Preparação 4ª Ficha de Avaliação
10º Ano
2022/2023
Tema: Filosofia da Acção, Problema do Livre Arbítrio, Filosofia dos Valores e Natureza dos juizos morais.
A- Filosofia da Acção
1. Distinguir açcão de acontecimento.
2. Distinguir Acção e acto do Homem.
3. Distinguir voluntário de involuntário.
4. Explicar e identificar a Análise Clássica do acto voluntário. (Momentos)
5. Explicar e identificar a Rede Conceptual da Acção. (elementos)
6. Explicar em que consiste a deliberação.
7. Relacionar a deliberação e a decisão racional.
8. Será o Homem plenamente livre no agir?
9. Definir Condicionantes da Acção Humana.
10. Identificar em exemplos tipos de condicionantes.
11. Dar exemplos de diferentes fatores que condicionam as ações humanas.
B- Problema do Livre Arbítrio
1. Explicar os conceitos de Determinismo, Livre arbítrio e Responsabilidade moral.
2. Explicar qual o problema do livre arbítrio.
3. Relacionar os conceitos de livre-arbítrio e responsabilidade moral.
4. Distinguir compatibilismo e incompatibilismo.
5. Apresentar a tese defendida pelo determinismo moderado.
6. Explicar os argumentos a favor do determinismo moderado
7. Explicar as objecções ao determinismo moderado.
8. Apresentar a tese defendida pelo determinismo radical
9. Explicar os argumentos a favor do determinismo radical
10. Explicar as objecções ao determinismo radical
11. Formular a tese do determinismo radical num argumento condicional.
12. Apresentar a tese defendida pelo Libertismo
13. Explicar os argumentos a favor do Libertismo
14. Explicar as objecções ao Libertismo.
15. Qual das teorias é mais plausível? Porquê?
16. Em seu entender há ou não livre-arbítrio?
17. Defender uma posição pessoal em relação ao problema do livre-arbítrio e às várias teorias estudadas.
C- Filosofia dos valores
1. Relacionar a acção e os valores.
2. Definir valores.
3. Apresentar tipos de valores.
4. Enunciar algumas das características fundamentais dos valores.
5. Definir Juízo.
6. Distinguir juízo de facto e juízo de valor.
7. Identificar, em exemplos, factos e valores; juízos de facto e juízos de valor.
8. Definir Juízo moral.
9. Distinguir juízos de valor morais (ou éticos) de outros juízos de valor.
10. Apresentar o problema da natureza dos juízos de valor morais: são subjetivos, culturalmente relativos ou objetivos?
11. Explicar a resposta do subjetivismo moral ao problema da natureza dos juízos de valor morais.
12. Explicar o argumento da discordância.
13. Explicar o argumento do conflito de valores.
14. Explicar e discutir as objeções ao subjetivismo moral (ao argumento da discordância e conflito de valores).
15. Explicar a resposta do objectivismo moral ao problema da natureza dos juízos de valor morais.
16. Explicar o argumento da tolerância.
17. Explicar o argumento da imparcialidade.
18. Explicar e discutir as objeções ao objectivismo moral (ao argumento da tolerância e imparcialidade).
19. Definir relativismo moral.
20. Explicar a resposta do relativismo moral / cultural ao problema da natureza dos juízos de valor morais.
21. Explicar o argumento da diversidade cultural.
22. Explicar o argumento da tolerância.
23. Explicar e discutir as objeções ao relativismo moral cultural (ao argumento da diversidade cultural e argumento da tolerância).
24. Comparar e discutir o subjetivismo moral, o relativismo cultural e o objetivismo moral.
25. Justificar a opinião própria sobre o problema da natureza dos juízos de valor morais.
26. Aplicar as três teorias estudadas à análise e avaliação de situações concretas.
27. Identificar num texto argumentativo: o problema filosófico em causa, a tese defendida, argumentos a favor dessa tese e as objeções.
FICHA DE AVALIAÇÃO
I.GRUPO
Das alternativas apresentadas, seleccione a única opção correcta:
1. As ações são acontecimentos?
a) Não, porque as ações são atos voluntários.
b) Não, porque o que nos acontece não é causado por nós.
c) Sim, porque as ações são em parte causadas por nós.
d) Sim, porque as ações são algo que acontece, intencionalmente, num espaço e num tempo.
