Filosofia
da Religião
Resumo
(Para investigar a definição de conceitos, consultar:
https://criticanarede.com/dicionario.html)
O que é a filosofia
da religião?
A filosofia da religião é uma das áreas
da Filosofia que tem como objectivo investigar por processos estritamente racionais, as crenças religiosas
fundamentais, com o fim de determinar o seu significado e de saber se são
justificadas.
História
das religiões (A Filosofia não se reduz à história)
Teologia (nesta já se parte de um conjunto de doutrinas que não se colocam em causa, como por exemplo: a existência de Deus, a encarnação, a ressurreição).
A
filosofia da Religião questiona:
- Será que Deus existe
mesmo?
- Será que há boas razões para aceitar a existência de Deus?
- Pensar filosoficamente sobre tópicos que surgem, relativamente à religião.
O que é que a Filosofia da Religião examina
criticamente?
1. Conceitos religiosos fundamentais como:
Conceito de Deus
Conceito de fé
Noção de milagre
Ideia de omnipotência
A (in) compatibilidade
entre a existência do Mal e o amor de Deus pelas criaturas
2. Crenças
religiosas fundamentais:
- Crença de
que Deus existe
- Que há
vida depois da morte
- Que Deus sabe,
mesmo antes de nascermos, o que vamos fazer
- Que a
existência do mal é consistente com o amor de Deus pelas suas criaturas.
Ou
seja....
Que
crenças e problemas interessam à Filosofia da Religião?
- O problema da
definição de Deus, isto é, o problema de saber se é possível fazer uma
descrição coerente dos atributos normalmente afirmados de Deus; e
- O problema de saber se há boas razões para afirmar que Deus existe.
Mas será que o Deus Teísta Existe?
Quais os argumentos?
Que falácias a favor e contra
a existência de Deus?
NOTA: No exame critico deverá ter-se como ideal uma
argumentação que seja válida, sólida e cogente!
O
que distingue uma crença justificada na Física e na Filosofia da Religião?
Entende-se que uma crença está justificada quando as provas a seu favor mostrem que essa crença é verdadeira ou
bastante provável. Os cientistas só considerariam a afirmação provada
quando tivessem acesso a dados empíricos favoráveis, por exemplo, imagens do
planeta obtidas por telescópio.
Na Filosofia da a maior parte das
crenças religiosas não podem, ao contrário das afirmações sobre planetas, ser
justificadas por intermédio de indícios empíricas.
Qual a natureza de
Deus? Como definir Deus?
O problema da
definição ou da natureza de Deus é um problema complexo e difícil. Contudo,
podemos dizer que envolve duas questões principais: a da definição propriamente
dita, isto é, a questão de saber:
- que propriedades devem ser atribuídas a Deus;
- e se essas propriedades podem ser descritas de modo a
serem combinadas numa definição coerente de Deus.
O conceito TEISTA de Deus.
A que se referem as principais religiões como o judaísmo, cristianismo e islamismo, quando falam de Deus?
Quando estas falam de Deus estão a referir-se ao Deus Teísta que é um Deus com os seguintes predicados:
Omnipotente (pode fazer tudo)
Omnisciente (sabe tudo)
Sumamente bom (moralmente perfeito)
Criador de tudo
Pessoa (e não uma força da natureza)."
Tanto o cristianismo, o judaísmo e o islamismo defendem a existência deste Deus teísta com estes predicados, ainda que lhe deem nomes diferentes.
A concepção teísta de Deus distingue-se de outras,
- Deismo (Deus é o criador mas não intervém nem se importa com a criação);
- Panteismo (Deus não é distinto do mundo)
Que
nos dizem essas teorias acerca da definição de Deus?
- As duas doutrinas
filosoficamente mais relevantes, o
teísmo e o deísmo, que embora tenham elementos em comum diferem em
certos aspectos de forma importante.
O teísmo é a concepção da natureza de Deus segundo a qual Deus é um ser pessoal, espiritual, imutável, omnipresente, criador do universo, transcendente (que está fora do espaço e do tempo), omnipotente (que pode tudo), omnisciente (que sabe tudo), sumamente bom e necessário. Os teístas admitem a revelação, por intermédio, por exemplo, de um livro sagrado como a Bíblia ou o Corão, ou de milagres e profecias, e pensam que Deus intervém no mundo, assegurando a sua existência contínua.
