Relativismo moral cultural:
Exemplos
A tribo Kwakiutl,
Segundo a antropóloga Ruth Benedict, sempre que morria um membro da tribo Kwakiutl, do noroeste americano, os familiares enlutados saíam em busca de membros de outras tribos para os matar. Para eles, a morte era uma afronta que devia ser vingada pela morte de outra pessoa. Assim, quando a irmã do chefe da tribo morreu, este matou sete homens e duas crianças de outra tribo que nada tinham a ver com o acontecimento.
Se eu ou você tivéssemos feito tais coisas seríamos considerados assassinos. Matar pessoas inocentes como o fez o chefe dos Kwakiutl é contrário às nossas leis e ao nosso código moral. Contudo, a sua acção não foi contrária às leis ou ao código moral da sua cultura. Segundo os padrões morais da sua sociedade, o que fez é aceitável, porventura obrigatório. Que código moral é correcto? O da cultura a que você e eu pertencemos ou o código moral da referida tribo? O chefe da tribo Kwakiutl agiu erradamente ao assassinar nove pessoas inocentes por a sua irmã ter morrido? Com que fundamento podemos afirmar isso?
Os antigos egípcios, gregos e romanos praticavam a escravatura. O mesmo acontecia com os israelitas do Antigo Testamento. Até uma data tão recente como 1860, muitos brancos no sul dos Estados Unidos tinham escravos negros. No passado muitas culturas acreditavam que a escravatura era um prática moralmente aceitável. Hoje quase ninguém aceita tal ideia. Estavam os nossos antepassados errados quando acreditavam na moralidade da escravatura? Mais uma vez: com que fundamento podemos afirmar isso?Quando os britânicos começaram a ocupar e colonizar a Índia, descobriram horrorizados que os hindus praticavam a queima das viúvas. Quando o marido morria a mulher (ou as mulheres) era pressionada para que aceitasse ser cremada juntamente com o corpo do marido na pira funerária. Os britânicos acreditavam que essa prática era moralmente inaceitável, desumana. Muitos hindus discordavam completamente. Diferentes culturas, diferentes crenças morais. Será que um conjunto de normas e preceitos morais é errado e o outro correcto?
Diferentes sociedades, diferentes culturas e diferentes indivíduos discordam frequentemente acerca do que é bom e mau, correcto ou incorrecto. É muito difícil pôr as pessoas de acordo sobre questões morais. As disputas muitas vezes parecem intermináveis e insolúveis. Por isso muitas pessoas perguntam: «Há verdade e falsidade em assuntos morais?», «Faz sentido dizer que uma crença moral é correcta e que outra é errada?»
1. Será a ética relativa? 2. Não há princípios éticos universais?
3. Faça o levantamento das questões colocadas no texto 1.
4. O interculturalismo pode levar a que as sociedades se tornem mais evoluídas do ponto de vista ético?
Tradição indígena faz pais tirarem a vida de crianças com deficiência
física
A prática
acontece em pelos menos 13 etnias indígenas do Brasil.
Uma tradição comum antes mesmo de o homem branco chegar ao país.
Um assunto da maior importância: o direito à vida. Você acha certo matar
crianças recém-nascidos por causa de alguma deficiência física?
Pois saiba que isso acontece no Brasil e não é crime. A
Constituição, nossa lei maior, assegura a grupos indígenas o direito à prática
do infanticídio, o assassinato de bebês que nascem com algum problema grave de
saúde.
Para os índios, isso é um gesto de amor, uma forma de proteger o
recém-nascido, mas tem gente que discorda.
Um projeto de lei que pretende erradicar o infanticídio já foi aprovado em
duas comissões na Câmara Federal e agora vai para votação no plenário.
Do outro lado, os antropólogos defendem a não interferência na cultura dos
índios. Os repórteres do Fantástico foram investigar essa questão sobre a qual
pouco se fala. E descobriram que a morte desses recém-nascidos mudou para pior
o mapa da violência no Brasil.
A cidade mais violenta do Brasil fica no interior do estado de Roraima.
Chama-se Caracaraí e
tem só 19 mil habitantes.
De acordo com o último Mapa da Violência, do Ministério da
Justiça, em um ano, 42 pessoas foram assassinadas por lá. Entre
elas, 37 índios, todos recém-nascidos, mortos pelas próprias mães, pouco depois
do primeiro choro.
A partir de uma porteira, o Fantástico entrou na terra dos ianomâmis, uma
área de 9,6 milhões de hectares, maior do que Portugal. Lá, vivem 25 mil índios
em 300 aldeias numa floresta inteiramente preservada.
O filho de uma mulher ianomâmi vai fazer parte da próxima estatística de
crianças mortas logo após o nascimento. Há duas semanas, ela começou a sentir
as dores do parto, entrou na floresta sozinha e horas depois saiu de lá sem a
barriga de grávida e sem a criança.
Os agentes de saúde que trabalham lá disseram, sem gravar, que naquela
noite aconteceu mais um homicídio infantil, o infanticídio.
