sábado, 10 de dezembro de 2022

Argumentos não Dedutivos




Argumentos não Dedutivos


1. O que distingue essencialmente um argumento dedutivo de um argumento não dedutivo?

Os argumentos dedutivos são argumentos cuja forma lógica é decisiva para avaliarmos a sua validade. São argumentos cuja forma garante a verdade da conclusão, no caso de as premissas serem também verdadeiras. 

Os argumentos não dedutivos são argumentos cuja forma lógica não é decisiva para avaliarmos a sua validade. São argumentos em que da verdade das premissas não implica a verdade da conclusão.


2. Quais são os principais tipos de argumentos não dedutivos?

Os principais tipos de argumentos não dedutivos são os argumentos indutivos (generalizações e previsões), os argumentos por analogia e os argumentos de autoridade.

LÓGICA INFORMAL

Estudo da argumentação válida que não depende exclusivamente da forma lógica mas também do conteúdo.

ARGUMENTO INDUTIVO

As premissas tornam provável a verdade da conclusão

Generalização – parte-se de premissas que um conjunto de casos é verdadeiro e, com base nisto, concluiu-se que todos os casos são verdadeiros. A


Previsão – parte de um conjunto de casos ocorridos para concluir que, no futuro, o mesmo se verificará. B


ARGUMENTO POR ANALOGIA – baseia-se numa comparação entre duas coisas semelhantes: se duas realidades são semelhantes em certos aspectos conhecidos é provável que também o sejam noutros aspectos. C


ARGUMENTO POR AUTORIDADE – é um argumento em que a conclusão é sustentada pela posição de um especialista na matéria ou pelos dados de uma instituição credível e confiável. D

 

3. O que são argumentos indutivos?

São argumentos cuja validade depende de outros fatores (contexto e conteúdo) que não simplesmente a sua forma lógica.

 

4. O que significa dizer que um argumento indutivo é válido?

Quem aceita que se possa chamar válidos aos argumentos indutivos afirma que um argumento indutivo é válido quando a verdade das premissas nos dá boas razões para considerar mais provável do que improvável a verdade da conclusão sem que isso exclua a possibilidade de ser falsa.

 

5. A validade indutiva admite graus? O que significa isso?

Considera-se que sim. Isso significa que um argumento indutivo válido pode ser mais forte ou mais persuasivo do que outro argumento indutivo válido. Como a relação entre a verdade das premissas e a verdade é de probabilidade, esta assume graus. A probabilidade de a conclusão ser verdadeira é em alguns argumentos indutivos superior à de outros. O que todos têm em comum é que nenhum garante absolutamente a verdade da conclusão. São argumentos de risco ou em que o risco de erro ou engano não pode ser completamente eliminado, mas unicamente controlado. Com efeito, a conclusão baseia-se em premissas que lhe conferem simplesmente um maior ou menor grau de probabilidade.

 

6. O que são generalizações?

São argumentos indutivos que consistem em tornar extensível a toda uma classe de objetos ou de seres uma caraterística (ou caraterísticas) observada num determinado número de casos considerados representativos. Convém evitar generalizações precipitadas. Devemos avaliar se as premissas que apoiam as nossas conclusões são suficientemente fortes para isso.

 

7. O que são previsões?

São argumentos indutivos em que se conclui algo acerca de um acontecimento futuro com base numa amostra considerada representativa.

 

8. O que são argumentos por analogia?

São argumentos que concluem que coisas diferentes, por serem semelhantes em certos aspetos, sê-lo-ão também noutros. 

Para que um argumento por analogia seja aceitável, deve cumprir duas condições:

 1) Os objetos comparados têm de ser semelhantes nos aspetos relevantes e......

2) O número de semelhanças entre os objetos comparados tem de ser significativo.

 

9. O que são argumentos de autoridade?

São argumentos que defendem a verdade de uma certa conclusão porque uma autoridade num dado assunto (uma ou várias pessoas, uma ou várias instituições) sustenta que ela é verdadeira. 

Para que este tipo de argumento seja aceitável, deve respeitar as seguintes condições: 

1. A autoridade invocada tem de ser de facto um especialista reconhecido na matéria; 

2. Não devem existir divergências significativas entre os especialistas sobre o assunto em causa; 

3. As opiniões de quem é reconhecido como autoridade não devem ser condicionadas por interesses pessoais.

 

EXERCÍCIOS

 

1. Assinale com verdadeiro (V) ou falso (F).

a) Argumentos em que a conclusão pode ser falsa, apesar de as premissas serem verdadeiras, denominam-se argumentos dedutivos. (F). Esta é uma forma de caraterizar os argumentos indutivos.