O
que é o deísmo?
O deísmo, tal como o
teísmo, afirma que existe um Deus pessoal e transcendente, que criou o mundo e
que estabeleceu as leis que o regem, mas, ao contrário do teísmo, nega que Deus intervenha no curso dos acontecimentos
do mundo seja de que maneira for e que responda às preces e necessidades
humanas.
Serão
estas as únicas respostas à natureza de Deus?
Outras formas de
conceber a sua natureza são, por exemplo, o panteísmo, que identifica Deus com o universo físico, e
o panteísmo, a crença de
que Deus está dentro de tudo e não apenas do universo físico.
Distinga
ateísmo e agnosticismo?
Além destas
perspectivas sobre Deus, que diferem apenas na forma como concebem Deus, há
também aquelas que, como o ateísmo,
negam a existência de Deus, ou, como o agnosticismo,
afirmam ser impossível saber se Deus existe.
Relacione
teísmo e religião?
De todas estas
concepções, o teísmo é
de longe a perspectiva mais comum, visto que subjaz às três grandes religiões
monoteístas do mundo, o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo. Por este
motivo, sempre que daqui em diante nos referirmos a Deus, estamos
implicitamente a assumir que se trata de Deus tal como entendido nessas
religiões.
Será
possível fazer uma descrição coerente dos atributos normalmente afirmados de
Deus?
O segundo problema, o da coerência dos atributos divinos, é ainda mais difícil e intrincado que o primeiro. Por isso, iremos apenas indicar dois exemplos, o paradoxo da pedra e o problema do mal, para dar uma ideia da sua complexidade.
(Ver Blog Filosofia da Religião)
Mas será que o Deus Teísta Existe?
Quais os argumentos?
Que falácias a favor e contra a existência de Deus?
Como
provar a existência de Deus? Que argumentos foram formulados?
Para provar a existência de Deus, os filósofos e os teólogos formularam ao longo dos tempos um número considerável de argumentos.
A. O que é o argumento
ontológico?
Argumento Ontológico - Anselmo de Cantuária
(1033-1109)
«ser maior do que o qual nada pode ser pensado».
- a existência de Deus segue-se necessariamente da sua definição.
- Desde que foi apresentado pela primeira vez por Santo Anselmo, no século XI, este argumento tem deixado muitos filósofos perplexos.
- O argumento parece tudo menos convincente, mas não é fácil saber onde está o seu defeito.
- O argumento ontológico é um argumento a priori.
- As proposições a priori são aquelas cuja verdade pode ser estabelecida a partir apenas do significado dos termos que entram nelas e das leis da lógica
- Todos os outros argumentos são a posteriori (Cosmológico e Teleológico)
- as proposições a posteriori são aquelas cuja verdade só pode ser estabelecida recorrendo à experiência.
O que pretende o argumento ontológico?
- esse argumento pretende estabelecer a existência de Deus a partir da mera análise do conceito de Deus, sem utilizar qualquer evidência com origem na experiência.
- A ideia é que própria noção de Deus implica que Deus existe, tal como a ideia de triângulo implica uma figura de três lados cujos ângulos somam 180 graus
- falar de Deus e negar a sua existência é tão contraditório quanto falar de triângulos e recusar que a soma dos seus ângulos perfaçam 180 graus.
Na versão clássica de Santo Anselmo parte-se da definição de Deus como "ser maior do que o qual nada pode ser pensado"
- um ser que acumula todas as perfeições que existam, que detém todas as propriedades positivas e nenhuma negativa, de tal modo, que seja o máximo possível da perfeição.
A partir desta definição conclui-se que Deus existe na realidade, pois se Deus não existisse ou se apenas existisse no pensamento, mas não na realidade, não seria aquele ser maior do que o qual nada pode ser pensado.
- é um argumento a priori (sem apelar à experiência)
- começou por definir Deus como “alguma coisa maior do que a qual nada se pode pensar” (aliquid quo nihil maius cogitari possit).
-. Anselmo não está a dizer que Deus é a coisa maior que existe. “Maior” não tem aqui o significado comum de “maior em tamanho”, mas de maior em valor ou maior em perfeição.