2. O que é a intenção?
a) A intenção é a causa da ação.
b) A intenção é o que o agente quer alcançar com a ação.
c) A intenção é o que torna a ação um ato involuntário.
d) A intenção é um acontecimento que leva o agente a agir.
3. Porque é que nem todos os acontecimentos são acções?
a) Porque há acontecimentos que não são causados.
b) Porque há acontecimentos que são causados por agentes.
c) Porque há acontecimentos que não são causados por agentes.
d) Nenhuma das respostas anteriores está correta.
4. O que é o motivo de uma acção?
a) É a causa externa que leva alguém a agir.
b) É a meta da acção.
c) É o que resulta da acção.
d) É a causa, externa ou interna, que leva alguém a agir.
5. Uma acção humana é:
a) Uma reação a um estímulo
b) Actos reflexos que o agente realiza constantemente
c) Um conjunto de movimentos que fazemos com o nosso corpo
d) Uma ocorrência causada intencionalmente pelo agente.
II.GRUPO
Das alternativas apresentadas, seleccione a única opção correcta:
A. A existência de movimentos físicos numa pessoa…
- É condição necessária, embora não suficiente, para considerarmos que ela está a agir.
- É condição necessária e suficiente para considerarmos que ela está a agir.
- Não é condição necessária para considerarmos que ela está a agir.
- Não é condição necessária, embora seja suficiente, para considerarmos que ela está a agir.
B. Quando digo que uma mulher se suicidou por suspeitar da infidelidade do marido, refiro, respetivamente, …
- uma acção e a sua intenção.
- uma acção e as suas consequências.
- uma acção e o seu motivo.
- [nenhuma das alíneas anteriores, porque, se ela se matou, foi porque quis]
C. “Se não somos livres, então não somos responsáveis. / Somos responsáveis.” podem ser as premissas de um argumento…
- a favor do determinismo radical.
- contra o determinismo radical.
- contra o libertismo.
- falacioso.
D. O determinismo moderado defende que…
- não há valores universais: os valores variam de acordo com as épocas e as culturas.
- não há hipótese de agirmos livremente, porque todos os nossos actos são causados e, portanto, determinados.
- o nosso quotidiano demonstra que a nossa acção se faz de modo totalmente livre, isto é, sem quaisquer condicionantes.
- todos os nossos actos são causados, mas mesmo assim alguns são livres.
E. “Os Homens só continuam a acreditar que são livres porque têm consciência dos seus desejos mas ignoram as causas que os determinam”: eis…
- uma objecção ao determinismo radical.
- uma objecção ao libertismo.
- a tese central do libertismo.
- a tese central do determinismo moderado.