O infanticídio indígena é um ato sem testemunha. As mulheres vão sozinhas
para a floresta. Lá, depois do parto, examinam a criança. Se ela tiver alguma
deficiência, a mãe volta sozinha para a aldeia.
A prática acontece em pelos menos 13 etnias indígenas do Brasil,
principalmente nas tribos isoladas, como os suruwahas, ianomâmis e kamaiurás. Cada
etnia tem uma crença que leva a mãe a matar o bebê recém-nascido.
Criança com deficiência física, gêmeos, filho de mãe solteira ou fruto de
adultério podem ser vistos como amaldiçoados dependendo da tribo e acabam sendo
envenenados, enterrados ou abandonados na selva. Uma tradição comum antes mesmo
de o homem branco chegar por lá, mas que fica geralmente escondida no meio da
floresta.
O tema infanticídio ressurge agora por ter se destacado no Mapa da
Violência 2014, elaborado com os dados de dois anos atrás.
O autor do levantamento feito para o Ministério da Justiça, o pesquisador
Júlio Jacobo, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, não tinha
ideia da prática.
“E aí, então, comecei a pesquisar efetivamente com as certidões de óbito.
Registravam que crianças de cor ou raça indígena, de 0 a 6 dias de idade. E
começamos a ver que realmente era uma cultura indígena meio não falada, meio
oculta”, diz o pesquisador.
O secretário de Segurança Pública de Roraima, Amadeu
Soares, explica por que o seu estado aparece, pela primeira vez, entre os mais
violentos do Brasil.
Fantástico: Por que no ano de 2012 teve essa evolução, esse número tão
grande?
Amadeu Soares: Porque foi o ano que a Secretaria Especial começou a
fazer o trabalho de registro desses infanticídios.
E foi assim que Caracaraí, no interior de Roraima, se transformou no
município mais violento do Brasil. São 210 homicídios para cada 100 mil
habitantes. A média nacional é 29 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Pituko Waiãpi é um sobrevivente. Ele nasceu há 37 anos numa aldeia waiapi,
localizada no interior do Amapá. Tinha paralisia infantil e estava condenado ao
sacrifício.
“A minha família não aceitava por causa da deficiência. Então, a Funai me
tirou de lá”, conta.
O garoto cresceu entre os homens brancos e, aos sete anos, foi levado de
volta para a tribo.
“Uma assistente social não entendia do costume da aldeia. Ela não sabia que
ele não podia mais voltar e o mandou de volta”, conta Silvia Waiãpi, irmã de
Pituko.
O garoto vivia carregado pela mãe, pai ou irmão mais velho.
“E aí um dia minha mãe cansou de me carregar e deu para o meu pai. Quando
foi na hora de atravessar o rio, meu pai começou a ameaçar que eu não servia
para nada, que eu merecia ser morto. A minha mãe escutou isso e gritou que não
era para ele fazer isso comigo”, conta Pituko.
“A minha mãe o deu para um dentista e a única palavra que ele sabia falar
em português era: ‘Embora. Embora. Embora’”, diz a irmã.
Ele só voltou a ver os pais quando tinha 21 anos.
“A minha mãe sentou do meu lado e disse: ‘Meu filho, tu lembra daquele
tempo que aconteceu?’. Eu falei: ‘Lembro’. Aí ela perguntou: ‘Você tem raiva
dele?’. ‘Eu, não. Eu gosto do meu pai’. Isso é cultura de vocês. Quem sabe
vocês estavam fazendo o certo e eu não estava sofrendo mais”, conta Pituko.
“Como é que é carregar um deficiente físico nas costas sem cadeiras de
rodas? No meio do mato?”, comenta a irmã de Pituko.
A irmã de Pituko explica: para o seu povo, o infanticídio não é um ato
cruel.
“Era um ato de amor. Amor e desespero. Porque você não quer que um filho
seu continue sofrendo. Você quer que ele sobreviva, mas não se não há como?”,
diz ela.
“Não se pode atribuir a isso qualquer elemento de crueldade. Se uma pessoa
começa já no nascimento conter deformações físicas ou incapacidades muito
grandes, você vai ter sempre em si um marginal”, avalia o antropólogo João
Pacheco.
Na visão do antropólogo, este garoto é um exemplo do que seria um marginal
na comunidade indígena. Ele sofre de um problema neurológico.
“Essa criança nasceu, segundo informações, sem nenhum sinal de qualquer
tipo de deficiência. Eles não rejeitaram ela, mas ao mesmo tempo ela não fica
como as outras crianças. Fica mais escondidinha”, explica Tiago Pereira,
enfermeiro da Secretaria de Saúde Indígena.
Por não ter percebido a deficiência, a mãe deu de mamar ao filho.
Esta é uma cena da maior importância na vida de um pequeno ianomâmi. Quando
a mãe amamenta o filho, é como se tivesse dando a ele a certidão de nascimento,
é que ele está sendo aceito por ela e pela comunidade.
Os índios acreditam que só durante esse ritual o bebê se torna um ser vivo
e, graças a essa primeira mamada, Kanhu Rakai, filha de Tawarit, está viva
hoje.