- Assim, ao dizer que Deus é “alguma coisa maior do que a qual nada se pode pensar”,
- Santo Anselmo está a dizer que Deus é “alguma coisa com mais valor (ou mais perfeição) que se pode pensar”.
- Esta é uma definição muito geral de Deus, que especificamente nada diz sobre os seus atributos.
O argumento ontológico completo é, em esquema, o seguinte:
Primeira premissa (definição de Deus): Deus é “alguma coisa maior do que a qual nada se pode pensar”.
Segunda premissa: Mesmo aqueles que negam a existência de Deus têm Deus na sua mente.
Terceira premissa: Aquilo que existe na mente e na realidade é maior do que aquilo que existe apenas na mente.
Quarta premissa (primeira premissa da redução ao absurdo): Se “aquilo maior do que o qual nada se pode pensar” existir apenas na mente, segue-se que “aquilo maior do que o qual nada se pode pensar” é aquilo mesmo maior do que o qual alguma coisa se pode pensar.
Quinta premissa (segunda premissa da redução ao absurdo): É autocontraditório que “aquilo maior do que o qual nada se pode pensar” seja aquilo maior do que o qual alguma coisa se pode pensar.
Conclusão (da redução ao absurdo): Portanto, “aquilo maior do que o qual nada se pode pensar” existe tanto na mente como na realidade.
Conclusão:
Portanto, Deus existe necessariamente.
Críticas ao Argumento Ontológico:
A. Pode provar-se coisas que não existem
- Gaunillo (994- 1083), um
monge beneditino da Abadia de Marmoutier em Tours, França apresentou uma
primeira critica em que seguindo a mesma estrutura argumentativa do argumento
ontológico de Santo Anselmo , pode provar-se coisas que não existem. Para
mostrar isto, Gaunillo definiu "Ilha Perfeita" como uma ilha maior do
que a qual nada maior pode ser pensado e conclui, pelas mesmas razões de Santo
Anselmo, que essa ilha meramente imaginária também existe na realidade.
Formalizando o argumento de Gaunillo:
1. A Ilha Perfeita existe no pensamento
2. Se a ilha perfeita existe no pensamento e não na realidade, então uma ilha
mais perfeita do que a ilha perfeita é concebível
3. Mas não é concebível uma ilha mais perfeita do que a ilha perfeita
4. Logo, a ilha perfeita existe na realidade.
B. O que é o argumento cosmológico?
Argumento Cosmológico (da causa primeira ou causal) - S. Tomás de Aquino
- Parte da
observação que tudo que existe tem uma causa
- Baseia-se
em alguma informação acerca do modo como o mundo é
- começa-se com
factos simples acerca do mundo, como o facto de nele haver coisas cuja
existência é causada por outras coisas e daí concluir que tem de haver uma
primeira causa, ou seja, Deus
-
É um argumento a posteriori
Formulação:
1. Existem
coisas no mundo
2. Se
existem coisas no mundo, então tais coisas foram causadas a existir por alguma
outra coisa
3. Se
as coisas do mundo foram causadas a existir por alguma outra coisa, então ou há
uma cadeia causal que regride infinitamente ou há apenas uma primeira causa que
é a origem da cadeia causal
4. Mas
não há uma cadeia causal que regride infinitamente
5. Logo,
há apenas uma primeira causa (a que chamamos Deus) que é a origem da cadeia
causal.
Críticas ao Argumento Cosmológico:
Falácia
do Falso Dilema- Na premissa 3 há um falso dilema na medida em que apresenta apenas duas
opções para explicar as coisas que existem no mundo quando podemos pensar em
mais possibilidades, por exemplo, a opção de existirem primeiras várias causas
diferentes e, deste modo, a conclusao não poderia ser a de que há apenas uma
causa primeira. Porque é que a existência
de várias causas não é plausível?
Poderá
haver uma cadeia causal infinita - Em relação à premissa 4,
poderemos dizer que S. Tomás de Aquino argumenta que se não existe uma
primeira causa, também não existe qualquer cadeia causal e nada existiria, ou
seja, deixaria de haver tudo o que é causado por essa causa primeira. Por isso,
conclui que as cadeias causais não podem regredir infinitamente, como se lê na
premissa 4. Porém há aqui um problema que é o da definição pois uma cadeia
causal que regride infinitamente não tem uma primeira causa. Portanto, é falso
que, se retirássemos a causa primeira (se ela não existir), a cadeia causal e
tudo o que existe no mundo deixaria de existir.