III.GRUPO
1. Assinale as afirmações VERDADEIRAS e FALSAS. Justifique as FALSAS.
1. Acção é tudo aquilo que o homem faz.
2. A decisão resulta de uma deliberação
3. O motivo é a razão que esclarece a acção.
4. Quando o homem age voluntária e conscientemente realiza uma acção.
5. Uma acção deliberada é uma acção premeditada.
6. O sujeito é agente, mesmo quando espirra ou tosse.
7. A acção exige que o sujeito tenha uma intenção ou projecto.
8. O motivo é o “porquê” da acção.
9. O projecto é “o quê” da acção.
10. A decisão pode ser uma escolha involuntária.
11. Uma acção não é um acontecimento como um tremor de terra ou a queda de uma folha morta.
IV.GRUPO
1. Considerando os elementos que compõem a rede conceptual da acção e indique a qual corresponde cada uma das seguintes opções:
1. Análise dos prós e contras de uma possível acção | |
2. Pretensão em praticar uma acção | |
3.Elemento que permite compreender uma acção | MOTIVO |
4. Pensar nas consequências que a acção poderá ter | |
5. Aquele que é o autor da acção | AGENTE |
6. Aquilo que se pretende atingir com a acção | FINALIDADE |
7. A razão de agir | MOTIVO |
8. Momento que implica o corte com as outras opções | |
9. Poderão ser de ordem racional ou passional | MOTIVO/MOBIL |
10. Responde à questão "o quê"? | INTENÇAO |
11. O modo como o resultado da nossa ação afeta os outros e também a nós próprios | |
12. O que o agente realizou ou conseguiu | |
13. O que o agente quer fazer ao agir | INTENÇÃO |
14. O momento em que se escolhe um caminho e verifica o compromisso com um determinado propósito ou fim afastando outros do horizonte | |
15. Aquilo que se projeta atingir ou realizar, o objetivo para que a acção tende | FINALIDADE |
16. Aquilo que justifica a ação, a sua razão de ser ou o seu porquê | MOTIVO |
17. Aquilo a que recorremos para realizar o que projetámos | MEIOS |
- Uma acção pode ser consciente sem ser livre.
- Uma acção pode ser livre sem ser consciente.
- A afirmação “a cada instante só há exactamente um futuro fisicamente possível” é a tese do libertismo.
- Determinismo radical é sinónimo de determinismo moderado.
Pense no que se afirma a seguir:
“O facto de sentirmos, no nosso dia a dia, que somos livres não prova que o sejamos: podemos estar enganados.”
- O autor deste pequeno texto discorda de um argumento a favor de uma tese. Explique essa tese e esse argumento.
- Argumente a sua posição relativamente ao que o texto defende, analisando pelo menos um argumento contra a sua tese.
VII.GRUPO
Defina os seguintes conceitos.
CONCEITOS | DEFINIÇÃO |
Motivo | |
Intenção | |
Finalidade | |
Móbil | |
Agente | |
Ponderação |
|
Execução |
|
VIII.GRUPO
A. Complete os espaços com apenas um dos conceitos.
Suponhamos a acão apanhar um táxi. Chegar a horas ao trabalho é a minha _____________________________________; o facto de não ter acordado a horas é o seu __________________; possível resultado:________________________ ________________; possíveis consequências:___________________________________.
Se vejo uma pessoa a correr, mas não sei porquê nem para quê, desconheço _____________ e _____________.
Tendo fome, como um bolo numa pastelaria. Consigo o que quero, mas mais tarde fico indisposto. Saciei a fome indica uma ____________ ; fiquei indisposto indica um ____________ ; fiz a digestão indica um ________________.
“Miguel quer ser ator de cinema” indica a ___________ de Miguel; “Miguel sonha com a fama, a adoração do público e, sobretudo, com as belas mulheres que conhecerá” indica a _______________________________________________.
Miguel quer ser ator. Neste caso, “pedir um empréstimo ao banco, trabalhar durante o Verão para conseguir dinheiro, estudar afincadamente” indica _____________________.
Após alguns filmes em que participou… “Miguel é famoso, recebe convites para participar em vários filmes por ano, tem uma vida social intensa…” indica as ____________________________________________.
“Miguel conseguiu ser ator, como queria — ao contrário do seu melhor amigo, o João” indica _______________________________________________ da acção.
3. Todas as acções são acontecimentos. Por que razão nem todos os acontecimentos são acções?
4. Imaginemos que, inadvertidamente, escorrego numa casca de banana e acabo por entornar uma garrafa de Coca-Cola em cima do livro de um colega que estudava comigo no bar da escola. Sujar o livro do colega foi algo que eu fiz. Mas será isto uma acção?
5. Uma acção é um acontecimento intencionalmente causado por um agente. Esclareça e dê exemplos.
6. O que se entende por rede conceptual da acção?
7. O que é a intenção?
8. Que relação existe entre a intenção e a explicação de uma acção?
9. Que relação existe entre intenções, desejos e crenças?
10. O que é o motivo de uma acção?
11. Que relação existe entre motivo e intenção?
12.O que é a deliberação?
13. O que é a decisão?
14. O que são as consequências de uma acção?
15. Considere a seguinte acção: Vou à farmácia comprar um medicamento para tratar uma dor de cabeça. Tente descrevê – la e explicá – la usando os conceitos fundamentais que a tornam inteligível ou compreensível (deliberação, decisão, intenção, motivo).