“Se tivesse anotado de pequeno, poderia estar enterrado”, afirma Tawarit
Makaulaka Kamaiurá, pai de Kanhu Rakai.
Quando nasceu, a família, que faz parte da etnia kamayurá, não notou que
Kanhu Rakai desenvolveria qualquer problema.
“Ela nasceu normal. Depois de cinco anos, ela começou a ir enfraquecendo
mais”, conta Tawarit.
Kanhu Rakai tinha distrofia muscular progressiva, uma doença degenerativa
que dificulta cada dia mais os movimentos da garota, e os pais se sentiam
pressionados pela comunidade para matar a criança.
“A aldeia não manda. Pode mandar, mas só que quem decide, eu e ela, é a
gente que decide”, diz Tawarit.
E eles decidiram se mudar para Brasília.
“Para mim, enterrar as crianças é feio, é muito feio”, afirma Tawarit.
A solução para impedir a morte de bebês indígenas não é simples. Quem vive
próximo ao problema, sabe disso. João Catalano é o coordenador geral da Frente
de Proteção dos Índios Ianomâmis, da Funai.
“A gente tem que entender o ambiente em que eles estão inseridos. Aqui a
gente está falando da maior floresta tropical do mundo. A maior parte das
regiões só chega de avião”, diz Catalano.
O secretário de Segurança Pública de Roraima aponta outra limitação para
agir: “A Funai acompanha, estuda e analisa todas essas questões culturais dos
povos indígenas. E o estado tem essa limitação de apenas fazer o registro e o
atendimento no caso de óbito”.
Várias vezes, enquanto esta reportagem estava sendo feita, tentamos falar
com a direção da Funai, a Fundação Nacional do Índio. Ela não quis falar com o
Fantástico sobre esse assunto.
E o que diz a lei brasileira sobre o infanticídio indígena? O artigo 5º da
Constituição garante a todos o direito à vida.
O jurista José Afonso da Silva, especialista em direito constitucional, faz
uma ressalva sobre as exceções dentro da Constituição.
“Ela reconhece a cultura indígena, os costumes indígenas, as tradições
indígenas”, observa o jurista.
Então, diante da Constituição do Brasil, não há nada condenável no ato da
mãe índia que mata o filho bebê.
O deputado federal Henrique Afonso, do PV do Acre, apresentou um projeto de
lei indicando como o estado pode trabalhar para intervir na questão. “Esse
projeto, o objetivo é erradicar o infanticídio no Brasil”, diz Henrique Afonso.
Ele prevê, por exemplo, a criação de um Conselho Tutelar Indígena, que
teria autonomia para determinar qual medida deve ser adotada em cada
caso.
O projeto ainda não foi colocado em votação no Congresso,
mas já é criticado.
“Não há como executar essa lei a não ser com violência, que é
desaconselhável. E a própria Constituição repudiaria isso”, comenta o jurista
José Afonso da Silva.
“Eu não posso imaginar que esse seja um projeto realmente humanitário.
Então, nesse sentido, os antropólogos têm se manifestado sempre contra”, diz o
antropólogo João Pacheco.
Para os antropólogos, a solução seria o diálogo.
Uma saída bem sucedida encontrada pelo técnico de enfermagem da Secretaria
Especial de Saúde Indígena do Ministério da
Saúde, Charles Sheiffer. Conversando, ele conseguiu impedir a
morte de um bebê indígena.
“Eu estava no posto de saúde mais ou menos 5h20 e, de repente, eu escutei
uma batida na porta do posto. A mãe mandou um dos filhos dela me chamar para
poder mostrar essa criança. Cheguei lá e a criança estava na grama já com
placenta e tudo. E fiquei com essa criança mais ou menos uns três dias”, conta
Sheiffer.
O pai já tinha outros três filhos. E acreditava que não tinha condição de
criar mais um bebê.
“Até que o pai se convenceu da minha atitude. E a mãe também queria a
criança. De toda forma, ela queria. E aí quando ela deu a primeira mamada...
Pronto! A criança estava livre”, lembra Sheiffer.
Silvia se formou em fisioterapia, é tenente no Exército e reclama da falta
de estrutura e saúde dada a esses povos.
“Falta de medicação, falta de enfermeiros, técnicos, porque os poucos que
têm estão sobrecarregados. Então, dizer que o índio está fazendo o infanticídio
é muito fácil. Mas se tivesse estrutura, eu duvido que isso aconteceria. Eu
falo isso porque meu irmão, o Pituko, é tetraplégico, ele não teria nenhuma
condição de sobrevivência dentro da aldeia, mas aqui ele hoje é um pintor. Ele
só mexe a cabeça e o pescoço, e ele pinta, e ele escreve apenas com a boca”,
conta Silvia.
Hoje Pituko é um orgulho para a sua aldeia. Agora, os waiãpis descobriram
que existe outro caminho para crianças que nascem com deficiência.
“Eu quebrei os preconceitos sobre pessoas com paralisia infantil. Eu tenho
uma sobrinha que tem dois filhos que são deficientes”, diz Pituko.
