
·
Não há ideias sem impressões prévias;
·
Exemplo: A cor do carro é uma impressão sensorial;
· A memória da cor do carro é uma ideia (que deriva da impressão);
3. O que temos na mente?
·
Temos impressões e ideias;
·
As impressões distinguem-se das ideias pelo
grau de força e vivacidade com que as aprendemos;
·
As impressões são mais fortes e violentas do
que as ideias;
·
Por impressões, David Hume entende as
sensações, emoções, paixões, como quando vemos, ouvimos, desejamos, queremos, amamos
ou odiamos;
·
Para encontrar a diferença entre impressões e
ideias basta comparar a impressão visual que temos, por exemplo, da nossa
escola com a ideia que formamos dela quando não está presente aos nossos
sentidos;
·
A ideia da nossa escola é mais fraca e menos
viva do que a impressão;
·
Passa-se o mesmo com todas as impressões e
ideias;
·
Para distinguir duas percepções basta comparar
os respectivos graus de força e vivacidade para sabermos qual é a impressão e
qual é a ideia.
·
As percepções são mais fortes e mais vivas do
que as ideias.
Primeiro uma impressão atinge os nossos sentidos e faz-nos perceber calor ou frio, sede ou fome, prazer ou dor de qualquer espécie. Desta impressão a mente tira uma cópia, a qual permanece depois de desaparecer a impressão: é o que denominamos ideia. Esta ideia de prazer ou de dor, quando regressa à alma, produz novas impressões de desejo e aversão, de esperança e medo, que podem propriamente chamar-se impressões de reflexão, porque derivam dela.
( Tratado da Natureza Humana)
4. Quais os elementos do conhecimento?
· Para David Hume, há dois elementos no conhecimento: impressões e
ideias;
· Todo o conhecimento deriva da experiência e não de um fundamento metafísico como defendia Descartes.
Hume pensa que as ideias são causadas por impressões que copiam e
que representam exatamente.
As ideias simples são cópias e representam exatamente as impressões correspondentes.
Esta ideia é tão importante, que Hume faz dela o primeiro princípio da sua filosofia e é costume chamar-lhe Princípio da Cópia.
Todas as nossas ideias simples no seu primeiro
aparecimento derivam de impressões simples que lhes correspondem e que elas
representam exatamente. (Tratado da Natureza Humana)
5. Como se distingue uma ideia de uma ficção?
·
Pela existência ou não de uma impressão;
·
Não há ideias abstratas mas sim particulares com as quais relacionamos
outras semelhantes através do hábito.
"Podemos dizer que a ideia que temos de centauro é uma representação exata de um centauro? Não, porque nunca ninguém teve uma impressão de centauro. Podemos afirmar que a nossa ideia de Lisboa é uma representação exata da capital de Portugal? Também não, porque muitos detalhes que percepcionámos não foram incluídos na ideia que temos de Lisboa. Não é verdade, portanto, que todas as ideias tenham origem em impressões que representam exatamente. Há ideias que não derivam de qualquer impressão correspondente (o caso da ideia de centauro); e outras que, embora tenham origem em impressões, não constituem uma representação exata dessas impressões (como é o caso da ideia de Lisboa). No entanto, isto acontece, pensa Hume, apenas com as ideias complexas. As ideias simples são cópias e representam exatamente as impressões correspondentes.
Hume pensa que, embora a mente, graças à imaginação, seja capaz de associar ideias e pensamentos muito distintos, como quando pensamos numa montanha de ouro ou num cavalo virtuoso, e assim produzir ideias que não têm correspondência na realidade. " (In critica)
6. Que tipos ou modos de conhecimento defende
David Hume?
·
Hume defende dois tipos de conhecimento:
·
Relação de Ideias: está presente na ciência como a geometria,
álgebra e matemática; Todos os conhecimentos da lógica e da matemática
apresentam-se como evidentes, analíticos, necessários e baseiam-se no principio da não contradição. - VERDADE
NECESSÀRIA
·
Questões de facto: não
são objecto da razão humana; Não têm a mesma natureza da Relação de Ideias; Não
se baseiam no principio da não contradição; Justificam-se pela
experiência sensível e são proposições contingentes pois é
sempre possível afirmar o princípio contrário de um facto - VERDADE
CONTINGENTE.
