sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Natureza dos juízos morais




A natureza dos juízos morais


«Um juízo moral - ou qualquer outro tipo de juízo de valor - tem de ser apoiado em boas razões. Se alguém disser que uma determinada acção seria errada, pode-se perguntar porque razão seria errada e, se não houver uma resposta satisfatória, pode-se rejeitar esse conselho por ser infundado. Neste aspecto, os juízos morais são diferentes de meras expressões de preferência pessoal. Se alguém diz “Eu gosto de café”, não necessita de ter uma razão para isso; poderá estar a declarar o seu gosto pessoal e nada mais. Mas os juízos morais requerem o apoio de razões, sendo, na ausência dessas razões, meramente arbitrários. (…)

As verdades morais são verdades da razão; isto é, um juízo moral é verdadeiro se for sustentado por razões melhores que os juízos alternativos.

Assim, se quisermos entender a natureza da ética, devemos atentar nas razões. Uma verdade em ética é uma conclusão apoiada em razões: a resposta correcta a uma questão moral é simplesmente a resposta que tem do seu lado o peso da razão. Tais verdades são objectivas no sentido em que são verdadeiras independentemente do que possamos querer ou pensar. Não podemos tornar algo bom ou mau pelo simples desejo de que seja assim (…). Isto explica igualmente a nossa falibilidade: podemos enganar-nos sobre o que é bom ou mau porque podemos estar enganados sobre o que a razão recomenda. A razão diz o que diz, alheia às nossas opiniões e desejos.» (2)

 

James Rachels

 


O que são juízos morais?

 

Entende-se por juízo moral ou ato mental que estabelece se uma determinada conduta ou situação tem conteúdo ético ou se, pelo contrário, carece destes princípios. O juízo moral realiza-se a partir do sentido moral de cada indivíduo e responde a uma série de normas e regras que vão sendo adquiridas ao longo da vida.

 

Segundo o texto, o que distingue um juízo moral de uma mera opinião?

 

- Os juízos morais são diferentes de meras expressões de preferência pessoal.

 

- Os juízos morais requerem o apoio de razões, sendo, na ausência dessas razões, meramente arbitrários.

 

- Uma verdade em ética é uma conclusão apoiada em razões:

 

- Não podemos tornar algo bom ou mau pelo simples desejo de que seja assim

 

Face à natureza dos juízos morais, que posição se poderá assumir?


1.   Subjetivismo moral.

2.   Objectivismo moral

3.   Relativismo moral.

 

 

O que é o subjectivismo moral?

·O valor das acções, dos objectos e dos próprios juízos morais depende da importância que cada indivíduo, por si próprio e independentemente dos outros, lhes atribui.

·Os valores morais resultariam de factores psicológicos, do que desejo, do que preciso, do que de algum modo me agrada: o que prefiro é o melhor. 

·O subjectivismo ético está certo na medida em que não há coisas nem acções que valham por si independentemente de um sujeito valorizador, que ajuíze conscientemente do valor das coisas e das acções, assim como dos próprios juízos morais.

· Não há verdades morais objectivas e universais.

·O subjectivismo ético é também atraente para o individualismo actual porque parece respeitar a liberdade entendida como livre-arbítrio das pessoas, porque parece mostrar que o progresso moral resulta de indivíduos reformadores que romperam pela sua vontade com valores antigos de que já não gostamos e porque parece promover a tolerância.

 

Que objecções ao subjectivismo? 

 

Ø  Tem os defeitos de consistir precisamente num relativismo ético: 

Ø  Torna moralmente indiferentes as mais contraditórias máximas de conduta; 

Ø  Tornar inviável a discussão e o debate acerca das questões morais;

Ø Torna-nos incapazes de tomar decisões com base em princípios morais fundamentados.

Ø Torna toleráveis comportamentos como o infanticídio, o racismo ou mesmo o genocídio.

 

O que é o objectivismo moral?

 

·teoria objectivista dos valores morais associa-se à tese da sua universalidade.

· Serão objectivos, segundo esta teoria, todos os valores que seriam independentes dos interesses e perspectivas pessoais, da diversidade das culturas, da História e do desenvolvimento humano.

· Os valores, entendidos como objectivos, definem as coisas a que se aplicam (coisas e actos concretos da relação entre os homens) como bons ou maus a partir dos próprios valores entendidos como critérios absolutos que, digamos assim, pairariam acima dos indivíduos para os julgar - estes critérios absolutos seriam trans-subjectivos . 



Um exemplo.

 

Por exemplo, dizer sempre a verdade, independentemente das circunstâncias e das consequências. A VERDADE como valor objectivo e universal.


Que objecções/criticas ao objectivismo moral? 

- Parece negar a capacidade do livre-arbítrio (disse a Joana, na sala de aula….)

- Por exemplo na questão do “aborto ser correcto ou não” , será que uma destas posições é verdadeira e a outra falsa? Qual a verdade objectiva, neste caso?

- Os defensores do objectivismo moral defendem que esta posição, ao contrário do subjectivismo, permite implementar a TOLERÂNCIA e o debate. Será mesmo assim?

- Há questões morais, como por exemplo a eutanásia,  que suscitam muitas divergências éticas – o que prova que nenhum juízo moral é objectivo  e que o objectivismo não é uma teoria muito aceitável.

- As questões éticas e os juízos morais não têm, ao contrário da ciência qualquer possibilidade de prova  e daí os desacordos e divergências éticas.



O que é o Relativismo moral?