“E hoje meu pai entende isso. Hoje, nós vemos isso no olhar dele. Um olhar
de amor. Um olhar de carinho. E quando nós vamos, ele chora, porque fazia muito
tempo que ele não nos via. E ele diz em português: saudade”, conta Silvia.
A mesma saudade que Muwaji tem do seu povo. Ela é de uma tribo isolada
do Amazonas,
a suruwaha.
Quando deu a luz ao seu filho, estava sozinha no meio da floresta. Percebeu
que a criança não abria as mãos e tinha as pernas cruzadas e duras. Muwaji
começou a criar a filha mas o irmão insistia que ela devia matar a bebê.
“Meu irmão falou: ‘Dá o veneno. Eles vão matar’. ‘Não quero matar’”, conta
Muwaji.
Para salvar a criança, Muwaji fugiu da sua tribo. Vive com a filha de oito
anos em Brasília e nunca mais viu a família.
“Meu coração é triste, chora. Depois é alegre de novo”, diz.
Ela não vê meios de voltar para sua tribo e apenas canta quando quer se
sentir próxima a seu povo.
Países em que se pratica o casamento infantil
Uma batalha que
continuamos a combater em muitos países da África subsariana, América Latina e
Sudeste asiático, e que esconde no seu interior o horrível fenómeno do casamento infantil, com 15
milhões de meninas por ano a casarem-se contra a sua vontade.
São várias as causas que podem estar
relacionadas com o casamento infantil,
no entanto, as principais são: a pobreza, onde os casamentos representam
menos uma boca para alimentar, a guerra e as carências educacionais em conjunto
com as tradições antigas presentes no território. Mas, onde predomina o casamento infantil?
E é algo circunscrito aos países em vias de desenvolvimento?
Dar visibilidade ao casamento infantil
Moçambique, Uganda,
Etiópia… São países de África onde a Ajuda em Ação promoveu o direito à
educação e a luta contra a discriminação de mulheres e raparigas como forma de combater o casamento
infantil. Mas o casamento
infantil não é uma realidade circunscrita apenas aos países em
desenvolvimento. A ativista americana Sherry Johnson explicava, em 2017, como
milhares e milhares de menores são obrigadas a
casarem-se em estados como Texas, Florida, Kentucky, Tennessee ou
Alabama, nos EUA. Em Portugal, este fenómeno também está presente, uma vez que
a idade legal para casar é a partir dos 16 anos (com autorização
parental). Esta é uma realidade que continua a crescer em toda a Europa e criou
uma certa controvérsia em comunidades como a cigana, registando 0,03% de casamentos de pessoas entre
os 16 e 18 anos.
De qualquer forma,
estes valores apenas pretendem consciencializar para o facto de este ser um
problema global e não apenas limitado aos países em desenvolvimento – em
particular, aos mais pobres da África negra e do Sudeste asiático. Não
obstante, o grosso dos casamentos
infantis é um problema em mais
de uma vintena de países onde as mulheres são obrigadas a casarem-se
antes dos 18 anos, algo que vem sempre acompanhado da privação de liberdade
individual, abandono escolar, confinamento em casa e dependência de um homem
adulto, na grande maioria dos casos. Aos aspetos referidos anteriormente, não é
de estranhar que se juntem outros perigos e graves consequências, como danos
físicos e psicológicos, relacionamentos forçados, realização de tarefas
obrigadas e próprias para adultos e outros riscos para a saúde, como doenças
sexualmente transmissíveis e gravidezes precoces.
Casamento infantil: um problema mundial
As raparigas das
regiões mais pobres têm até
300% mais probabilidades de casarem antes da maioridade. A situação é
praticamente a mesma nas zonas rurais e urbanas, onde as probabilidades se
duplicam.
Níger (76%), República
Centro Africana (68%), Chade (68%), Mali (55%), Burkina Faso (52%), Guiné
(52%), Sudão do Sul (52%) e Moçambique (48%) estão na lista dos dez países com
maior taxa de casamentos infantis do
mundo e, como pode ver, os valores são arrepiantes. O mesmo ocorre no
Bangladesh (52%) e na Índia (47%). Se nascesse em qualquer um destes países,
teria, pelo menos, cinquenta por cento de probabilidade de casar-se antes dos
dezoito anos segundo a BBC/UNICEF.
Segundo as Nações
Unidas, o casamento infantil viola os direitos
fundamentais das crianças e é uma prática muito mais comum nas
raparigas do que nos rapazes. Além do mais, treze milhões dos menores casados
(raparigas, principalmente) contra a sua vontade vivem em África e esta
tendência ameaça duplicar-se em 2020. Mas os dados tornam-se ainda mais
preocupantes se olharmos para outros problemas derivados do casamento infantil.
·
No Mali, o “Código Familiar de 2011” obriga a mulher a obedecer ao marido.
· Apenas 18 em cada 100 mulheres utilizam métodos contracetivos no Senegal.
·
No Níger, a idade média do casamento não chega aos 16 anos.