Qual é a natureza daquela evidência que nos assegura de qualquer existência real e questão de facto, além do testemunho presente dos nossos sentidos ou dos registos da nossa memória.
(Investigação sobre o
Entendimento Humano, p. 42.)
Todos os raciocínios relativos a questões de facto parecem assentar na relação de causa e efeito. Somente por meio dessa relação podemos ir além da evidência da nossa memória e dos nossos sentidos. Se perguntássemos a alguém por que acredita em alguma questão de facto que esteja ausente — por exemplo, que um amigo se encontra no campo, ou em França, ele apresentar-nos-ia alguma razão, e essa razão seria algum outro facto, como uma carta recebida desse amigo, ou o conhecimento das suas decisões e promessas anteriores. Alguém que ache um relógio ou qualquer outra máquina numa ilha deserta concluirá que alguma vez estiveram homens nessa ilha. Todos os nossos raciocínios relativos a questões de facto são da mesma natureza. E aqui supõe-se sempre que há uma conexão entre o facto presente e aquele que dele é inferido.
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano.
|
|
Tipos de conhecimento |
|
Relações de Ideias |
Questões de facto |
São conhecimentos a priori. São verdades a priori, isto é, independentes da experiência, conhecidas por intuição e por demonstração A verdade das proposições e a validade dos
argumentos não dependem da experiência RACIOCINIO DEDUTIVO |
São conhecimentos a posteriori A verdade das proposições que se referem a
factos depende do exame empírico RACIOCÍNIO INDUTIVO |
As relações de ideias são verdades
necessárias É logicamente impossível a sua negação |
A verdade das proposições de facto
é contingente - verdades contingentes |
As proposições que exprimem e combinam
relações de ideias não nos dão conhecimento sobre o que se passa no mundo –
circunscrevem-se ao domínio das entidades abstratas |
As proposições que se referem a factos visam
descobrir coisas sobre o mundo e dar conhecimento sobre o que nele existe ou
acontece |
Exemplos O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos
quadrados dos dois lados Três vezes cinco é igual à metade de trinta |
Exemplos Que o Sol não se há-de levantar amanhã não é
uma proposição menos inteligível e não implica maior contradição do que a
afirmação de que ele se levantará. |
7. Distinga verdades necessárias e
verdades contingentes
·
A negação de uma afirmação acerca de questões
de facto não implica contradição alguma;
·
A negação de uma afirmação acerca de relações
de ideias implica contradição.
Exemplifique verdade contingente e verdade necessária.
VERDADE CONTINGENTE:
- Fernando Pessoa nasceu em Lisboa (poderia ter nascido no Porto)
- Um pedaço de
metal dilatou ao ser aquecido
VERDADE NECESSÀRIA:
- Nenhum solteiro é casado.
- O triângulo tem três lados (é impossível que um triângulo tenha
outro número de lados)
8. Distinga Conhecimento apriori e
Conhecimento a posteriori
·
As verdades contingentes só podem ser conhecidas recorrendo à
experiência - são conhecidas a posteriori;
·
As verdades necessárias não dependem de como é o mundo pois mesmo que o
mundo fosse diferente em muitos aspectos, continuariam a ser verdades. Nem
sequer precisamos de olhar para o mundo para as descobrirmos: são conhecidas a
priori.
·
As verdades matemáticas são relações de ideias e não questões de facto
pois podem ser demonstradas apenas pelo raciocínio
dedutivo, o qual se limita a tirar conclusões a partir de ideias que já
temos.
·
O raciocínio usado nas questões de facto
é diferente pois trata-se do raciocínio
indutivo: observo pegadas na areia e infiro que passou
por lá algum ser.
·
Assim, o conhecimento a priori, apesar de absolutamente certo, não é
acerca do mundo pois nem precisamos de olhar para ele.
·
Segundo Hume, há conhecimento a priori mas este nada nos diz acerca de
como são as coisas do mundo, nem o que existe fora do pensamento - algo que só
poderemos saber a posteriori.
