A natureza dos juízos morais
«Um juízo moral - ou qualquer outro tipo de juízo de valor -
tem de ser apoiado em boas razões. Se alguém disser que uma determinada acção
seria errada, pode-se perguntar porque razão seria errada e, se não houver uma
resposta satisfatória, pode-se rejeitar esse conselho por ser infundado. Neste
aspecto, os juízos morais são diferentes de meras expressões de
preferência pessoal. Se alguém diz “Eu gosto de café”, não necessita
de ter uma razão para isso; poderá estar a declarar o seu gosto pessoal e nada
mais. Mas os juízos morais requerem o apoio de razões,
sendo, na ausência dessas razões, meramente arbitrários. (…)
As verdades morais são verdades da razão; isto é, um juízo
moral é verdadeiro se for sustentado por razões melhores que os juízos
alternativos.
Assim, se quisermos entender a natureza da ética, devemos
atentar nas razões. Uma verdade em ética é uma conclusão apoiada em razões: a resposta correcta a uma questão moral é simplesmente
a resposta que tem do seu lado o peso da razão. Tais verdades são objectivas no
sentido em que são verdadeiras independentemente do que possamos querer ou
pensar. Não podemos tornar algo bom ou mau pelo simples desejo de
que seja assim (…). Isto explica igualmente a nossa
falibilidade: podemos enganar-nos sobre o que é bom ou mau porque podemos estar
enganados sobre o que a razão recomenda. A razão diz o que diz, alheia às
nossas opiniões e desejos.» (2)
James Rachels
O que
são juízos morais?
Entende-se por juízo moral ou ato mental que
estabelece se uma determinada conduta ou situação tem conteúdo ético ou se,
pelo contrário, carece destes princípios. O juízo moral realiza-se a partir do
sentido moral de cada indivíduo e responde a uma série de normas e regras que
vão sendo adquiridas ao longo da vida.
Segundo o texto, o que distingue
um juízo moral de uma mera opinião?
- Os juízos morais são diferentes de meras
expressões de preferência pessoal.
- Os juízos morais requerem o apoio de razões,
sendo, na ausência dessas razões, meramente arbitrários.
- Uma verdade em ética é uma conclusão apoiada em
razões:
- Não podemos tornar algo bom ou mau pelo simples
desejo de que seja assim
Face à natureza dos juízos morais,
que posição se poderá assumir?
1. Subjetivismo moral.
2. Objectivismo moral
3. Relativismo moral.
O que é o subjectivismo moral?
·O valor das acções,
dos objectos e dos próprios juízos morais depende da importância que cada
indivíduo, por si próprio e independentemente dos outros, lhes atribui.
·Os valores morais
resultariam de factores psicológicos, do que desejo, do que preciso, do que de
algum modo me agrada: o que prefiro é o melhor.
·O subjectivismo
ético está certo na medida em que não há coisas nem acções que valham por
si independentemente de um sujeito valorizador, que ajuíze conscientemente do
valor das coisas e das acções, assim como dos próprios juízos morais.
· Não
há verdades morais objectivas e universais.
·O subjectivismo ético
é também atraente para o individualismo actual porque parece respeitar a
liberdade entendida como livre-arbítrio das pessoas, porque parece mostrar que
o progresso moral resulta de indivíduos reformadores que romperam pela sua
vontade com valores antigos de que já não gostamos e porque parece promover a
tolerância.
Que objecções ao subjectivismo?
Ø Tem os defeitos de consistir
precisamente num relativismo ético:
Ø Torna moralmente
indiferentes as mais contraditórias máximas de conduta;
Ø Tornar inviável a
discussão e o debate acerca das questões morais;
Ø Torna-nos incapazes de
tomar decisões com base em princípios morais fundamentados.
Ø Torna toleráveis comportamentos como o infanticídio, o racismo ou mesmo o genocídio.
O que é o objectivismo moral?
· A teoria
objectivista dos valores morais associa-se
à tese da sua universalidade.
· Serão objectivos, segundo esta teoria,
todos os valores que seriam independentes dos interesses e perspectivas
pessoais, da diversidade das culturas, da História e do desenvolvimento humano.
· Os valores, entendidos como objectivos,
definem as coisas a que se aplicam (coisas e actos concretos da relação
entre os homens) como bons ou maus a partir dos próprios valores entendidos
como critérios absolutos que, digamos assim, pairariam acima dos indivíduos
para os julgar - estes critérios absolutos seriam trans-subjectivos .
Um exemplo.
Por exemplo, dizer sempre a verdade, independentemente das circunstâncias e das consequências. A VERDADE como valor objectivo e universal.
Que objecções/criticas ao objectivismo moral?
- Parece negar a capacidade
do livre-arbítrio (disse a Joana, na sala de aula….)
- Por exemplo na questão do “aborto
ser correcto ou não” , será que uma destas posições é verdadeira e a outra
falsa? Qual a verdade objectiva, neste caso?
- Os defensores do
objectivismo moral defendem que esta posição, ao contrário do subjectivismo,
permite implementar a TOLERÂNCIA e o debate. Será mesmo assim?
- Há questões morais, como
por exemplo a eutanásia, que suscitam
muitas divergências éticas – o que prova que nenhum juízo moral é
objectivo e que o objectivismo não é uma
teoria muito aceitável.
- As questões éticas e os juízos
morais não têm, ao contrário da ciência qualquer possibilidade de prova e daí os desacordos e divergências éticas.
O que é o Relativismo
moral?