Em relação à conclusão, mesmo que se possa concluir que existe
uma causa primeira, nada garante que essa causa seja o Deus teista, ou seja, a
primeira causa da cadeia causal não precisa de ter os atributos tradicionais do
teismo, como a omnipotência, a omnisciência ou a suma bondade.
Qual
foi a causa de Deus? - se tudo tem uma causa, Deus também a tem.
O universo poderá ser
incriado e eterno - a possibilidade de que tudo o que existe tem uma causa
é compativel com a possibilidade de um mundo sem um principio nem fim, um mundo
que exista desde sempre (como as séries infinitas de númerosem qualquer das
direcções)
Argumento Cosmológico - O que diz a Bíblia?
A Bíblia diz-nos que foi Deus que criou os céus e a Terra, que é
eterno e infinito, que governa eternamente, que é a primeira causa e que criou
o universo apenas pela sua vontade.
A Bíblia diz-nos, desde o primeiro versículo,
que Deus criou o universo. “No princípio, criou Deus os céus e a terra”
(Gênesis 1:1). “...o SENHOR, porém, fez os céus” (1 Crônicas 16:26). Sabemos
que Deus não é em Si uma parte física do universo. 2 Crônicas 2:6 diz:
“...visto que os céus e até os céus dos céus o não podem conter”. Sabemos
também que o “SENHOR, Deus Eterno” (Gênesis 21:33) é eterno e infinito. “Ele,
em seu poder, governa eternamente” (Salmo 66:7). A Bíblia ensina claramente que
Deus é a Primeira Causa sem causa anterior e que Ele criou o universo apenas
pela Sua vontade.
C. O que é o argumento Teleológico ou do desígnio?
Argumento Teleológico (ou do Desígnio) - S. Tomás de Aquino
- O argumento
teleológico (do grego telos - "finalidade" ou
"propósito") baseia-se numa analogia entre o universo e um
artefacto humano como um relógio ou uma máquina.
- Muitas das coisas que
existem no universo provocam em nós sentimento de surpresa por manifestarem
ordem e desígnio
- Procura, então,
mostrar-se que seja o que for que produziu o universo, tem de ser um ser
inteligente
- Podemos fazer uma
comparação: durante um passeio encontramos um relógio no chão - esse relógio é
composto por diferentes partes que, por estarem ajustadas, assinalam o dia e a
hora e podemos questionar: ou o relógio foi concebido por um relojoeiro ou
formou-se por acaso. Como o relógio tem uma função (assinalar a hora e o dia)
seria surpreendente que este se tivesse auto-formado.
- A hipótese que melhor
explica os fenómenos observados é a hipótese do relojoeiro e não a hipótese do
mero acaso.
Formalizando
este raciocínio num silogismo disjuntivo:
1. As características especificas do relógio encontrado devem-se a um
relojoeiro ou devem-se ao acaso
2. Mas tais características não se devem ao acaso
3. Logo, tais características devem-se a um relojoeiro.
NOTA: é esta a estrutura que é utilizada nas várias
versões do argumento teleológico!
Agora, se em vez do relógio, partirmos de evidencias
ou observações - as maravilhas da natureza:
Os seres vivos e os seus órgãos (por exemplo, o olho)
exibem uma estrutura intrincada, com desempenho de funções complexas (como a
visão).
Tendo em conta essas
maravilhas da natureza, temos duas hipóteses para explicar esse fenómeno: ou os
seres vivos foram criados por Deus ou formaram-se por acaso. Provavelmente, as
maravilhas da natureza são menos surpreendentes se foram concebidas por Deus do
que se foram concebidas por acaso. Assim, as maravilhas da natureza confirmam a
hipótese de Deus em detrimento da hipótese do acaso. Podemos
concluir, por isso mesmo, que os dados ou observações sobre as maravilhas da
natureza confirmam a existência de Deus.