Infelizmente, não se
trata de um problema menos significativo fora do continente africano: o Sudeste asiático enfrenta um
problema semelhante por causa da tradição em países como o Bangladesh, o
Paquistão e a Indonésia.
No caso do Bangladesh (52% de
casamentos infantis atualmente), as mulheres que residem no país casaram-se
ainda crianças em 73% dos casos, o que demonstra uma fortíssima tradição de casamentos
infantis no país. O mesmo acontece no Paquistão e na Indonésia (34% e 38%,
respetivamente) e mostra o lado mais terrível de uma questão cultural que priva
os seus homens e mulheres da liberdade e que dificulta o rompimento desse ciclo
de pobreza e do vínculo cultural.
Ainda que possa
parecer que fora destas duas regiões – no Sudeste asiático, este problema
também se estende ao Afeganistão e ao Cazaquistão – os casamentos forçados não são
um problema tão extenso e grave, os números das Nações Unidas são arrepiantes
em muitos outros pontos do planeta. A América
Latina e o Caribe contam com 29% de casamentos
infantis e, na prática, países como a Arábia Saudita (10 anos) e o
Iémen (sem legislação) não possuem idade mínima para casar.
O casamento infantil é um
grave problema que envolve tradição, educação e nível sociocultural, entre
outros fatores, contra o qual precisamos de trabalhar para garantir uma
infância feliz e livre aos menores e um futuro mais justo para todos.
3. Faça o levantamento das questões colocadas no texto 1.
Tradição indígena faz pais tirarem a vida de crianças com deficiência
física
A prática
acontece em pelos menos 13 etnias indígenas do Brasil.
Uma tradição comum antes mesmo de o homem branco chegar ao país.
Um assunto da maior importância: o direito à vida. Você acha certo matar
crianças recém-nascidos por causa de alguma deficiência física?
Pois saiba que isso acontece no Brasil e não é crime. A
Constituição, nossa lei maior, assegura a grupos indígenas o direito à prática
do infanticídio, o assassinato de bebês que nascem com algum problema grave de
saúde.
Para os índios, isso é um gesto de amor, uma forma de proteger o
recém-nascido, mas tem gente que discorda.
Um projeto de lei que pretende erradicar o infanticídio já foi aprovado em
duas comissões na Câmara Federal e agora vai para votação no plenário.
Do outro lado, os antropólogos defendem a não interferência na cultura dos
índios. Os repórteres do Fantástico foram investigar essa questão sobre a qual
pouco se fala. E descobriram que a morte desses recém-nascidos mudou para pior
o mapa da violência no Brasil.
A cidade mais violenta do Brasil fica no interior do estado de Roraima.
Chama-se Caracaraí e
tem só 19 mil habitantes.
De acordo com o último Mapa da Violência, do Ministério da
Justiça, em um ano, 42 pessoas foram assassinadas por lá. Entre
elas, 37 índios, todos recém-nascidos, mortos pelas próprias mães, pouco depois
do primeiro choro.
A partir de uma porteira, o Fantástico entrou na terra dos ianomâmis, uma
área de 9,6 milhões de hectares, maior do que Portugal. Lá, vivem 25 mil índios
em 300 aldeias numa floresta inteiramente preservada.
O filho de uma mulher ianomâmi vai fazer parte da próxima estatística de
crianças mortas logo após o nascimento. Há duas semanas, ela começou a sentir
as dores do parto, entrou na floresta sozinha e horas depois saiu de lá sem a
barriga de grávida e sem a criança.
Os agentes de saúde que trabalham lá disseram, sem gravar, que naquela
noite aconteceu mais um homicídio infantil, o infanticídio.
O infanticídio indígena é um ato sem testemunha. As mulheres vão sozinhas
para a floresta. Lá, depois do parto, examinam a criança. Se ela tiver alguma
deficiência, a mãe volta sozinha para a aldeia.
A prática acontece em pelos menos 13 etnias indígenas do Brasil,
principalmente nas tribos isoladas, como os suruwahas, ianomâmis e kamaiurás. Cada
etnia tem uma crença que leva a mãe a matar o bebê recém-nascido.
Criança com deficiência física, gêmeos, filho de mãe solteira ou fruto de
adultério podem ser vistos como amaldiçoados dependendo da tribo e acabam sendo
envenenados, enterrados ou abandonados na selva. Uma tradição comum antes mesmo
de o homem branco chegar por lá, mas que fica geralmente escondida no meio da
floresta.
O tema infanticídio ressurge agora por ter se destacado no Mapa da
Violência 2014, elaborado com os dados de dois anos atrás.
O autor do levantamento feito para o Ministério da Justiça, o pesquisador
Júlio Jacobo, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, não tinha
ideia da prática.
“E aí, então, comecei a pesquisar efetivamente com as certidões de óbito.
Registravam que crianças de cor ou raça indígena, de 0 a 6 dias de idade. E
começamos a ver que realmente era uma cultura indígena meio não falada, meio
oculta”, diz o pesquisador.