·
Todo o conhecimento acerca do mundo (conhecimento substancial) tem nos
sentidos a sua justificação.
9. O que distingue as impressões e as ideias
simples e complexas?
·
David Hume divide as impressões e as ideias em simples e complexas.
·
As impressões e as ideias simples são
indivisíveis, isto é, não podem ser decompostas em mais simples e são, por
isso, as unidades cognitivas mais básicas com que a mente trabalha.
·
As ideias e as impressões
complexas, pelo contrário, podem ser decompostas em ideias simples e
impressões.
·
Por exemplo: a impressão e a ideia de Serra da Freita nevada são
complexas, uma vez que podem ser decompostas num conjunto de impressões e
ideias simples.
·
A impressão e a ideia de vermelho são simples porque não podem ser
decompostas em outras ideias mais simples.
10. Como se associam as ideias?
· David Hume defende que existem princípios que regulam a forma como as nossas ideias se associam entre si. Estes principios regulam a forma como as nossas ideias se unem entre si
Estes princípios são 3:
·
Semelhança- Exemplo: uma pintura e o original (Uma foto leva-nos a pensar no original);
·
Contiguidade no espaço e no tempo - Exemplo: uma mesa de sala de aula
lembra-nos outras da mesma sala ; (tal como um apartament leva-nos a pensar nos demais apartamentos de um prédio);
·
Relação de causa-efeito - Exemplo: uma queda/um ferimento origina dor.
11. David Hume e o princípio da causalidade
Se quisermos nos satisfazer a respeito da natureza dessa evidência que nos assegura das questões de facto, precisaremos de investigar como chegamos ao conhecimento das causas e efeitos.
Investigação
sobre o Entendimento Humano.
"Se afirmamos ter a ideia de ligação necessária devemos encontrar alguma impressão que esteja na origem desta ideia"
David Hume, Ensaio sobre o Entendimento Humano;
· Para Hume, como para outros filósofos, a ideia de causalidade não é uma
conexão necessária, nem um principio objectivo das coisas, mas
sim subjectivo pois é fruto do hábito ou costume de associarmos
continuamente certos factos a outros e de acreditarmos que o futuro será
semelhante ao passado, ou seja, há uma crença na regularidade da natureza;
· Afirmar “Esta barra de metal dilatou por causa
do calor” significa que os nossos sentidos nos mostram que a barra de metal
dilatou, mas não que dilatou por causa do calor. Através dos sentidos vemos a
barra de metal dilatada e descobrimos que está quente – mas os sentidos não nos
mostram que uma coisa aconteceu (dilatação) por causa de outra (calor).
· A conexão que estabelecemos entre dois acontecimentos é de
natureza subjectiva - trata-se de uma projecção do ser humano sobre a natureza.
A ideia de causa efeito não é uma conexão necessária entre acontecimentos
e resulta da observação da sua frequente conjunção.
· A explicação da causalidade não pode ser encontrada na razão, nem nas
próprias coisas, mas sim na experiência humana. Não se trata de uma conexão
necessária, mas apenas de uma conjunção constante entre eles.
· As relações causais estabelecem relações de necessidade entre a
causa e o efeito de tal modo que quando a causa ocorre o efeito tem de
seguir-se. Por exemplo: O apito do árbitro e o fim do jogo.
· Prevemos que isto vai acontecer em situações futuras;
· O princípio da causalidade é o fundamento de toda a investigação
científica;
· É o hábito que fundamenta a causalidade - pois leva a nossa mente a projetar no mundo a ideia de conexão necessária
entre acontecimentos.
· Há uma conexão necessária entre dois
acontecimentos quando um não pode ocorrer sem o outro.
12. Como podemos conhecer as conexões
necessárias entre diferentes acontecimentos?
" Atrever-me-ei a afirmar, a título de proposta geral que não admite excepções, que o conhecimento dessa relação em nenhum caso é alcançado por meio de raciocínios a priori mas deriva inteiramente da experiência, ou seja a posteriori, ao descobrirmos que certos objectos particulares se acham, constantemente, conjugados entre si".
