sábado, 23 de abril de 2022

Filosofia da Arte: Teorias Essencialistas



Teorias essencialistas da Arte


«O meu objectivo tem sido essencialista – encontrar uma definição de arte que seja verdadeira em qualquer sítio e em qualquer tempo.» 

Danto, «The End of Art: A Philosophical Defense», p.128


Se  a  Filosofia da Arte estuda os problemas, as teorias, os argumentos e contra-argumentos acerca da OA (Obra de Arte), de que teorias estamos a falar?

 

A. Teorias Essencialistas da Arte:

1. A arte como imitação

2. A arte como expressão

3. A arte como forma significante

 

B. Teorias não essencialistas da Arte:

4. Arte histórica

5. Arte institucional

 

As teorias essencialistas da arte procuram responder a questões como:

- Qual a essência da Arte?

- Quais as condições necessárias e suficientes para que algo possa ser considerado arte?

- Qual o conjunto de características que as OA têm em comum?

- Que propriedades intrínsecas tem a OA?

 

1. ARTE COMO IMITAÇÂO

Descrição: 

- É a teoria mais antiga da arte;

- Defende que a arte é imitação da realidade

- Para ser OA tem de imitar algo

- Teoria centrada nos objectos imitados.

 

NOTA: Os defensores mais recentes desta teoria acabam por substituir o conceito de imitação pelo conceito de representação. Representar é muito mais do que imitar pois pode representar-se algo sem imitar.

Vantagens:

-Muitas OA (pinturas, esculturas, peças de teatro ou filmes) imitam algo da natureza.

- Esta teoria oferece um critério de classificação das OA bastante rigoroso.

- Oferece um critério de valoração que permite distinguir, facilmente, as boas e más OA.

Criticas:

- Há obras que não imitam nada.

- Esta teoria desconsidera o  critério de classificação pois há OA que não são classificadas como tal.

- O critério valorativo desta teoria falha porque muitas OA não poderiam ser consideradas boas nem más.

- Há OA que imitam algo sem que nós alguma vez possamos comparar com o original e saber se a OA é boa ou má.

- Há OA que imitam algo que já não existe ou que não é do conhecimento de quem as aprecia.

- Se a arte é imitação, muita OA, embora representativa, não é imitação. (Há muitas OA que são representativas e não são imitação).

- Autores que defendem esta teoria: Platão que, ao considerar que as obras de arte imitavam os objectos naturais, via essas obras como imagens imperfeitas dos seus originais. Ainda por cima quando, no seu ponto de vista, os próprios objectos naturais eram por sua vez cópias de outros seres mais perfeitos. Já o seu contemporâneo Aristóteles, mantendo embora a ideia de arte como imitação, tinha uma opinião mais favorável à arte, uma vez que os objectos que a arte imita não são, segundo ele, cópias de nada.

 

Exemplos: Será que a OA "Escola de Atenas" de Rafael representa, na perfeição, as figuras de Platão e Aristóteles?




Como é que sabemos que o  "Nascimento de Vénus" de Boticelli imita algo?




 E o quadro ( auto retrato) de Caravaggio?



2. ARTE COMO EXPRESSÃO

Descrição: 

- Teoria defendida por filósofos e artistas românticos do sec. XIX

- A arte é a expressão da emoção do artista

- O critério valorativo é: uma obra é tanto melhor, quanto melhor exprimir os sentimentos do artista que a criou.


Vantagens:

- Há artistas que reconhecem a importância de certas emoções sem as quais as suas obras não teriam existido.

- Se a OA provoca em nós determinadas emoções ou sentimentos, então é porque tais emoções existiram no seu criador e deram origem à OA.

- Esta teoria apresenta um critério que permite, com algum rigor, classificar como OA aquelas que não imitam nada como a literatura, a música e a arte abstrata -mas as que exprimem a emoção do artista

- Amplia o conceito de arte.

 

Criticas: 

- Há OA que não expressam emoções do artista como, por exemplo, os quadros de Victor Vasarely. 



- Há dificuldades em saber se a emoção do artista foi verdadeira e se o que que sentimos corresponde ao que o artista nos quis expressar ou transmitir. 

Nem todas as OA são classificadas como tal.

- Como podemos nós saber se uma OA exprime correctamente as emoções do artista, quando este já morreu há seculos?

- Se uma OA for, erradamente, atribuída a outro autor, essa obra deixaria de ser considerada OA?  

- E as obras de autores anónimos e desconhecidos são boas ou más OA?

- Como avaliar uma OA colectiva?

- Há várias correntes artísticas cujas obras não têm nenhum conteúdo emocional, como por exemplo, a arte abstracta, a arte conceptual e a arte perceptiva.


- Autores que defendem esta teoria: Tolstoi (1828-1910)  e R. G. Collinghood (1889-1943).


E a obra de 4:33 de John Cage?



Assim.....

1.O artista tem de sentir algo 

2º O público tem de sentir o mesmo 

3º tem de haver autenticidade por parte do artista 

4º O artista deve tentar clarificar os sentimentos expressos. 

5º A transmissão de sentimentos tem de ser intencional.


Um objeto é uma obra de arte se e somente se além de ser um artefacto, exprime as emoções do artista e contagia as outras pessoas com o mesmo sentimento.


