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Subjetivismo e Objectivismo Estético
AVALIAÇÃO ESTÉTICA
Quando se trata de falar do valor estético de uma
obra, isto é, da sua avaliação em termos artísticos várias questões
surgem: “O que se entende por valor estético?»; “O que
significa atribuir valor estético a um objeto?”;
“Qual o fundamento dessa atribuição?”
Há várias doutrinas sobre o valor estético
do objeto artístico. É costume classificá-las em dois grandes campos:
a) As teorias
objetivistas – afirmam que aquilo que
torna esteticamente valioso um objeto é as propriedades constitutivas
do próprio objeto;
b) As teorias
subjetivista – afirmam que o fundamento
do valor estético de um objeto não é as suas propriedades objetivas
mas sim a sua relação com os consumidores estéticos (ou
seja, têm de satisfazer, de provocar experiências estéticas, etc.).
SUBJETIVISMO ESTÉTICO
Afirmações tais como «Quando digo que algo é
belo, quero dizer que me agrada” e “A beleza é algo
subjetivo: uma coisa é bela para ti se te agrada e não é bela para mim se
não me agrada” são claramente subjetivista. O subjetivismo em teoria estética, embora possa apresentar-se consideravelmente
mais sofisticado do que nas afirmações anteriores, defende tenazmente que não estão nos objetos estéticos
as propriedades realizadoras da beleza, mas sim em nós, nas nossas
reações perante eles: a atribuição do valor
estético só pode dar-se validamente, segundo esta teoria, quando o observador
reage de determinada forma ao objeto. Por outras palavras a beleza é
sempre uma característica «para ti” ou «para mim“. «Isto é belo
para mim» careceria de sentido se a beleza fosse uma característica
objetiva das coisas, como, por exemplo, a forma quadrada. ( ...
)
Chamar bela a uma pintura é referir uma relação entre o sujeito e o objeto estético: em geral, a relação de lhe agradar esteticamente.
OBJECTIVISMO ESTÉTICO
Ao contrário das teorias subjetivistas, as teorias objetivistas postulam que
quando atribuímos valor estético a uma obra de arte estamos a
atribuir esse valor à própria obra.
Este valor funda-se na natureza do objeto, não no facto de que este
agrade ou satisfaça a maioria dos observadores ou os observadores de uma
certa classe. Se lhes agrada, isso decorre do
fato de possuir valor estético. Assim, a atribuição
do valor estético não deriva do fato de a obra agradar aos
observadores ou aos críticos de arte. O que a obra de arte exige do
observador é um juízo ponderado sobre o seu mérito; e este juízo só
pode basear-se nas propriedades da obra, não nas qualidades do observador
ou na sua relação com a obra.
Há alguma propriedade ou conjunto de propriedades que
constituam o valor estético de uma obra? Há alguma série de
propriedades (A, B, C, … N) que estando presentes garantem que o objeto
estético é bom e, não estando, garantem que ele não o é? Uma postura
habitual relativa a este problema assegura que existe uma
propriedade comum a todos os objetos estéticos que neles pode estar
presente em diversos graus (p.ex.: a claridade ou a intensidade). Essa
propriedade denomina-se geralmente beleza.
Deve-se, contudo, perguntar: o que constitui a
beleza e como reconhecer a sua presença? A isto se responde frequentemente
dizendo que a beleza é uma propriedade simples, não analisável, cuja
presença só pode ser intuída e não determinada por meio de
testes empíricos. Diz-se «A beleza é diretamente apreendida pela mente do
mesmo modo que é apreendida a figura.” Tal afirmação
suscita novas questões. Geralmente estamos de acordo quanto à
figura de um objeto e se não o estamos basta submeter as nossas concepções
a provas empíricas. Contudo, quanto a saber se esse objeto é belo não
se pode chegar assim a um acordo. Ele é difícil e
muitas vezes impraticável. Podemos dizer que uma das partes em litígio
está equivocada, mas não há modo nenhum de determinar quem está errado,
uma vez que a propriedade em questão não é
empiricamente verificável, já que só pode ser intuída: e é um fato notório
que as pessoas têm intuições conflitantes. Quanto a isto, tudo o que
parecemos capazes de dizer é o seguinte: «Agora acaba a argumentação e
começa a luta.”