David Hume - Ensaio sobre o entendimento
Humano;
· Há dois tipos de conhecimento: apriori - aquele que deriva da razão e a
posteriori - aquele que deriva da experiência.
· Não podemos dizer que tenhamos conhecimento a priori de causa de um
acontecimento ou de um facto;
· Embora Hume tivesse consciência da importância
que o Princípio da Causalidade teve na história da humanidade, o
filósofo vai submetê-lo a uma crítica rigorosa;
· Segundo Hume, o nosso conhecimento dos factos restringe-se às
impressões actuais e às recordações de impressões passadas;
· Se não dispomos de impressões relativas ao que acontecerá no futuro,
também não possuímos o conhecimento de factos futuros;
· Não podemos dizer o que acontece no futuro porque um facto futuro ainda
não aconteceu;
· Exemplo: Esperamos que um papel, em contacto com o fogo, se queime.
Esta certeza que julgamos ter (que o papel se queime) tem por base a
noção de causa, ou seja, atribuímos ao fogo a causa do papel se queimar.
13. Poderemos conhecer a ideia de causalidade?
Adão, ainda que supuséssemos que as suas faculdades racionais fossem inteiramente perfeitas desde o início, seria incapaz de inferir da fluidez e transparência da água que ela o sufocaria, nem da luminosidade e calor do fogo que este o poderia consumir. Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidades que aparecem aos sentidos, nem as causas que o produziram nem os efeitos que dele provirão; e tampouco a nossa razão é capaz, sem a ajuda da experiência, de fazer qualquer inferência a respeito de questões de facto e existência real.
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano.
· Segundo Hume, não dispomos de qualquer impressão da ideia de
causalidade entre os fenómenos;
· Só a partir da experiência é que se poderá conhecer a relação
causa-efeito;
· As causas e efeitos não podem ser conhecidos pela razão;
· É um conhecimento a posteriori e não à priori;
· Para o filósofo escocês não se pode ultrapassar o que a
experiência permite;
· A experiência é, pois, a única fonte de validade do conhecimento
dos factos.
· Só podemos ter conhecimento a posteriori;
· A única coisa que sabemos é que entre dois fenómenos se verificou, no
passado, uma conjunção constante, ou seja, que a seguir a um
determinado facto (A) ocorreu sempre outro facto (B);
· Exemplo: sempre que a bola de bilhar colide
com outra, vemos que a segunda se põe em movimento – temos tendência para
concluir que o movimento da primeira bola causou o movimento da segunda, ou
seja, concluímos que há uma relação de causalidade entre o primeiro
acontecimento e o segundo, com base na conjunção constante entre um e outro;
· O que nos garante que a conjunção constante observada
no passado entre certos acontecimentos se venha a verificar, também, no futuro
(por exemplo: que o metal dilate sempre que houver calor), tradicionalmente
(antes de Hume) defendia-se que há uma conexão necessária entre causa e efeito,
mas uma conexão necessária é algo mais que uma mera conjunção constante.
· Uma conexão necessária entre dois acontecimentos existe quando um não
pode ocorrer sem o outro;
· Acerca do conhecimento de factos futuros possuímos uma crença, uma
probabilidade baseada no hábito ou costume.
Mesmo depois de termos experiência das operações de causa e efeito, as conclusões que tiramos dessa experiência não estão fundadas no raciocínio ou em qualquer processo do entendimento.
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano.
Mesmo que os nossos raciocínios acerca de acontecimentos futuros tenham por ponto de partida premissas empíricas nunca é possível justificar racionalmente as conclusões a que chegamos por seu intermédio.
Descartes,
acreditavam que as relações causais eram conhecidas usando exclusivamente a
razão. A análise de Hume revela que não é pela razão mas pela experiência que
conhecemos as relações causais entre acontecimentos.
14. Qual o papel do hábito para David Hume?
· O hábito leva-nos a inferir uma
relação de causa-efeito entre dois fenómenos;
· Se no passado ocorreu sempre um
determinado facto a seguir a outro, então nós esperamos que no presente e no
futuro também ocorra assim.
· O hábito
ou costume permite-nos, a partir de experiências passadas e
presentes, dirigirmo-nos ao futuro.