16.Consideremos os dois seguintes acontecimentos: a) José vai a uma clínica médica fazer um exame de rotina e b) um ribeiro transborda e inunda as ruas de uma cidade. Será que podem ser explicadas
17. Em que consiste a responsabilidade (moral)?
18. Em que condições é que uma pessoa é moralmente responsável? Em que condições pode ser considerada moralmente responsável por um acontecimento? Em que condições atribuímos responsabilidade moral a um agente?
19. O que significa dizer que um agente podia não ter feito o que fez?
20. Que relação há entre agir livremente e ser moralmente reponsabilizado pelo que se faz?
21. Por que razão o problema do livre - arbítrio é um problema importante do ponto de vista prático?
1. O que é uma acção?
Uma acção é um acontecimento cujo autor (ou origem) é um agente que o causa voluntária e intencionalmente. Uma acção é um acontecimento desencadeado pela vontade e intenção de um agente. Não é um simples acontecimento, não é simplesmente algo que um agente faz, é algo que um agente faz acontecer intencional ou propositadamente.
2. Por que razão uma acção é um acontecimento?
Um acontecimento é algo que se verifica num certo momento e num certo lugar. Em linguagem mais técnica, é um evento espacio – temporalmente enquadrado. Imaginemos que o João decide ir à praia. Tem de ir a uma praia situada num certo lugar – Vilamoura no Algarve, Portinho da Arrábida em Setúbal ou Praia do Castelo na Costa da Caparica – e num determinado momento - normalmente no Verão, de manhã ou de tarde. Ficaríamos muito surpreendidos se João dissesse que foi a uma praia em momento algum e que não ficasse em lado nenhum.
3. Todas as acções são acontecimentos. Por que razão nem todos os acontecimentos são acções?
Nem tudo o que acontece é uma acção, ou seja, se todas as acções são acontecimentos nem todos os acontecimentos são acções. Um furacão – uma tempestade, um raio de sol, o arco-íris, etc, - é um acontecimento mas não uma acção porque não tem carácter voluntário ou intencional. Uma acção é algo que acontece devido à vontade e intenção consciente de um sujeito.
4. Imaginemos que, inadvertidamente, escorrego numa casca de banana e acabo por entornar uma garrafa de Coca-Cola em cima do livro de um colega que estudava comigo no bar da escola. Sujar o livro do colega foi algo que eu fiz. Mas será isto uma acção?
Não, porque não tive intenção de sujar o livro do meu colega, não o fiz de propósito. Estamos perante algo que eu fiz sem querer e assim sendo o livro foi estragado pelo que me aconteceu e não propriamente por mim. Ter sujado o livro do meu colega nada tem de voluntário. O agente não o podia evitar.
5. 'Uma acção é um acontecimento intencionalmente causado por um agente'. Esclareça e dê exemplos.
Uma acção tal como é habitualmente definida é um comportamento desencadeado, dirigido e controlado por um agente. O que fazemos involuntariamente – seja de forma consciente ou inconsciente – não conta como acção.
Os exemplos são muitos: empurrar alguém para que caia na piscina, estudar para o teste de modo a obter bom resultado, cozinhar, treinar intensamente para ser campeão olímpico, ser fiel para não destruir o casamento, etc.
6. O que se entende por rede conceptual da acção?
A rede conceptual da acção é o conjunto de conceitos que usados nas frases que descrevem e explicam acções nos permitem compreender e explicar as acções. Os conceitos mais importantes a este respeito são conceitos como agente, motivo, intenção e consequências da ação.
7. O que é a intenção?
A intenção é o propósito ou o objectivo da acção. Voltando a um exemplo dado: alguém escorrega e deixa cair a comida do tabuleiro em cima dos livros de um colega, danificando – os. O agente deste acontecimento pode alegar que não tinha a intenção – que não era seu propósito ou objectivo – causar esses estragos. Não foi para isso que se desequilibrou.
8. Que relação existe entre a intenção e a explicação de uma acção?
Explicar uma acção é indicar a sua causa. A causa de uma acção é a intenção ou o propósito do agente ao realizá – la. Se poupo dinheiro com o objectivo de inscrever o meu filho no Instituto Britânico, essa intenção é que explica a minha acção.