Formalizando
este raciocínio num silogismo disjuntivo:
1. As maravilhas da natureza devem-se ou a uma concepção de Deus ou
devem-se ao acaso
2. Mais tais maravilhas não se devem ao acaso
3.
Logo,
tais
maravilhas devem-se a uma concepção de Deus.
Objecção: falácia do falso dilema
Na premissa 1 há uma falácia informal do falso dilema pois alem das
hipóteses de Deus e do acaso, há uma terceira hipótese muito relevante:
Darwinismo
Os seres vivos resultam de um processo de evolução por
selecção natural.
Ora, a hipótese do darwinismo parece constituir uma melhor explicação para dar
conta das maravilhas da natureza do que a hipótese Deus. Assim, o darwinismo
põe em causa o argumento teleológico na versão formulada.
Porém, há uma nova versão do argumento teleológico que não é afectada pela
anterior critica baseada no darwinismo.
Nova
versão do argumento teleológico
Numa nova versão do argumento teleológico, em vez de se partir da evidencia
das maravilhas da natureza, parte-se de uma evidencia diferente, nomeadamente
da observação do universo como altamente estruturado com parâmetros
precisamente definidos.
A esse propósito, há
quem observe que se a explosão inicial do BIG BANG diferisse em força por tão
pouco quanto uma parte de 10 elevado a 60, o universo ou teria colapsado sobre
si mesmo ou teria expandido muito rapidamente, não permitindo que as estrelas
se formassem. Além disso, se a força nuclear forte, a força que liga protões e
neutrões num átomo, bem como se a gravidade e a força eletromagnética fossem
ligeiramente mais fortes ou mais fracas, a vida seria impossível.
Assim, na nova versão do argumento teleológico parte-se dos seguintes dados:
Afinação minuciosa
As constantes físicas estão minuciosamente afinadas
para a existência da vida
Tendo em conta a afinação minuciosa, temos as seguintes hipóteses para
explicar esse fenómeno:
Designer - a
afinação minuciosa do universo deve-se a um designer sobrenatural: a um Deus.
Acaso - A
afinação minuciosa do universo é fruto do acaso.
Ora:
- se
o universo for resultado do acaso, será surpreendente
ele ter as características de afinação minuciosa. Podemos estabelecer uma
analogia: tal como é surpreendente que uma seta atirada ao acaso acerte no
circulo central de um alvo, também se o universo for um mero fruto do acaso
será bastante surpreendente que esteja tão precisamente afinado para a vida.
- se
o universo for resultado de algum tipo de designer inteligente, não
será surpreendente ele ter as características de afinação minuciosa - pois se
supomos que a vida em geral (mesmo a racional e consciente) é algo bom, então
não será surpreendente que um designer inteligente e sobrenatural, tendo os
atributos tradicionais do teísmo (omnipotência e sumamente bom), tenha criado
um universo minuciosamente afinado para a vida.
Poderemos, então, afirmar o seguinte:
- a probabilidade de o universo exibir as características da afinação
minuciosa, tendo resultado do acaso, é baixa.
- a probabilidade de o universo exibir as características da
afinação minuciosa, tendo resultado de um designer inteligente, não é baixa.
- É mais provável que o universo tenha constantes minuciosamente afinadas para
a vida se houver um designer do que se for fruto do acaso.
- Portanto, a afinação minuciosa do universo dá razão para acreditar em
Deus.
Formalizando
este raciocínio num silogismo disjuntivo:
1. A afinação minuciosa do universo deve-se a um designer ou ao acaso
2. Mas não se deve ao acaso
3. Logo, deve-se a um designer.
Será este um bom argumento?
Críticas ao Argumento Teleológico:
Falácia do Falso Dilema - está presente na premissa 1 pois as
hipóteses do designer e do acaso não são as únicas hipóteses possíveis e
relevantes para explicar a evidencia da afinação minuciosa - pode existir uma
terceira hipótese:
Multiverso
Existem muitos universos distintos: muitos dominios do
espaço-tempo que divergem entre si em virtude de terem constantes fisicas ou
leis naturais diferentes.
Assim, entre os vários universos, acabará por surgir, por mero acaso,
um universo em que as constantes assumem os valores correctos para a
existencia da vida. Admitida esta pluralidade de universos, a afinação
minuciosa não será surpreendente.