· O
nosso conhecimento de factos futuros não é um conhecimento rigoroso, é
apenas uma convicção que se baseia num princípio
psicológico/subjectivo: o hábito ou costume.
· O hábito é um guia
importante para o nosso dia a dia.
· Como ainda não vivemos o futuro, o hábito
permite-nos esperar o que poderá acontecer e leva-nos a ter prudência, cuidado
ou boas expectativas.
· Como seres humanos, temos vontade, criando
a ideia de que o futuro seja previsível e, portanto, controlável.
15. O que é o princípio da regularidade da natureza?
· Segundo Hume, a mente associa um fenómeno
a outro através do hábito.
· O que nos leva a pensar que o futuro se
pareça ao passado é o Princípio da Regularidade da Natureza.
· O que é?
· Não é uma lei objectiva que esteja na
própria natureza mas, tal como a causalidade, é algo que o
ser humano projecta na natureza com base numa regularidade que é sentida
por ele.
· Um exemplo: Se até hoje a água ferveu a 100ºC,
é natural que no futuro tal venha a acontecer.
· Toda a inferência causal assenta na crença de que a natureza se comporta de modo uniforme pois a
não existir esta crença a vida seria um caos.
· A correspondência ou
harmonia entre a mente e o mundo deriva do hábito ou costume que é
necessário à vida humana.
· A experiência é mais
confiável que o raciocínio dedutivo.
· David Hume recusa a
dedução, valorizando a indução como único processo para conhecer os
fenómenos cujo ponto de partida são as impressões.
· Este conhecimento – a indução - não é
absolutamente certo mas apenas provável - pois é uma generalização de casos
particulares.
16.David Hume e o problema da Indução.
Mas, afinal, o que
é o problema da Indução?
Quando se pergunta Qual é a natureza de todos os nossos raciocínios acerca de questões de facto? a resposta adequada parece ser que eles assentam na relação de causa e efeito. Quando em seguida se pergunta Qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios e conclusões acerca dessa relação? pode-se dar a resposta numa palavra: experiência. Mas se ainda continuarmos com o nosso espírito inquiridor e perguntarmos Qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios a partir da experiência? Isto implica uma nova questão, que pode ser de ainda mais difícil solução e esclarecimento.
David Hume. Investigação sobre o Entendimento Humano.
A indução consiste numa inferência que decorre da
observação de um ou vários casos e das respectivas generalizações e
previsões. Apesar da base da indução ser a causalidade, esta
baseia-se numa mera repetição de eventos o que não significa que tal relação
seja necessária e, por isso, é difícil de prever que tal ocorra no futuro. Esse é problema da indução. |
O princípio da indução:
· Não é a priori (não é
uma verdade necessária e nenhum argumento dedutivo pode justificar as crenças
indutivas
· Não é a posteriori (consistiria num
argumento indutivo).
· Afirmar que a crença na uniformidade da natureza é justificada pela
experiência implicaria observar toda a natureza, sempre e em qualquer
lugar.
· A crença na uniformidade da natureza justificava-se de forma
indutiva afirmando que: se até agora a natureza se tem comportado de
determinado modo, acreditamos que ela se irá comportar, no
futuro, sempre do mesmo modo.
·Justificar a indução
com um raciocínio indutivo é um argumento falacioso ( petição de princípio).
·A indução não tem justificação racional nem empírica.
O raciocínio indutivo não é
justificável
↓
- Raciocinando indutivamente, geralmente tem-se chegado a conclusões corretas
- Mas continuará a indução a ser fiável?
- Acreditamos que sim mas não podemos justificar - não é possível justificá-la a priori (não é uma verdade necessária)
· Se não é possível justificar o Princípio da
Uniformidade da Natureza também não temos razão para pensar que as nossas
crenças acerca de acontecimentos futuros são verdadeiras.
· Este é o
famoso problema da indução, de que Hume foi o primeiro a dar conta.
· Até Hume, os filósofos e os cientistas pensavam que o nosso
conhecimento do mundo estava racionalmente justificado, ou por
raciocínios a priori, como os racionalistas pensavam, ou por
raciocínios com base na experiência, como os empiristas anteriores a Hume
pensavam.