O secretário de Segurança Pública de Roraima, Amadeu
Soares, explica por que o seu estado aparece, pela primeira vez, entre os mais
violentos do Brasil.
Fantástico: Por que no ano de 2012 teve essa evolução, esse número tão
grande?
Amadeu Soares: Porque foi o ano que a Secretaria Especial começou a
fazer o trabalho de registro desses infanticídios.
E foi assim que Caracaraí, no interior de Roraima, se transformou no
município mais violento do Brasil. São 210 homicídios para cada 100 mil
habitantes. A média nacional é 29 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Pituko Waiãpi é um sobrevivente. Ele nasceu há 37 anos numa aldeia waiapi,
localizada no interior do Amapá. Tinha paralisia infantil e estava condenado ao
sacrifício.
“A minha família não aceitava por causa da deficiência. Então, a Funai me
tirou de lá”, conta.
O garoto cresceu entre os homens brancos e, aos sete anos, foi levado de
volta para a tribo.
“Uma assistente social não entendia do costume da aldeia. Ela não sabia que
ele não podia mais voltar e o mandou de volta”, conta Silvia Waiãpi, irmã de
Pituko.
O garoto vivia carregado pela mãe, pai ou irmão mais velho.
“E aí um dia minha mãe cansou de me carregar e deu para o meu pai. Quando
foi na hora de atravessar o rio, meu pai começou a ameaçar que eu não servia
para nada, que eu merecia ser morto. A minha mãe escutou isso e gritou que não
era para ele fazer isso comigo”, conta Pituko.
“A minha mãe o deu para um dentista e a única palavra que ele sabia falar
em português era: ‘Embora. Embora. Embora’”, diz a irmã.
Ele só voltou a ver os pais quando tinha 21 anos.
“A minha mãe sentou do meu lado e disse: ‘Meu filho, tu lembra daquele
tempo que aconteceu?’. Eu falei: ‘Lembro’. Aí ela perguntou: ‘Você tem raiva
dele?’. ‘Eu, não. Eu gosto do meu pai’. Isso é cultura de vocês. Quem sabe
vocês estavam fazendo o certo e eu não estava sofrendo mais”, conta Pituko.
“Como é que é carregar um deficiente físico nas costas sem cadeiras de
rodas? No meio do mato?”, comenta a irmã de Pituko.
A irmã de Pituko explica: para o seu povo, o infanticídio não é um ato
cruel.
“Era um ato de amor. Amor e desespero. Porque você não quer que um filho
seu continue sofrendo. Você quer que ele sobreviva, mas não se não há como?”,
diz ela.
“Não se pode atribuir a isso qualquer elemento de crueldade. Se uma pessoa
começa já no nascimento conter deformações físicas ou incapacidades muito
grandes, você vai ter sempre em si um marginal”, avalia o antropólogo João
Pacheco.
Na visão do antropólogo, este garoto é um exemplo do que seria um marginal
na comunidade indígena. Ele sofre de um problema neurológico.
“Essa criança nasceu, segundo informações, sem nenhum sinal de qualquer
tipo de deficiência. Eles não rejeitaram ela, mas ao mesmo tempo ela não fica
como as outras crianças. Fica mais escondidinha”, explica Tiago Pereira,
enfermeiro da Secretaria de Saúde Indígena.
Por não ter percebido a deficiência, a mãe deu de mamar ao filho.
Esta é uma cena da maior importância na vida de um pequeno ianomâmi. Quando
a mãe amamenta o filho, é como se tivesse dando a ele a certidão de nascimento,
é que ele está sendo aceito por ela e pela comunidade.
Os índios acreditam que só durante esse ritual o bebê se torna um ser vivo
e, graças a essa primeira mamada, Kanhu Rakai, filha de Tawarit, está viva
hoje.
“Se tivesse anotado de pequeno, poderia estar enterrado”, afirma Tawarit
Makaulaka Kamaiurá, pai de Kanhu Rakai.
Quando nasceu, a família, que faz parte da etnia kamayurá, não notou que
Kanhu Rakai desenvolveria qualquer problema.
“Ela nasceu normal. Depois de cinco anos, ela começou a ir enfraquecendo
mais”, conta Tawarit.
Kanhu Rakai tinha distrofia muscular progressiva, uma doença degenerativa
que dificulta cada dia mais os movimentos da garota, e os pais se sentiam
pressionados pela comunidade para matar a criança.
“A aldeia não manda. Pode mandar, mas só que quem decide, eu e ela, é a
gente que decide”, diz Tawarit.
E eles decidiram se mudar para Brasília.
“Para mim, enterrar as crianças é feio, é muito feio”, afirma Tawarit.
A solução para impedir a morte de bebês indígenas não é simples. Quem vive
próximo ao problema, sabe disso. João Catalano é o coordenador geral da Frente
de Proteção dos Índios Ianomâmis, da Funai.
“A gente tem que entender o ambiente em que eles estão inseridos. Aqui a
gente está falando da maior floresta tropical do mundo. A maior parte das
regiões só chega de avião”, diz Catalano.