Leia o seguinte texto:
(...)
O britânico Stephen Hawking tinha postulado em 1980 (juntamente com o
norte-americano James Hartle) que o Big Bang tinha criado não só o nosso
Universo, como também universos infinitos, com diferentes leis entre si. Como,
em teoria, tudo seria possível num universo paralelo, não haveria maneira de
garantir que as leis da física seriam as mesmas do que aquelas que se aplicam
ao nosso cosmos.
Este
último trabalho de investigação desenvolvido por Hawking antes da sua
morte, a 14 de Março deste ano, aponta uma solução para este problema, dizendo
que o nosso Universo é apenas um entre muitos universos parecidos, que se regem
pelas mesmas leis.(...)
In Público, 3 de Maio de 2018
- Não se prova a existência do Deus teísta - um problema que atinge as
várias versões do argumento teleológico tem a ver com a ideia de que com o
argumento em consideração sabemos pouco sobre a natureza do designer:
- será que a afinação minuciosa do universo se deve apenas a um Deus ou é
um trabalho colaborativo de vários deuses?
-Talvez o designer em questão tenha poder suficiente para criar um universo favorável à vida, mas será omnipotente, omnisciente, ou moralmente perfeito?
- Será alguém com quem podemos estabelecer uma relação
pessoal, por exemplo, através da oração?
- O argumento da afinação minuciosa, por si só, não consegue responder a estes
desafios. Será esta uma objecção boa ou má?
Esta prova parece limitativa pelas seguintes razões:
- Mesmo que aceitemos que as analogias provam que um ser inteligente criou
o universo, esta prova não demostra que este seja o Deus do teísmo.
- Tal não implica que o criador seja omnipotente (embora tenha de ser
poderoso), nem omnisciente, nem bondoso, nem que tenha de ser eterno (poderá já
ter morrido), nem mesmo que seja só um - para uma tão grande criação, seria até
bem mais provável que, por analogia, com o que vemos na terra, resulte da
colaboração entre vários cocriadores.
Deus e o problema do Mal
O problema do mal
pretende responder ao seguinte problema:
-
Será compatível a existência de Deus e
a existência de Mal no mundo?
- A existência do Mal
no mundo parece ser um forte indicia contra a existência de Deus.
-
Algumas pessoas poderiam argumentar nesse sentido, que a existência da Guerra
da Ucrânia , por exemplo, mostra que Deus não existe ou ele não é bondoso e/ou
onipotente
- Há vários tipos de
mal no mundo:
a) MAL
MORAL: que tem origem nas acções humanas, como por
exemplo, os assassinatos, torturas e roubos;
b) MAL
NATURAL: não tem origem nas acções humanas, como por
exemplo, terramotos, tsunamis e algumas doenças.
- William Rowe (1931 –
2015) defende uma versão forte da incompatibilidade entre a existencia de Deus
e do Mal no mundo – Argumento Probabilístico do Mal.
- Segundo o
autor podemos distinguir:
a) MAL
JUSTIFICADO é aquele que se não existir leva a que se perca
um bem maior. Exemplo: uma má acção (mal) que é perdoada (bem maior do perdão).
b) MAL
NÂO JUSTIFICADO é aquele que se não existir não leva a que se
perca um bem maior- é um mal sem sentido, gratuito. Exemplo: o sofrimento de
todoa os animais na guerra da Ucrânia que, por não terem livre arbítrio, não
pode fazer uso deste bem e, deste modo, coloca-se a questão: Será que Deus
poderia, com facilidade, ter evitado o sofrimento destes animais?
- Assim, alguns dos
males do nosso mundo, como o exemplo acima citado, parecem gratuitos.
-
Segundo o ateísmo a existência do
MAL GRATUITO não é improvável pois se o mal gratuito continua a existir
isso parece evidenciar que Deus não existe.
-
Segundo o teísmo, a existência do
MAL GRATUITO é muito improvável - pois se o Deus teista existe, sendo este
omnipotente, omnisciente e moralmente perfeito, ele sabe, quer e tem o poder
para eliminar os males gratuitos ou sem sentido.
- Então, o facto de
constatarmos a existência do MAL GRATUITO poderá ser uma forte razão para se
preferir o ateísmo ao teísmo?