·Hume mostrou que tanto os racionalistas como os empiristas estavam
enganados e que não podemos justificar racionalmente, nem a priori nem a
posteriori, os princípios que estão na base das nossas crenças acerca do
mundo.
· Portanto, as nossas crenças sobre o mundo não constituem
conhecimento.
·Significa isto que estas nossas crenças sejam totalmente
injustificadas?
· Hume não o pensa, embora a justificação que encontra para elas não tenha origem na razão, mas na natureza humana.
17. Poderemos considerar David Hume um céptico
moderado?
· Sim, porque defende que a nossa razão é
incapaz de formular leis da natureza de que é exemplo a Ideia de
Causalidade.
· Não é possível alcançarmos a certeza acerca do mundo
pois o conhecimento de factos, com base em raciocínios indutivos e em crenças,
apenas permite um conhecimento provável.
· O cepticismo moderado é, segundo Hume, útil e aceitável pois prepara o estudo da
Filosofia.
18. Que críticas se podem apresentar a David Hume ?
- Hume tem sido frequentemente acusado de ceticismo e de irracionalismo.
- Em primeiro lugar, o
facto de Hume ter mostrado que não existe uma justificação racional para as
nossas inferências causais. - muitos filósofos pensam que Hume
provou não haver razão para preferir a ciência à superstição.
- Em segundo lugar, ter
substituído a justificação racional pelo hábito, uma espécie de instinto
natural sobre o qual a razão não tem poder ou seja, ter substituído a razão
pelos instintos.
- No entanto, Hume pensa que existem razões para preferir a ciência à
superstição - As teorias da ciência são
suportadas pela observação e pela experiência, pela uniformidade da natureza,
ao contrário do que acontece com as crenças supersticiosas.
- Hume não considera, por isso, a sua filosofia uma forma de
irracionalismo, mas sim daquilo a que chamamos hoje naturalismo, e não duvida de que estabelecemos
relações causais e raciocínios indutivos e de que devemos confiar nas suas
conclusões. Mas pensa que a causa para essa confiança não é a razão mas sim a
natureza.
- Hume vê nesta necessidade natural a justificação adequada e
suficiente das nossas crenças sobre o mundo.
- Embora não possamos justificar racionalmente essas crenças, a
natureza fez-nos de modo a termos uma propensão para que certas experiências
passadas nos levem inevitavelmente a ter certas crenças sobre o futuro.
Isto é tudo o que precisamos para confiarmos na verdade destas crenças
e para demarcar a ciência da superstição.
- O resultado último da filosofia
de Hume foi ter mostrado que, ao contrário do que acreditamos, não temos conhecimento do mundo, seja no
sentido de verdade indubitável seja no sentido de crença racionalmente
justificada.
- Hume chamou à atenção para o problema da indução, problema este que
está na base do debate filosófico contemporâneo, em particular, na Filosofia da
Ciência.
· A experiência é mais confiável que o raciocínio dedutivo.
· David Hume recusa a dedução, valorizando a indução como único processo
para conhecer os fenómenos cujo ponto de partida são as impressões.
· Este conhecimento não é absolutamente certo mas apenas provável - pois
é uma generalização de casos particulares.
Os nossos raciocínios acerca de questões de facto baseiam-se na relação de causa e efeito. A relação de causa e efeito, por sua vez, baseia-se na experiência
Assim....
....não há fundamento racional para afirmarmos, como os empiristas faziam, que podemos ter crenças razoáveis acerca de acontecimentos futuros!
E David Hume exemplifica:
O pão que antes comi alimentou-me, isto é, um corpo com determinadas qualidades sensíveis estava, naquele momento, dotado de determinados poderes secretos. Mas segue-se daí que outro pão deva igualmente alimentar-me em outra ocasião, e que qualidades sensíveis idênticas devam estar sempre acompanhadas de idênticos poderes secretos? É uma consequência que de modo algum parece necessária. É preciso, pelo menos, reconhecer que aqui houve uma consequência tirada pela mente, que se deu um certo passo: um processo de pensamento e uma inferência que estão a exigir uma explicação.