O secretário de Segurança Pública de Roraima aponta outra limitação para
agir: “A Funai acompanha, estuda e analisa todas essas questões culturais dos
povos indígenas. E o estado tem essa limitação de apenas fazer o registro e o
atendimento no caso de óbito”.
Várias vezes, enquanto esta reportagem estava sendo feita, tentamos falar
com a direção da Funai, a Fundação Nacional do Índio. Ela não quis falar com o
Fantástico sobre esse assunto.
E o que diz a lei brasileira sobre o infanticídio indígena? O artigo 5º da
Constituição garante a todos o direito à vida.
O jurista José Afonso da Silva, especialista em direito constitucional, faz
uma ressalva sobre as exceções dentro da Constituição.
“Ela reconhece a cultura indígena, os costumes indígenas, as tradições
indígenas”, observa o jurista.
Então, diante da Constituição do Brasil, não há nada condenável no ato da
mãe índia que mata o filho bebê.
O deputado federal Henrique Afonso, do PV do Acre, apresentou um projeto de
lei indicando como o estado pode trabalhar para intervir na questão. “Esse
projeto, o objetivo é erradicar o infanticídio no Brasil”, diz Henrique Afonso.
Ele prevê, por exemplo, a criação de um Conselho Tutelar Indígena, que
teria autonomia para determinar qual medida deve ser adotada em cada
caso.
O projeto ainda não foi colocado em votação no Congresso,
mas já é criticado.
“Não há como executar essa lei a não ser com violência, que é
desaconselhável. E a própria Constituição repudiaria isso”, comenta o jurista
José Afonso da Silva.
“Eu não posso imaginar que esse seja um projeto realmente humanitário.
Então, nesse sentido, os antropólogos têm se manifestado sempre contra”, diz o
antropólogo João Pacheco.
Para os antropólogos, a solução seria o diálogo.
Uma saída bem sucedida encontrada pelo técnico de enfermagem da Secretaria
Especial de Saúde Indígena do Ministério da
Saúde, Charles Sheiffer. Conversando, ele conseguiu impedir a
morte de um bebê indígena.
“Eu estava no posto de saúde mais ou menos 5h20 e, de repente, eu escutei
uma batida na porta do posto. A mãe mandou um dos filhos dela me chamar para
poder mostrar essa criança. Cheguei lá e a criança estava na grama já com
placenta e tudo. E fiquei com essa criança mais ou menos uns três dias”, conta
Sheiffer.
O pai já tinha outros três filhos. E acreditava que não tinha condição de
criar mais um bebê.
“Até que o pai se convenceu da minha atitude. E a mãe também queria a
criança. De toda forma, ela queria. E aí quando ela deu a primeira mamada...
Pronto! A criança estava livre”, lembra Sheiffer.
Silvia se formou em fisioterapia, é tenente no Exército e reclama da falta
de estrutura e saúde dada a esses povos.
“Falta de medicação, falta de enfermeiros, técnicos, porque os poucos que
têm estão sobrecarregados. Então, dizer que o índio está fazendo o infanticídio
é muito fácil. Mas se tivesse estrutura, eu duvido que isso aconteceria. Eu
falo isso porque meu irmão, o Pituko, é tetraplégico, ele não teria nenhuma
condição de sobrevivência dentro da aldeia, mas aqui ele hoje é um pintor. Ele
só mexe a cabeça e o pescoço, e ele pinta, e ele escreve apenas com a boca”,
conta Silvia.
Hoje Pituko é um orgulho para a sua aldeia. Agora, os waiãpis descobriram
que existe outro caminho para crianças que nascem com deficiência.
“Eu quebrei os preconceitos sobre pessoas com paralisia infantil. Eu tenho
uma sobrinha que tem dois filhos que são deficientes”, diz Pituko.
“E hoje meu pai entende isso. Hoje, nós vemos isso no olhar dele. Um olhar
de amor. Um olhar de carinho. E quando nós vamos, ele chora, porque fazia muito
tempo que ele não nos via. E ele diz em português: saudade”, conta Silvia.
A mesma saudade que Muwaji tem do seu povo. Ela é de uma tribo isolada
do Amazonas,
a suruwaha.
Quando deu a luz ao seu filho, estava sozinha no meio da floresta. Percebeu
que a criança não abria as mãos e tinha as pernas cruzadas e duras. Muwaji
começou a criar a filha mas o irmão insistia que ela devia matar a bebê.
“Meu irmão falou: ‘Dá o veneno. Eles vão matar’. ‘Não quero matar’”, conta
Muwaji.
Para salvar a criança, Muwaji fugiu da sua tribo. Vive com a filha de oito
anos em Brasília e nunca mais viu a família.
“Meu coração é triste, chora. Depois é alegre de novo”, diz.
Ela não vê meios de voltar para sua tribo e apenas canta quando quer se
sentir próxima a seu povo.
Países em que se pratica o casamento infantil
Uma batalha que
continuamos a combater em muitos países da África subsariana, América Latina e
Sudeste asiático, e que esconde no seu interior o horrível fenómeno do casamento infantil, com 15
milhões de meninas por ano a casarem-se contra a sua vontade.