Assim:
-
O problema do mal (também conhecido como teodiceia) e uma das críticas mais
antigas à existência de Deus como ser omnipotente (que tudo pode) e benevolente
(que é bom).
-
o argumento procura mostrar que a existência do mal no mundo não é compatível
com a ideia de um Deus benevolente e omnipotente.
Algumas pessoas poderiam argumentar nesse sentido, que a existência da Guerra da Ucrânia , por exemplo, mostra que Deus não existe ou ele não é bondoso e/ou omnipotente.
A
teodiceia de Leibniz (1646-1716)
-
O problema do mal (também conhecido como teodiceia) e uma das críticas mais
antigas à existência de Deus como ser omnipotente (que tudo pode) e benevolente
(que é bom).
-
o argumento procura mostrar que a existência do mal no mundo não é compatível
com a ideia de um Deus benevolente e omnipotente.
- Uma das teodiceias mais importantes foi desenvolvida por Leibniz
- por
teodiceia entende-se uma resposta à questão de saber por que motivo Deus
permite o mal já que nenhum mal é justificável.
- A estrutura
argumentativa é a seguinte:
Deus criou o melhor dos mundos possíveis
O melhor dos mundos possíveis tem males
(partes indesejáveis)
Logo,
Deus permite o mal. (pois o melhor dos
mundos possíveis não implica um mundo sem males)
Mas não seria possível pensar um mundo com
menos mal?
-
Segundo Leibniz, considerando todas as coisas, não temos justificação para
poder afirmá-lo pois não poderemos saber se é possível criar um mundo melhor
sem esses aspectos negativos, dado que não sabemos quais as conexões entre
estes e outros aspectos do mundo.
-
Se pudéssemos evitar o sofrimento, teríamos um mundo melhor mas não temos forma
de saber se essa mudança deixaria ou não o mundo inalterado, ou se, em vez
disso, tornaria as coisas piores.
- Deus tem razões para permitir a existência do mal no mundo, não existindo, deste modo, males gratuitos ou injustificados.
Poderá
o livre arbítrio justificar a existência do Mal?
Como conciliar a
existência do Mal e do livre arbítrio?
Segundo Peter Van Inwagen, USA, 1942) na sua obra The
Problem of Evil…
-
Deus fez o mundo e isso foi muito bom.
-
Uma parte indispensável da bondade que ele escolheu foi a existência de seres
racionais: seres auto conscientes capazes de amor e pensamento abstrato, e com
o poder de livre escolha entre cursos de ação alternativos contemplados.
-
Essa última característica dos seres racionais, a livre escolha ou
livre-arbítrio, é um bem.
-
Mas mesmo um ser onipresente é incapaz de controlar o exercício do poder de
livre escolha, já que uma escolha que fosse controlada não
seria verdadeiramente livre.
- Se eu tenho uma livre escolha entre ir ao concerto dos U2 e fazer uma visita de
voluntariado a Kiev, nem mesmo Deus pode garantir que
vou escolher a segunda hipótese.
-
Pedir a Deus que me dê livre escolha entre ir ao concerto dos U2 ou fazer uma
visita de voluntariado a Kiev e que garanta que eu escolha ir ao concerto dos
U2 em vez de fazer uma visita de voluntariado a Kiev é pedir que Deus realize o
intrinsecamente impossível.
-
Tendo esse poder de livre escolha, alguns ou todos os seres humanos o usaram
mal e produziram uma certa quantidade de mal.
- O
livre-arbítrio, porém, é um bem suficientemente grande para que sua existência
exceda os males que têm resultado e que resultarão do seu abuso: e Deus previu
isso.
O
Fideísmo de Blaise Pascal (1623-1662)
Fideísmo – o que é?
- Será racional acreditar em Deus?
- O fideísmo é uma posição que defende que a fé e a razão são incompatíveis
e que só a fé permite acreditar em Deus: Só a fé nos pode pôr
em contacto com Deus;
- A falta de boas
razões para acreditar na existência de Deus não é
uma boa razão para não ter fé.
- Assim, a fé na existência de Deus não pode
ser justificada com argumentos.
