sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Problema do livre arbítrio


  

O Problema do livre arbítrio


O que é o problema do livre-arbítrio?

É uma reflexão filosófica em que se analisa a possibilidade de o agente da acção ser livre e responsável OU tudo aquilo que ele faz ser determinado por causas anteriores.

Que questões coloca o livre-arbítrio?
  • Somos verdadeiramente livres?
  • Somos livres ou determinados?
  • Temos, efectivamente, controlo sobre as nossas acções?
  • Será possível compatibilizar a liberdade humana com aspectos que parecem anula-la?
  • Como poderemos conciliar a crença de que as nossas acções são causalmente determinadas segundo as leis da natureza com a crença de que o Homem é livre e responsável pelas suas acções?

Como definir os conceitos?

DETERMINISMO - é uma teoria segundo a qual todos os acontecimentos do universo, incluindo as realizações humanas, estão submetidas a leis da natureza causal, ou seja, tudo é efeito de uma causa anterior.

LIVRE - ARBÍTRIO - é a vontade consciente de um sujeito livre e responsável.

RESPONSABILIDADE MORAL -  A responsabilidade moral é a capacidade que um agente tem de responder pelos seus atos, de reconhecer a sua autoria, assumindo as suas consequências e efeitos.

A responsabilidade designa a possibilidade de imputarmos uma acção a alguém que consideramos ser seu autor, ter tido a última palavra na decisão que desencadeou a acção.

COMPATIBILISMO - compatibilismo concilia a vontade livre e o determinismo, no sentido em que, apesar de, todas as acções no mundo estarem determinadas, algumas acções humanas, face a esses acontecimentos, são livres.

INCOMPATIBILISMO - Apenas existe um dos aspectos: O determinismo (determinismo radical) e o livre arbítrio (Libertismo).


Que respostas para o problema do livre-arbítrio?

1 - Compatibilismo ou determinismo moderado: Teoria compatibilista que defende que temos efetivamente livre-arbítrio e que tudo está determinado
2 - Determinismo radical  ou Incompatibilismo: Teoria incompatibilista que defende que tudo está determinado e, por isso, não temos efetivamente livre-arbítrio.
3 - Libertismo: Teoria incompatibilista que defende que temos efetivamente livre-arbítrio e, por isso, nem tudo está determinado.


1 - DETERMINISMO MODERADO OU COMPATIBILISMO.

- A liberdade é compatível com o determinismo (forças que a anulam). 
- Tese que defende que é possível compatibilizar o determinismo com a vontade livre, ou seja, aceita-se o determinismo do mundo natural mas também que há espaço para a liberdade e responsabilidade humanas.
- O livre-arbítrio e o determinismo podem coexistir
- David Hume (1711-1776) foi um dos defensores do determinismo moderado ou compatibilismo.
- Segundo Hume, agimos livremente quando as nossas acções resultam da nossa vontade, crenças e desejos.

ARGUMENTO 

Mesmo que as nossas acções sejam determinadas ou causadas, podemos sempre agir de maneira diferente, se assim o escolhermos. 


CRÍTICAS
Se, apesar de determinados podemos agir livremente, então não só somos livres como responsabilizados.
Mesmo que tudo esteja determinado por leis da natureza ou por acontecimentos anteriores, isso é compatível com o livre arbítrio.
O Determinismo Moderado defende que temos livre arbítrio quando agimos sem constrangimentos ou obstáculos internos e externos - será que poderá existir constrangimentos inconscientes?
Há autores como Bento de Espinosa (1632-1677) qe defendem que o determinismo moderado é uma teoria falsa. Este autor é defensor do determinismo radical.
Se aquilo que desejamos fazer se encontra determinado por acontecimentos anteriores, então, nestes casos, as nossas ações estão igualmente constrangidas por acontecimentos anteriores. 
Segundo os compatibilistas, se formos constrangidos a agir de uma determinada maneira, a nossa ação não é livre.

2 -  DETERMINISMO RADICAL OU INCOMPATIBILISMO.

A liberdade não é compatível com a força que a anula: a causa.
Tese que defende que as acções humanas são determinadas por causas necessárias (impossíveis de ser alteradas), são previsíveis e inevitáveis, portanto o ser humano não é livre.

ARGUMENTOS

Se o ser humano faz parte do mundo natural, então terá que obedecer às mesmas leis que os restantes fenómenos e seres. Desta forma, não há qualquer tipo de liberdade e, consequentemente, livre-arbítrio.


Formulando a tese do Determinismo Radical num argumento em forma canónica: 

Se tudo está determinado, então não há livre arbítrio
Ora, tudo está determinado
Logo, não há livre arbítrio.

(Argumento válido. Regra Modus Ponens.)