São várias as causas que podem estar
relacionadas com o casamento infantil,
no entanto, as principais são: a pobreza, onde os casamentos representam
menos uma boca para alimentar, a guerra e as carências educacionais em conjunto
com as tradições antigas presentes no território. Mas, onde predomina o casamento infantil?
E é algo circunscrito aos países em vias de desenvolvimento?
Dar visibilidade ao casamento infantil
Moçambique, Uganda,
Etiópia… São países de África onde a Ajuda em Ação promoveu o direito à
educação e a luta contra a discriminação de mulheres e raparigas como forma de combater o casamento
infantil. Mas o casamento
infantil não é uma realidade circunscrita apenas aos países em
desenvolvimento. A ativista americana Sherry Johnson explicava, em 2017, como
milhares e milhares de menores são obrigadas a
casarem-se em estados como Texas, Florida, Kentucky, Tennessee ou
Alabama, nos EUA. Em Portugal, este fenómeno também está presente, uma vez que
a idade legal para casar é a partir dos 16 anos (com autorização
parental). Esta é uma realidade que continua a crescer em toda a Europa e criou
uma certa controvérsia em comunidades como a cigana, registando 0,03% de casamentos de pessoas entre
os 16 e 18 anos.
De qualquer forma,
estes valores apenas pretendem consciencializar para o facto de este ser um
problema global e não apenas limitado aos países em desenvolvimento – em
particular, aos mais pobres da África negra e do Sudeste asiático. Não
obstante, o grosso dos casamentos
infantis é um problema em mais
de uma vintena de países onde as mulheres são obrigadas a casarem-se
antes dos 18 anos, algo que vem sempre acompanhado da privação de liberdade
individual, abandono escolar, confinamento em casa e dependência de um homem
adulto, na grande maioria dos casos. Aos aspetos referidos anteriormente, não é
de estranhar que se juntem outros perigos e graves consequências, como danos
físicos e psicológicos, relacionamentos forçados, realização de tarefas
obrigadas e próprias para adultos e outros riscos para a saúde, como doenças
sexualmente transmissíveis e gravidezes precoces.
Casamento infantil: um problema mundial
As raparigas das
regiões mais pobres têm até
300% mais probabilidades de casarem antes da maioridade. A situação é
praticamente a mesma nas zonas rurais e urbanas, onde as probabilidades se
duplicam.
Níger (76%), República
Centro Africana (68%), Chade (68%), Mali (55%), Burkina Faso (52%), Guiné
(52%), Sudão do Sul (52%) e Moçambique (48%) estão na lista dos dez países com
maior taxa de casamentos infantis do
mundo e, como pode ver, os valores são arrepiantes. O mesmo ocorre no
Bangladesh (52%) e na Índia (47%). Se nascesse em qualquer um destes países,
teria, pelo menos, cinquenta por cento de probabilidade de casar-se antes dos
dezoito anos segundo a BBC/UNICEF.
Segundo as Nações
Unidas, o casamento infantil viola os direitos
fundamentais das crianças e é uma prática muito mais comum nas
raparigas do que nos rapazes. Além do mais, treze milhões dos menores casados
(raparigas, principalmente) contra a sua vontade vivem em África e esta
tendência ameaça duplicar-se em 2020. Mas os dados tornam-se ainda mais
preocupantes se olharmos para outros problemas derivados do casamento infantil.
·
No Mali, o “Código Familiar de 2011” obriga a mulher a obedecer ao marido.
· Apenas 18 em cada 100 mulheres utilizam métodos contracetivos no Senegal.
·
No Níger, a idade média do casamento não chega aos 16 anos.
Infelizmente, não se
trata de um problema menos significativo fora do continente africano: o Sudeste asiático enfrenta um
problema semelhante por causa da tradição em países como o Bangladesh, o
Paquistão e a Indonésia.
No caso do Bangladesh (52% de
casamentos infantis atualmente), as mulheres que residem no país casaram-se
ainda crianças em 73% dos casos, o que demonstra uma fortíssima tradição de casamentos
infantis no país. O mesmo acontece no Paquistão e na Indonésia (34% e 38%,
respetivamente) e mostra o lado mais terrível de uma questão cultural que priva
os seus homens e mulheres da liberdade e que dificulta o rompimento desse ciclo
de pobreza e do vínculo cultural.
Ainda que possa
parecer que fora destas duas regiões – no Sudeste asiático, este problema
também se estende ao Afeganistão e ao Cazaquistão – os casamentos forçados não são
um problema tão extenso e grave, os números das Nações Unidas são arrepiantes
em muitos outros pontos do planeta. A América
Latina e o Caribe contam com 29% de casamentos
infantis e, na prática, países como a Arábia Saudita (10 anos) e o
Iémen (sem legislação) não possuem idade mínima para casar.
O casamento infantil é um
grave problema que envolve tradição, educação e nível sociocultural, entre
outros fatores, contra o qual precisamos de trabalhar para garantir uma
infância feliz e livre aos menores e um futuro mais justo para todos.
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