9. Que relação existe entre intenções, desejos e crenças?
As intenções são estados mentais frequentemente associados a outros estados psicológicos que são as crenças e os desejos do agente. Voltemos ao exemplo anterior: poupo dinheiro com o objectivo de inscrever o meu filho no Instituto Britânico, essa intenção é que explica a minha acção. Na origem da minha intenção está um desejo que pretendo realizar – quero inscrever o meu filho no I.B. Poupo dinheiro para isso porque acredito – crença – que esse e não um empréstimo bancário ou a ajuda de um familiar é o melhor meio para atingir esse fim ou objectivo. O desejo de inscrever o meu filho no I.B. é condição necessária para ter a intenção de fazer tal inscrição. Mas não chega, não é condição suficiente para explicar a acção. Com efeito, há outros institutos onde inscrever o meu filho para aprender Inglês. Aqui entra em jogo outro factor psicológico: a crença ou convicção.
É por acreditar que a melhor forma de aprender Inglês é inscrever o meu filho no I.B. que opto por fazê – lo em vez de o matricular noutros institutos.
10. O que é o motivo de uma acção?
a) José vai a uma clínica médica fazer um exame de rotina e
b) um ribeiro transborda e inunda as ruas de uma cidade. Será que podem ser explicadas da mesma maneira?
Em b) descreve – se um acontecimento natural.
a)ser responsável implica ser livre. Não se pode responsabilizar uma pessoa por uma acção se ela não agiu livremente. Que um agente seja responsabilizável por uma acção implica que podia ter agido de modo diferente, não ter feito o que fez ou que podia ter evitado fazer o que fez (fosse a acção boa ou má).
X.GRUPO
A. Responda às seguintes questões:
1. O que é a Filosofia dos valores?
2. Defina valor?
3. Apresente tipos de Valores?
4. Defina e exemplifique Juizos de facto e Juizos de valor.
A. Identifique os seguintes juízos:
- Beethoven compôs mais de oito sinfonias.
- A Nona Sinfonia de Beethoven é sublime.
- Alguns estados norte-americanos aboliram a pena de morte.
- A pena de morte devia ser abolida.
- O holocausto foi moralmente horrível.
- A justiça é mais importante do que a liberdade
- Muitas pessoas valorizam a liberdade
- É bom que muitas pessoas valorizem a liberdade.
- Há quem julgue que não é bom que muitas pessoas valorizem a liberdade
- Paris é a capital de Portugal.
Será que o Objectivismo e o subjectivismo "resolvem" o problema dos valores morais?
Ora, nem o objectivismo nem o subjectivismo são capazes de explicar os juizos da moral. Por um lado os princípios éticos e os valores morais não se reduzem às vivências do sujeito (subjectivismo) e, por outro, não existem em si e por si mesmos e independentes da vida social dos indivíduos nem sequer consistem em manifestações da natureza da sociedade que se impõem aos indivíduos de tal maneira que a moral destes seria um mero da leis sociais independentes deles (objectivismo).
Justifique.
É na sociedade, nas relações sociais que os indivíduos estabelecem entre si, que se formam valores morais e princípios éticos que, para valerem como tais, passam a valer realmente como valores e princípios de conduta colectivos ou sociais. Assim, os valores possuem uma objectividade peculiar que se distingue da objectividade natural e física, de uma suposta objectividade ideal, espiritual ou transcendente, da liberdade transcendental humana à maneira de Kant. É uma objectividade que consiste no facto de serem valores normativos de conduta sociais mas que, ao mesmo tempo, só existem na medida em que foram interiorizadas subjectivamente, na convicção dos indivíduos que, assim, se impõem a si mesmos o respeito por esses valores normativos. Os valores consistem numa unidade dialéctica objectividade-subjectividade.
Ora, este valores, como factos sociais, e não meramente psicológicos, têm uma história. Depende da maneira como concebemos a História a nossa adesão à tese do relativismo moral cultural ou, pelo contrário, à tese do progresso moral, enquanto progresso universal da Humanidade.
Subjectivismo e relativismo moral - que relação?
Tal como para o subjectivismo ético, o relativismo ético não acredita na objectividade e na universalidade dos valores morais. Estes não existem independentemente do contexto cultural. O nazi-fascismo, o canibalismo e outras condutas seriam perfeitamente aceitáveis.