 

·     O relativismo moral cultural,  consiste na tese de que o valor ético dos juízos morais, das acções e dos objectos é sempre relativo ao que cada cultura, etnia, sociedade acredita ser correcto ou incorrecto, verdadeiro ou falso.

· Os valores do Bem e do Mal ter-se-iam formado como resultado das circunstâncias de vida, dos laços sociais específicos que os indivíduos foram construindo e das crenças associadas.

·     O que vale para uma cultura pode não valer para outra.

 

· Não há verdades morais objectivas e absolutas.

· Moralmente verdadeiro é o que depende do que uma sociedade acredita ser verdadeiro.

· Um juízo é verdadeiro se estiver de acordo com aquilo que defende uma sociedade e cultura.

·  Moralmente verdadeiro é o que uma sociedade, maioritariamente, acredita ser verdadeiro.

·  As verdades morais dependem do que cada sociedade e cultura aprova ou desaprova.

· Há verdades morais, mas não são objectivas… 

· O relativismo moral cultural afirma que há juízos verdadeiros mas não em todo o lado e nem para todas as culturas.  

. Moralmente verdadeiro é o que cada sociedade - ou a maioria dos seus membros acredita ser verdadeiro.  

· Moralmente verdadeiro é igual a socialmente aprovado e moralmente errado é igual a socialmente desaprovado.

· Um juízo moral é falso quando os membros – a maioria – de uma sociedade o consideram falso e verdadeiro quando o consideram verdadeiro. 

· Assim, afirmar que «Matar é errado» significa dizer «A sociedade X considera que matar é moralmente incorrecto» e vice versa.

· As convicções da maioria dos membros de uma sociedade são a autoridade suprema em questões morais.  

· O relativismo cultural, acerca de assuntos morais, afirma que o código moral de cada indivíduo se deve subordinar ao código moral da sociedade em que vive e foi educado.


 ARGUMENTO DO RELATIVISMO MORAL/ CULTURAL

PREMISSA 1 

O que é considerado moralmente correcto ou incorrecto varia de sociedade para sociedade

PREMISSA 2 

O que é moralmente correcto ou incorrecto depende do que cada sociedade acredita ser moralmente correcto ou incorrecto.

CONCLUSÃO 

Logo, não há nenhuma resposta objectivamente verdadeira a essas questões

Criticas

 . «Matar é errado?», «Roubar é incorrecto?» Será que estes juízos são verdadeiros? Será que são objectivos e universais?

· Há uma diferença significativa entre o que uma sociedade acredita ser moralmente correcto e algo ser moralmente correcto. Exemplo: O casamento homossexual em determinadas sociedades.  

·   O relativismo moral cultural transforma a diversidade de opiniões e de crenças morais em ausência de verdades objectivas. 

· Mas isso pode ser sinal de que há pessoas e sociedades que estão moralmente erradas.

· Se duas sociedades têm diferentes crenças acerca de uma questão moral (a morte de crianças), o relativista conclui que então ambas as crenças são verdadeiras. 

·  Esta teoria reduz a verdade àquilo que a maioria julga ser verdadeiro. 

· Desde quando o que maioria pensa é verdadeiro e moralmente aceitável? Os nazis acreditavam (e fizeram com que a maioria dos alemães acreditassem) que os judeus eram sub-humanos e que exterminá-los era uma atitude positiva. Isso é clara e moralmente falso.

· Esta teoria parece convidar-nos ao conformismo moral, a seguir, em nome da coesão social, as crenças dominantes. 

·  Algumas pessoas ao longo da história quiseram e conseguiram mudar a nossa maneira de pensar acerca de certos problemas morais. 

· O relativismo moral torna incompreensível o progresso moral. Quem lutou contra o apartheid na África do Sul( Nelson Mandela) e contra a segregação racial nos EUA (Martin Luther King). Essas pessoas fizeram bem à humanidade, combateram injustiças e devemos–lhes grande progresso moral. Ora, o relativismo moral cultural parece indicar que a acção dos reformadores morais é sempre incorrecta.

·  É verdade ou pelo menos parece que não há acordo entre os seres humanos sobre muitas questões morais. Mas também é verdade que a humanidade tem realizado progressos no plano moral. A abolição da escravatura, o reconhecimento dos direitos das mulheres, a condenação e a luta contra a discriminação racial são exemplos. Falar de progresso moral parece implicar que haja um padrão objectivo com o qual confrontamos as nossas acções. 

. Se esse padrão objectivo não existir não temos fundamento para dizer que em termos morais estamos melhor agora do que antes. 

. No passado, muitas sociedades praticaram a escravatura mas actualmente quase nenhuma a considera moralmente admissível -  esta mudança de comportamento e de atitude poderá ser entendida como um sinal de progresso moral. 

. Se, como defende o relativismo moral cultural. nenhuma sociedade esteve ou está errada nas suas crenças e práticas morais torna-se difícil compreender a ideia de progresso moral. 

- O relativismo moral cultural assenta na importância da diversidade cultural, ou seja, na constatação de que há múltiplas e variadas sociedades e culturas que têm diferentes valores e costumes distintos: vestuário, língua, educação, gastronomia, arte, religião leis e papeis desempenhados pelos homens e pelas mulheres.

- O facto de se defender a diversidade cultural não significa que uma sociedade e cultura seja superior a outra que diverge na sua forma de ser, porque as sociedades e culturas são diferentes e não superiores ou inferiores.

- A atitude que considera uma sociedade e cultura superior a outra designa-se por Etnocentrismo.

 

 


LOLA



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