 CRITICAS
 As acções humanas são inevitáveis;
 As acções humanas são meros efeitos de causas que não controlamos;
 Não podemos ser responsabilizados pelas acções;
O determinismo radical parece negar a responsabilidade moral do agente pelas suas acções.
 Se não podemos ser responsabilizados pelas nossas acções, então a noção de justiça   e as ideias de Bem e Mal não fazem sentido;
É dificil não acreditar que somos seres conscientes e livres - temos a sensação interior da liberdade.
Acreditamos que podemos controlar as nossas acções e que não somos simples marionetes.
Para o determinismo radical o livre arbitrio é uma ilusão: como será possivel viver com a ilusao do livre arbitrio?
Se o Determinismo Radical é verdadeiro, então é possível prevenir crimes e acidentes antes mesmo de eles acontecerem.
Agir é manifestar a nossa crença no livre arbitrio, senão para quê a contestação, a critica, o recurso, a manifestação?
É quase impossivel pensar a nossa existência no mundo, sem livre arbítrio.



3 -  LIBERTISMO

Não há compatibilidade entre a liberdade e o determinismo, pois somos absolutamente livres.
Tese que defende, de modo radical, a liberdade e a responsabilidade humanas, ou seja, o ser humano não é determinado, pois ele tem o poder de se auto determinar através da sua mente.


ARGUMENTO
A vontade do ser humano não é causalmente determinada nem aleatória, pois o agente tem o poder de interferir no curso normal das coisas, através da sua mente.
Assim, defende-se uma separação entre o corpo e a mente, sendo que esta última está fora do domínio das leis da Natureza que determinam o ser humano. A mente é capaz de se auto determinar.

Se temos livre-arbítrio, o determinismo é falso.
Temos livre-arbítrio.
 Logo, o determinismo é falso


 CRITICAS
Se o ser humano é capaz de se auto determinar, então ele é absolutamente livre e responsável.
O Dilema do Libertista 
As decisões tomadas por um sujeito têm origem ou numa deliberação anterior ou então é uma escolha aleatória. 
A liberdade não é aleatória. Assim, a escolha aleatória não prova a existência de livre-arbítrio 
A deliberação depende dos desejos e/ou crenças de cada indivíduo, sendo determinada pelos mesmos.


Síntese:

O problema do livre arbítrio

- O que é a liberdade? Correspnde à possibilidade de escolha e de autodeterminação, ou acto voluntário, autónomo e independente de qualquer constrangimento e coacção externa ou interna.

- Se considerarmos as acções humanas como inevitáveis está-se a negar o livre arbítrio, e ao mesmo tempo, a desculpabilizar todas as acções do homem. 

- Se considerarmos que o sujeito decide todas as suas acções, deliberando-as portanto, este terá se enfrentar as consequências inerentes a essa acção, assumindo-se então, responsável.


Teorias acerca do Livre-arbítrio

Existem três teorias sobre o problema do livre-arbítrio: 

- O determinismo radical e o libertismo, que são teorias incompatibilistas (defendem que ou o homem não possui livre-arbítrio de todo – determinismo radical – ou possui sempre livre-arbítrio – libertismo) 

- O determinismo moderado ou compatibilismo, que é a única teoria compatibilista (defende que é possível afirmar simultaneamente como verdadeiras as afirmações: “os acontecimentos são causados” e “o homem é dotado de livre-arbítrio”).

Determinismo moderado

Mesmo que as nossas acções sejam causadas, podemos sempre agir de outro modo, se assim o escolhermos. Assim, as nossas acções terão de ser responsabilizadas.

Ex: uma pessoa decide levantar o braço para acenar a alguém conhecido. Esse levantar do braço é totalmente determinado por causa neurofisiológicas; ou seja, existem causas e mecanismos nervosos que determinam o levantar do braço. Todavia, o indivíduo não foi forçado a levantá-lo, isto é, era também possível não levantar o braço.

Criticas
Se aquilo que desejamos fazer se encontra determinado por acontecimentos anteriores, então, nestes casos, as nossas ações estão igualmente constrangidas por acontecimentos anteriores. 

Segundo os compatibilistas, se formos constrangidos a agir de uma determinada maneira, a nossa ação não é livre.

Libertismo

Esta corrente defende, de um modo mais radical, o livre arbítrio e a responsabilidade do ser humano existem.

O Homem possui a capacidade de escolha, e uma determinada acção não é causalmente determinada (determinismo).

O agente pode interferir no curso normal das coisas pela sua capacidade racional e deliberativa.

O corpo humano pode até ser determinado por causa naturais, como não conseguir voar, mas a mente não está determinada, ela autodetermina-se.

Deste modo, o sujeito é sempre responsabilizado pelas suas acções, sendo estas, tomadas de livre vontade.

Determinismo radical

- O determinismo radical é a teoria segundo a qual não temos livre-arbítrio e todos os acontecimentos estão determinados. 

O argumento do determinismo radical contra a existência do livre-arbítrio é o seguinte: 

 Se o determinismo é verdadeiro, não há livre-arbítrio. 

O determinismo é verdadeiro. 

 Logo, não há livre-arbítrio.

Existem 3 objeções ao determinismo radical: 

• A objeção da responsabilidade moral - se não formos livres, como podemos ser responsáveis pelas nossas acções?

• A objeção fenomenológica - A experiência do livre-arbítrio é muito forte. Não é possível evitar acreditar que temos livre-arbítrio porque isso faz parte do próprio processo de agir. Como seria viver com a crença de que não há livre-arbítrio?

• Falta de provas empíricas - Não é possível provar que as decisões humanas se baseiam numa cadeia causal que ignoramos, se não temos consciência de tal cadeia.




LOLA

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