Vou provar aos meus leitores, apelando ao seu senso comum e ao seu conhecimento comum, que a vontade não é livre; e que é governada pela hereditariedade e pelo meio. Para começar, o homem comum estará contra mim. Ele sabe que escolhe entre dois percursos a toda a hora, e frequentemente a todo o minuto, e pensa que a sua escolha é livre. Mas isso é uma ilusão; a sua escolha não é livre. Ele pode escolher e, de facto, escolhe. Mas pode apenas escolher como a sua hereditariedade e o seu meio o fazem escolher. Nunca escolhe e nunca escolherá a não ser como a sua hereditariedade e o seu meio ― o seu temperamento e a sua formação ― o fazem escolher. E a sua hereditariedade e o seu meio fixaram a sua escolha antes de ele a fazer. O homem comum diz "Sei que posso agir como desejo agir." Mas o que o faz desejar? O partido do livre-arbítrio diz "Nós sabemos que um homem pode e efetivamente escolhe entre dois atos". Mas o que decide a escolha? Há uma causa para todo o desejo, uma causa para toda a escolha; e toda a causa de todo o desejo e escolha tem origem na hereditariedade ou no meio. Pois um homem age sempre devido ao temperamento, que é hereditariedade, ou devido à formação, que é meio. E nos casos em que um homem hesita ao escolher entre dois atos, a hesitação é devida a um conflito entre o seu temperamento e a sua formação ou, como alguns o exprimem, "entre o seu desejo e a sua consciência." Um homem está a praticar tiro ao alvo com uma arma quando um coelho se atravessa na sua linha de fogo. O homem tem os olhos postos no coelho e o dedo no gatilho. A vontade humana é livre. Se carregar no gatilho, o coelho é morto. Ora, como é que o homem decide se dispara ou não? Decide por intermédio do sentimento e da razão. Gostaria de disparar apenas para ter a certeza de que é capaz de acertar. Gostaria de disparar porque gostaria de ter coelho para o jantar. Gostaria de disparar porque existe nele o antiquíssimo instinto caçador de matar. Mas o coelho não lhe pertence. Ele não tem a certeza de que não se mete em sarilhos se o matar. Talvez ― se for um tipo de homem fora do comum ― sinta que seria cruel e covarde matar um coelho indefeso. Bem, a vontade do homem é livre. Se quiser, pode disparar; se quiser, pode deixar ir o coelho. Como decidirá? De que depende a sua decisão? A sua decisão depende da força relativa do seu desejo de matar o coelho, dos seus escrúpulos acerca da crueldade e da lei. Além disso, se conhecêssemos o homem muito bem, poderíamos adivinhar como o seu livre-arbítrio agiria antes que tivesse agido. O desportista britânico comum mataria o coelho. Mas sabemos que há homens que nunca matariam uma criatura indefesa. De um modo geral, podemos dizer que o desportista desejaria disparar e que o humanitarista não desejaria disparar. Ora, como as vontades de ambos são livres, deve ser alguma coisa fora das vontades que faz a diferença. Bem, o desportista matará porque é um desportista; o humanitarista não matará porque é um humanitarista. E o que faz de um homem um desportista e de outro um humanitarista? Hereditariedade e meio: temperamento e formação. Um homem é, por natureza, misericordioso e outro cruel; ou um é, por natureza, sensível e outro insensível. Esta é uma diferença de hereditariedade. A um pode ter sido ensinado durante toda a vida que matar animais selvagens é "desporto"; a outro pode ter sido ensinado que é inumano e errado; esta à uma diferença de meio. Ora, o homem por natureza cruel ou insensível, que foi treinado para pensar que matar animais é um desporto, torna-se aquilo a que chamamos um desportista, porque a hereditariedade e o meio fizeram dele um desportista. A hereditariedade e o meio do outro homem fizeram dele um humanitarista. O desportista mata o coelho porque é um desportista e é um desportista porque a hereditariedade e o meio fizeram dele um desportista. Isso é dizer que o "livre-arbítrio" é realmente controlado pela hereditariedade e pelo meio.
Robert Blatchford, Not Guilty, Albert and Charles Boni, Inc., 1913.
(Tradução de Álvaro Nunes, adaptado)
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