b) Damos o nome de argumentos indutivos aos argumentos cujas premissas podem tornar provável a conclusão, mas não asseguram a sua verdade. (V)

c) Apesar de não serem dedutivamente válidos, os argumentos indutivos podem ser bons. Um bom argumento indutivo é aquele em que as razões apresentadas (premissas) dão força à nossa crença de que a conclusão é verdadeira. Quando as premissas tornam pouco provável a verdade da conclusão, não estamos perante um bom argumento indutivo. (V)

d) Ao contrário dos argumentos dedutivos, os argumentos indutivos são argumentos de risco ou em que o risco de erro ou engano não pode ser completamente eliminado, mas unicamente controlado. Com efeito, a conclusão baseia-se em premissas que lhe conferem simplesmente um maior ou menor grau de probabilidade. (V)

f) Os argumentos indutivos são uma espécie de argumentos informais porque a verdade das premissas (ou da premissa) e a sua forma lógica não são suficientes para assegurar a verdade da conclusão. (V)

g) No caso dos argumentos indutivos, a validade não se baseia numa ligação necessária entre as premissas e a conclusão, pelo que a verdade desta é apenas provável. (V)

 

2. Responda às questões seguintes

A. Que tipo de argumentos indutivos estudou?

Os argumentos indutivos estudados foram a generalização e a previsão.

B. Defina indução por generalização. Exemplifique.

A indução por generalização consiste em tornar extensível a toda uma classe de objetos ou de seres uma caraterística (ou caraterísticas) observada num determinado número de casos considerados representativos. É o caso do raciocínio seguinte:

Todos os meus gatos são meigos. Logo, todos os gatos que existem são meigos.

C. O que é um argumento por analogia? Exemplifique.

A analogia é um tipo de argumento informal que se baseia em comparações. Tira-se uma conclusão acerca de uma coisa (A) comparando-a com outra (B). Exemplo:

Os Mercedes são semelhantes aos BMW. Os Mercedes têm a caraterística de serem seguros. Logo, os BMW são carros seguros.

O princípio no qual se baseia o argumento por analogia é este: dados dois objetos ou entidades semelhantes (A e B), o que se diz ser verdade para A também é verdade para B.

D. O que são previsões indutivas? Exemplifique.

As previsões indutivas são argumentos em que se afirma o que vai acontecer no futuro a partir de uma amostra considerada representativa. Exemplo:

Todos os melros até agora observados são negros. Logo, o próximo melro observado será negro.

E. O que são argumentos de autoridade? Exemplifique.

Argumentos de autoridade são argumentos que fornecem como justificação para a conclusão o facto de ela ter sido emitida por uma pessoa ou instituição considerada qualificada na matéria. Exemplo:

A FIFA considera o Futebol Clube de Alcabideche é um exemplo. Logo, o Futebol Clube de Alcabideche é um exemplo.

 

4. Identifique os seguintes argumentos informais.

1. Bertrand Russell, um reputado lógico, afirmou que os costumes sociais a respeito do sexo fora do casamento são nocivos e opressivos. Portanto, os costumes sociais a respeito do sexo fora do casamento são nocivos e opressivos.

Identifique este tipo de argumento e explique a condição, ou condições, que tem de respeitar para ser um bom argumento do ponto de vista informal.

Argumento de autoridade. 

Para que este tipo de argumentos seja bom, a autoridade evocada tem de ser, de facto, uma autoridade e não podem existir divergências entre os especialistas acerca da matéria.

 

2. «De acordo com o meu Epicuro… nada continua a existir depois da dissolução do ser vivo, e no termo “ser vivo” ele incluía tanto o homem como o leão, o lobo, o cão, e todas as outras coisas que respiram. Concordo com tudo isto. Eles comem, nós comemos; eles bebem, nós bebemos; eles dormem, e o mesmo fazemos nós. Eles geram, concebem, dão à luz, e alimentam os seus jovens da mesma forma que os nossos. Eles têm alguma capacidade de raciocínio e de memória, alguns mais do que outros, e nós um pouco mais que eles. Somos como eles em quase tudo; por fim, eles morrem e nós morremos – ambos de forma definitiva.»

Lorenzo Valla, On Pleasure, Nova Iorque, Abaris Books, 1977, pp. 219-221.

Identifique e explique em que consiste o argumento que o texto exemplifica.

Argumento por analogia. Os argumentos por analogia baseiam-se em comparações. Dadas duas entidades ou situações, A e B, com várias caraterísticas semelhantes, da observação de que A tem uma caraterística conclui-se que o mesmo se passa com B.

 

3. O BCP, O BPI, o BES, a GALP e a PT estão cotados em bolsa. Portanto, todas as grandes empresas portuguesas estão cotadas em bolsa.

Identifique este tipo de argumento e explique a condição (ou condições) que tem de respeitar para ser um argumento bom.

Trata-se de uma generalização por indução. Para que estes argumentos sejam bons, a amostra expressa pela premissa deve ser ampla e representativa.