A menos que tenhamos alguma chave para resolver as
controvérsias em torno do valor estético, este conceito de beleza
afigura-se inútil. Contudo, é realmente difícil chegar a um critério válido e
verdadeiro, porque as propriedades dos objetos estéticos que os
críticos citam são muito variadas e diferem consideravelmente de um meio
artístico para outro: o emprego de cores que desperta o elogio do crítico
a uma obra pictórica e o emprego de certos tipos de orquestração que dá um
colorido especial numa obra musical devem limitar-se a esses domínios
artísticos, não podendo servir de critérios gerais para avaliar qualquer
obra de arte e muito menos todos os objetos artísticos. Inclusive a utilização
de uma imagética rica, que se considera suficiente para elogiar um poema,
pode não ser válida para avaliar outro: o fato de a riqueza imagética ser
digna de elogio depende do tipo de poema e do contexto total da passagem.
Não obstante todos estes problemas houve alguns intentos para assinalar certos
critérios que permitam emitir juízos sobre o valor estético de uma obra; o
mais importante e talvez o mais defensável pertenceu a Monroe Beardsley. Segundo ele, existem «cânones específicos» de
crítica estética e também certos «cânones gerais»:
a) Os cânones específicos são aplicáveis a
certos meios artísticos, ou inclusive a certas classes de obras (a
tragédia versus a comédia) dentro de determinado meio
artístico. Contudo, Beardsley não entra em detalhes sobre quais são esses
cânones específicos) Os cânones gerais, ao contrário, são
aplicáveis a todos os objetos estéticos, seja qual for o seu tipo. Há três
cânones gerais:
1) Unidade
2) Complexidade
3) Intensidade
A unidade e a complexidade correspondem ao critério da
“unidade na variedade” e da “variedade na unidade”.
A intensidade é uma exigência que consiste em que a
obra tenha certas qualidades gerais, melhor dizendo, regionais.
Assim, elogiar uma obra pictórica porque «está envolta
numa certa sensação de calma e de quietude eternas»
é elogiá-la pela intensidade de certa qualidade
global (regional); elogiá-la por estar realizada em grande escala
ou por ser rica em contrastes é elogiá-la pela sua
complexidade; elogiá-la por estar bem organizada ou por ser
formalmente perfeita, é elogiá-la pela sua unidade. Estes três
atributos juntos constituem as propriedades «fautoras da qualidade»
dos objetos estéticos.
John Hospers, Estética
O que é o subjectivismo
estético?
Doutrina acerca da justificação dos juízos estéticos, de acordo com a qual
juízos como “x é belo” exprimem apenas os nossos sentimentos ou emoções
pessoais acerca de x, independentemente de quaisquer características de x. Assim,
o juízo estético, sendo subjectivo, nada mais é do que um juízo de gosto, uma
vez que se limita as exprimir as nossas preferências. Kant e Hume,
embora com algumas diferenças importantes, são partidários do subjectivismo
estético, ao qual se opõe o objectivismo estético.
(Aires Almeida)
O que é o objectivismo estético?
Doutrina acerca da justificação dos juízos estéticos, de acordo com a qual
juízos como “x é belo” dependem da existência de certas características em x.
Há, assim, características objectivas em virtude das quais as coisas belas são
belas. Esta doutrina opõe-se ao subjectivismo estético, dado que,
na opinião do objectivista, o belo não é subjectivo nem depende dos gostos das
pessoas. O que conta não são os sentimentos que temos quando apreciamos os
objectos, mas o que faz parte integrante dos próprios objectos. O filósofo
americano Monroe Beardsley (1915-85) é um dos representantes contemporâneos do
objectivismo estético.
(Aires Almeida)
(O sublinhado é nosso)
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