·
O relativismo moral cultural, consiste na tese de que o valor
ético dos juízos morais, das acções e dos objectos é sempre relativo ao que
cada cultura, etnia, sociedade acredita ser correcto ou incorrecto, verdadeiro
ou falso.
· Os valores do Bem e do Mal ter-se-iam formado como resultado das
circunstâncias de vida, dos laços sociais específicos que os indivíduos foram
construindo e das crenças associadas.
·
O que vale para uma cultura pode não valer para outra.
· Não há verdades morais objectivas e absolutas.
· Moralmente verdadeiro é o que depende do
que uma sociedade acredita ser verdadeiro.
· Um juízo é verdadeiro se estiver de acordo com
aquilo que defende uma sociedade e cultura.
· Moralmente verdadeiro é o que uma
sociedade, maioritariamente, acredita ser verdadeiro.
· As verdades morais dependem do que cada
sociedade e cultura aprova ou desaprova.
· Há verdades morais, mas não são
objectivas…
· O relativismo moral cultural afirma
que há juízos verdadeiros mas não em todo o lado e nem para todas as culturas.
. Moralmente verdadeiro é o que cada sociedade -
ou a maioria dos seus membros acredita ser verdadeiro.
· Moralmente verdadeiro é igual a
socialmente aprovado e
moralmente errado é igual a socialmente desaprovado.
· Um juízo moral é falso quando os
membros – a maioria – de uma sociedade o consideram falso e verdadeiro quando o
consideram verdadeiro.
· Assim, afirmar que «Matar é errado» significa
dizer «A sociedade X
considera que matar é moralmente incorrecto» e vice versa.
· As convicções da maioria dos membros de uma
sociedade são a autoridade suprema em
questões morais.
· O relativismo cultural, acerca de assuntos
morais, afirma que o código moral de cada indivíduo se
deve subordinar ao código moral da sociedade em que vive e foi educado.
ARGUMENTO DO RELATIVISMO MORAL/ CULTURAL
PREMISSA 1
O que é considerado moralmente correcto ou
incorrecto varia de sociedade para sociedade
PREMISSA 2
O que é moralmente correcto ou incorrecto
depende do que cada sociedade acredita ser moralmente correcto ou incorrecto.
CONCLUSÃO
Logo, não há nenhuma resposta
objectivamente verdadeira a essas questões
Criticas
. «Matar é errado?», «Roubar é incorrecto?»
Será que estes juízos são verdadeiros? Será que são objectivos e universais?
· Há uma diferença significativa entre o que uma sociedade acredita ser moralmente correcto e algo ser moralmente correcto. Exemplo: O casamento homossexual em determinadas sociedades.
· O relativismo moral cultural transforma
a diversidade de opiniões e de crenças morais em ausência de verdades
objectivas.
· Mas isso pode ser sinal de que há pessoas e
sociedades que estão moralmente erradas.
· Se duas sociedades têm diferentes crenças
acerca de uma questão moral (a morte de crianças), o relativista conclui que
então ambas as crenças são verdadeiras.
· Esta teoria reduz a verdade
àquilo que a maioria julga ser verdadeiro.
· Desde quando o que maioria pensa é verdadeiro e moralmente aceitável? Os nazis acreditavam (e fizeram com que a maioria dos alemães acreditassem) que os judeus eram sub-humanos e que exterminá-los era uma atitude positiva. Isso é clara e moralmente falso.
· Esta teoria parece convidar-nos ao
conformismo moral, a seguir, em nome da coesão social, as crenças
dominantes.
· Algumas pessoas ao longo da história
quiseram e conseguiram mudar a nossa maneira de pensar acerca de certos
problemas morais.
· O relativismo moral torna incompreensível o
progresso moral. Quem lutou contra o apartheid na África do Sul( Nelson
Mandela) e contra a segregação racial nos EUA (Martin Luther King). Essas
pessoas fizeram bem à humanidade, combateram injustiças e devemos–lhes grande
progresso moral. Ora, o relativismo moral cultural parece indicar que a acção
dos reformadores morais é sempre incorrecta.
· É verdade ou pelo menos parece que não há
acordo entre os seres humanos sobre muitas questões morais. Mas também é
verdade que a humanidade tem realizado progressos no plano moral. A abolição da
escravatura, o reconhecimento dos direitos das mulheres, a condenação e a luta
contra a discriminação racial são exemplos. Falar de progresso moral parece
implicar que haja um padrão objectivo com o qual confrontamos as nossas
acções.
. Se esse padrão objectivo não existir não temos
fundamento para dizer que em termos morais estamos melhor agora do que
antes.
. No passado, muitas sociedades praticaram a
escravatura mas actualmente quase nenhuma a considera moralmente admissível
- esta mudança de comportamento e de atitude poderá ser entendida
como um sinal de progresso moral.
. Se, como defende o relativismo moral cultural.
nenhuma sociedade esteve ou está errada nas suas crenças e práticas morais
torna-se difícil compreender a ideia de progresso moral.
- O relativismo moral cultural assenta na importância da diversidade cultural, ou seja, na constatação de que há múltiplas e variadas sociedades e culturas que têm diferentes valores e costumes distintos: vestuário, língua, educação, gastronomia, arte, religião leis e papeis desempenhados pelos homens e pelas mulheres.
- O facto de se defender a diversidade cultural não significa que uma sociedade e cultura seja superior a outra que diverge na sua forma de ser, porque as sociedades e culturas são diferentes e não superiores ou inferiores.
- A atitude que considera uma sociedade e cultura superior a outra designa-se por Etnocentrismo.
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