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano
Será que é possivel afirmar. se....
Sempre que no passado comi pão ele alimentou-me.
Portanto, da próxima vez que comer pão ele alimentar-me-á - poderá não ser verdade!.
• Nas Impressões estão incluídas as sensações, as emoções e as paixões, enquanto experiências vividas pelo sujeito.
• A percepção de algo presente aos sentidos é sempre mais viva do que a sua representação.
• Impressão: Cor de uma flor que os olhos veem; Dor de dentes vivida.
• Ideia: Memória dessa cor; Lembrança da dor de dentes.
Em que consiste o problema da causalidade, segundo Hume?
Ao raciocinarmos sobre questões de facto estabelecemos relações de causalidade. A ideia de causalidade como conexão necessária é, assim, a base dos nossos conhecimentos sobre o mundo. Acontece que esta ideia não pode ser justificada a priori (não pode ser inferida apenas com base na razão, independentemente da experiência), nem tão pouco a posteriori (pois isso implicaria que tivéssemos a impressão correspondente, o que não acontece). A causalidade resulta de uma tendência psicológica, não existe nos objetos. Forma-se na nossa mente em virtude do costume ou do hábito de observarmos repetidamente que dois fenómenos ocorrem conjunta e sucessivamente. Porque o passado me mostrou existir uma conjunção constante entre A e B, tendo a imaginar que existe uma conexão necessária, uma relação de causalidade, isto é, que um é necessária e inevitavelmente a causa do outro. Contudo, esta crença não está justificada. Nunca observamos qualquer conexão necessária, apenas conjunções constantes, que podem ser arbitrárias e casuais. Nisto consiste o problema da causalidade.
Em que consiste o problema da indução, segundo Hume?
O problema da causalidade cruza-se, na proposta de Hume, com um outro problema, o da indução. As inferências indutivas são a base do nosso conhecimento sobre o mundo. Estarão elas justificadas? Segundo Hume, não. Só poderíamos confiar na indução se partíssemos do princípio de que a natureza é uniforme e regular, sem lugar para imprevistos. Acontece que a nossa crença na regularidade da natureza é ela própria fundada na indução. Estamos, pois, encerrados numa petição de princípio, numa justificação circular que nada justifica: todos os nossos argumentos indutivos pressupõe a crença de que a natureza é regular, crença esta que, por sua vez, foi construída com base em inferências indutivas. A ideia de que a natureza é uniforme é uma verdade contingente, pois é perfeitamente possível que a natureza não seja uniforme e que o futuro não repita o passado. O exemplo do ornitorrinco é revelador de que o número de observações que serve de base a uma indução é logicamente independente da verdade da conclusão.
Amália nasceu em Lisboa Verdade Contingente
Nenhum preto é branco Verdade Necessária
Um pedaço de metal dilatou ao ser aquecido Verdade Contingente
Um triângulo tem três lados Verdade Necessária
Identifique QUESTÕES DE FACTO e RELACÕES DE IDEIAS:
Deus existe ou não existe RELAÇÃO DE IDEIAS
Deus existe QUESTÃO DE FACTO
Três morangos são mais que dois RELAÇÃO DE IDEIAS
O sol vai nascer amanhã QUESTÃO DE FACTO
As coisas velhas não são novas RELAÇÃO DE IDEIAS
Os planetas têm órbitas elípticas QUESTÃO DE FACTO
Pedro Abrunhosa é um musico português QUESTÃO DE FACTO
A relação de causa e efeito é uma relação de CAUSALIDADE
Habitualmente concluímos que há uma relação de causa e efeito com base NUMA CONJUNÇÃO CONSTANTE
Há uma conexão necessária entre dois acontecimentos quando UM NÃO PODE OCORRER SEM O OUTRO
A conexão necessária entre dois acontecimentos é algo que não CONSEGUIMOS OBSERVAR
Conjunção constante e conexão necessária são COISAS DIFERENTES
A nossa convicção de que há uma conexão necessária entre acontecimentos é apenas fruto do HÁBITO
Sem comentários:
Enviar um comentário