Diz Tolstoi: 

“(...) A arte é uma atividade humana que consiste em alguém transmitir de forma consciente aos outros, por certos sinais exteriores, os sentimentos que experimenta, de modo a outras pessoas serem contagiadas pelos mesmos sentimentos vivendo-os também.” 

O que é a Arte? (Gradiva, 2013)

 Collinghood

 • Também considera que a arte é a expressão de sentimentos, mas a sua função é clarificar sentimentos indefinidos do artista, com recurso à imaginação. 

• Os sentimentos começam por parecer confusos e precisam de ser clarificados. 

• O elemento novo desta afinação é o da Imaginação. 


“Quando se diz que uma pessoa exprime uma emoção, o que está a ser dito sobre ela resume-se ao seguinte. Em primeiro lugar, essa pessoa está consciente de estar a sofrer uma emoção, mas sem estar consciente de que emoção se trata” 

«A arte como autêntica expressão», in. Arte em Teoria, citado em Aires Almeida, A definição da Arte, O essencial, Plátano, 2019


Exemplos: "Melancolia" ou "O grito" de Munch, ¨"O grande Canal de Veneza" de Caneletto e "Segunda sinfonia de Mahler".

E a obra de 4:33 de John Cage?

  

3. ARTE COMO FORMA SIGNIFICANTE

Descrição:

-Teoria recente acerca da arte, década de 60, (também conhecida por teoria formalista da arte).

- Não existe uma característica comum que possa ser directamente encontrada em todas as obras de arte

Não importa a emoção que o artista quis revelar na obra, mas sim o sentimento que a obra desperta nos espetadores. 

- Não se deve procurar aquilo que define uma OA na própria obra, mas sim no sujeito que a aprecia - o espectador.

- Há um tipo de emoção peculiar  - a emoção estética - que as OA e só elas provocam em nós.

- Podemos identificar uma OA pelo facto de esta ser capaz de provocar a emoção estética no espectador - isto é a forma significante.

- É arte toda a obra que possui forma significante.

- A forma significante é a combinação de cores, linhas e formas capazes de provocar emoção estética.

- A única propriedade, simultaneamente, necessária e suficiente para a arte é a forma significante.

“Que propriedade é partilhada por todos os objetos que nos causam emoções estéticas? (...) só uma resposta parece possível – forma significante. São, em cada um dos casos, as linhas e cores combinadas de um modo particular, certas formas e relações de formas, que suscitam as nossas emoções estéticas. A estas relações e combinações de linhas e cores, a estas formas esteticamente tocantes, chamo Forma Significante «forma significante» ; e a «forma significante» é a tal propriedade comum a todas as obras de arte visual.” 

Clive Bell, Arte, Trad. Rita C. Mendes, Texto & Grafia, 2009


Vantagens:

- A OA só o é se provocar no espectador uma emoção estética - esta é condição necessária e suficiente.

- Esta teoria pode incluir todo o tipo de OA , inclusivamente obras que exemplifiquem formas de arte ainda por inventar.

- Desde que provoque emoções estéticas qualquer objecto é uma OA.


Criticas: 11º B

- Há pessoas que não sentem qualquer tipo de emoção estética perante obras que são consideradas OA.

Qual o critério para distinguir OA das que a não são?

- E quem não sente emoções estéticas em relação a determinadas obras, não é uma pessoa sensível, como sugere Clive Bell?

- É difícil explicar de maneira convincente em que consiste a tal emoção estética

- Clive Bell refere, pensando apenas no caso da pintura, que a forma significante reside numa certa combinação de linhas e cores - mas que combinaçao é essa?

- Que combinação é essa e que cores são essas no caso do Bolero de Ravel ou os Maias de Eça de Queiroz ou mesmo no filme La dolce Vita de Frederico Fellini?

- O conceito de forma significante parece ser muito vago.

- Não é consensual que exista uma emoção estética distinta de outras emoções humanas.

Esta teoria apenas refere que a forma é relevante para a OA e não o conteúdo.

Sabemos, no entanto, que há OA com formas indistinguíveis dos objetos comuns como por exemplo, os ready made.

- Autor que defende esta teoria: Clive Bell (1881- 1964)  11º C 


O ponto de partida de todos os sistemas de estética tem de ser a experiência pessoal de uma emoção peculiar. Aos objectos que provocam esta emoção chamamos “obras de arte”.1

[…] Esta emoção é chamada “emoção estética” e, se pudermos descobrir alguma qualidade comum e peculiar de todos os objectos que a provocam, teremos solucionado o que considero o problema central da estética. Teremos descoberto a qualidade essencial da obra de arte […]2

Exemplos:

Estação Ferroviária, 1866

(The Railway Station, 1866)

William Powell Frith

- Segundo Clive Bell não é uma OA

- As OA de Cézanne têm forma significante.

Os Jogadores de Cartas - Paul Cézanne

(Existem cerca de 5 versões de quadro, elaborado entre os anos 1850 e 1895)

“Cézanne extasiou-me, antes mesmo de me ter apercebido de que a sua característica mais determinante era a insistência na supremacia da forma significante. Quando me apercebi de que assim era, a minha admiração por Cézanne e alguns dos seus seguidores confirmou-me nas minhas teorias estéticas”.7

Bell deixa-se impressionar pelas qualidades formais das pinturas. Diz ele:

“O matemático puro, absorvido nos seus estudos, conhece um estado mental que presumo que seja semelhante, se não mesmo idêntico [...] [ao da emoção estética despertada pela forma significante]”. 8




Lola

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