 

4. «Podemos verificar que existe uma grande semelhança entre a Terra que habitamos, e os outros planetas, Saturno, Júpiter, Marte, Vénus e Mercúrio. Como a Terra, todos giram em torno do Sol, embora a distâncias e períodos diferentes. Como a Terra, recebem toda a sua luz do Sol. Como a Terra, vários rodam em torno do seu eixo e, desse modo, têm também a sucessão dos dias e das noites. Alguns têm luas, que servem para lhes dar luz na ausência do Sol, como a nossa Lua faz para nós. Como a Terra, estão todos, nos seus movimentos, sujeitos à mesma lei da gravitação universal. Com base nestas semelhanças não é irracional pensar que esses planetas, como a nossa Terra, sejam habitados por vários tipos de criaturas vivas.»

Thomas Reid, Essays on the Intellectual Powers of Man, Cambridge, John Bartlett, 1850, p. 16.

Identifique este tipo de argumento e explique a condição (ou condições) que tem de respeitar para ser um bom argumento do ponto de vista informal.

Este argumento é um argumento por analogia. 

Para que um argumento por analogia seja bom, deve cumprir três condições: 1) a amostra deve ser suficiente (quanto maior o número de objetos comparados maior a força do argumento); 

2) o número de semelhanças deve ser suficiente (a força da analogia cresce com o aumento do número de semelhanças verificadas); 

3) as semelhanças verificadas devem ser relevantes.

 

5. No Dictionary of Philosophy, Anthony Flew define «logicismo» como o ponto de vista segundo o qual a «matemática, e em particular a aritmética, faz parte da lógica». Portanto, o logicismo é isso.

Identifique este tipo de argumento e explique as condições que tem de respeitar para ser um argumento bom.

É um argumento de autoridade. Para que este tipo de argumento seja bom, deve respeitar as seguintes condições: as fontes devem ser autoridades na matéria e não pode haver discordância entre elas.

 

6. A esmagadora maioria das nozes deste saco que parti até agora estava estragada. Portanto, a próxima noz que tirar do saco também estará estragada.

Identifique e explique em que consiste o argumento que o texto exemplifica.

Este argumento é uma previsão indutiva. A partir de uma amostra considerada representativa, tira-se uma conclusão acerca de um acontecimento futuro.


5. Identifique a falácia cometida e elabore uma breve crítica

1. Augusto eliminou as dores com o comprimido X. Logo, se eu tomar comprimidos X, também as dores me vão passar.

Trata-se de um argumento por analogia, porém, o argumentador apenas se baseou em duas semelhanças entre ele e o Augusto: o facto de ambos serem humanos e o facto de ambos terem dores. Portanto, a analogia falha sob todos os aspetos: o número de objetos comparados, a quantidade de semelhanças apontadas e, sobretudo, a irrelevância das semelhanças apontadas: cada ser humano tem a sua história clínica, as dores podem ter muitas e diferentes causas...

2. Há vários anos que tenho lucro com ações da empresa X. Vou continuar a comprar ações da empresa X e o meu lucro aumentará.

Trata-se de um argumento indutivo com uma amostra pouco lata, mas relevante pela relação entre o conteúdo das premissas e o da conclusão. No entanto, omite conhecimentos significativos para avaliar a conclusão, nomeadamente a evolução da empresa X e as tendências gerais da economia e da bolsa. Essa omissão torna o argumento difícil de aceitar.

 

3. Os subordinados são como os cães: se desde cedo os habituarmos a ordens bastante precisas e irreversíveis e obrigarmos sempre ao seu cumprimento, obedecer torna-se um hábito e, com o hábito, discussões e demoras deixam de existir.

Argumento por analogia que comete a falácia da falsa analogia.

 

4. «Mas poderá duvidar-se de que o ar tem peso quando temos o claro testemunho de Aristóteles afirmando que todos os elementos, exceto o fogo, têm peso?»

Galileu Galilei reproduzindo o discurso de um aristotélico.

Apelo a autoridade não qualificada, melhor dizendo, apelo não apropriado à autoridade. Há métodos científicos para resolver o problema e, por mais genuíno que tenha sido o génio científico de Aristóteles, numerosos também foram os seus erros (nada escandalosos numa fase de fraco desenvolvimento tecnológico). Mais do que isso: o confronto com os factos não pode ser substituído pelo que alguém, por mais renome que tenha, afirmou acerca dos elementos (terra, água, ar e fogo).

5. Deve haver algo de errado nesta teoria indeterminista defendida pelos partidários da mecânica quântica porque o próprio Einstein se lhe opôs dizendo que não podia acreditar que Deus jogava aos dados no que respeita aos fenómenos naturais.

Apelo não apropriado à autoridade. Os especialistas no assunto divergem.

6. O cancro do pulmão verifica-se frequentemente em pessoas que fumam. Logo, fumar é causa do cancro do pulmão.

Que haja uma correlação entre fumar e ter cancro é, hoje em dia, consensual. Mas isto não pode levar-nos a concluir que todos os que fumam têm ou terão cancro do pulmão. A correlação não é necessária. O argumento comete a falácia da generalização apressada ou inadequada.

 


 LOLA

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