-
Segundo Pascal mesmo sem argumentos a favor da existência de Deus, segundo
uma racionalidade prudencial, (não
conduz à verdade, justifica crenças práticas ou ajuda as pessoas em situações
terminais, por exemplo) acreditar que Deus existe pois essa é a
melhor "aposta" - é aquela que traz mais vantagens para nós, até
mesmo do ponto de vista de benefícios práticos.
- A
posição de que se pode acreditar, legitimamente em Deus sem qualquer racionalidade
epistémica (aquela que é justificada e permite chegar a
novas crenças verdadeiras) designa-se fideísmo.
- O propósito de Pascal não é provar se Deus existe ou não existe tal
como acontece nos argumentos tradicionais mas sim afirmar que, tendo em conta
os custos e benefícios para a nossa vida, apostar e acreditar na existência de
Deus é uma felicidade plena.
Formalizando
o argumento de Pascal
1. Ou Deus existe ou não existe
2. Se Deus existe, estaremos melhor como crentes em Deus do que como não
crentes
3. Se Deus não existe, acreditar e não acreditar é o mesmo
4. Logo, acreditar que Deus existe é um resultado melhor /do que não acreditar em Deus)
Objeções
à aposta de Pascal
"Em
primeiro lugar, Pascal está enganado na sua crença de que devemos apostar
contra ou a favor da existência de Deus. Podemos
optar por permanecer nas margens, como faz o agnóstico. Claro que nesse caso
podemos perder o prémio, se houver um prémio, por termos apostado
incorretamente. Mas Pascal não pode provar que há tal prémio.
Em
segundo lugar, a aposta não é tão simples como Pascal pensou porque há um
número indefinido de possíveis criadores. O Deus cristão
comum em quem Pascal apostou é apenas um deles. Assim, o número de
possibilidades para apostar é muito maior do que duas e os jogadores racionais
não têm a possibilidade de escolher mesmo que queiram escolher um Deus ou
outro. Por outras palavras, se a aposta de Pascal faz sentido, será tão
razoável apostar num deus-lua ou deus-sol como no Deus judeu, cristão ou
muçulmano.
E, finalmente, não há prova ou razão para supor que ganhamos um prémio se apostarmos no Deus que de facto exista. Porque não podemos pressupor sem razões que Deus recompense os crentes ou que puna os descrentes. (De facto, em última análise o próprio Pascal apelou à revelação ou fé). Pelo contrário, as intuições de muitos de nós dizem precisamente o contrário talvez porque quando nos tentamos pôr no lugar de Deus, percebemos que estaríamos inclinados a considerar que a crença baseada na aposta de Pascal é hipócrita. Deus, se existir, pode impressionar-se bem mais com a honestidade daqueles que não conseguiram apostar (acreditar) na ausência de provas do que com aqueles que acreditam porque pensam que é prudente fazê-lo."
Howard Kahane, Há boas razões para acreditar que Deus existe?
In Crítica
Outras
reflexões acerca de O Fideísmo de Pascal....
1. Será que Deus beneficia de igual modo os crentes que têm fé por
interesse na recompensa dos crentes que têm fé desinteressada e honestamente?
2. Pascal refere o Deus teísta - mas não poderemos considerar outras
hipóteses de divindade como, por exemplo, o Deus deísta que não dá
qualquer recompensa?
3. Será que a fé religiosa se pode basear num cálculo para obter os
melhores resultados no que concerne a custos e benefícios?
5. Não parece esta concepção revelar uma devoção religiosa egoísta ,
interesseira e, moralmente, muito desprezível?
6. Será que Deus aprovaria uma atitude de fé baseada no cálculo?
7. Será que a crença em Deus é voluntária como defende Pascal? (A crença segundo
Pascal está sob controlo voluntário e livre).
William Alston (1921 - 2009) considera que não temos o poder de decidir se
acreditamos ou não em Deus apenas por decidir faze-lo.
Nietzsche e a Religião
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000245.pdf
https://www.infolivros.org/autores/classicos/livros-friedrich-nietzsche/
Marx e a Religião
"É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião; a religião não faz o homem. E a religião é, de facto, a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou ainda não se conquistou ou voltou a perder-se. Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu point d’honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantasmal da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é indiretamente a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.
A miséria religiosa é, ao mesmo tempo, a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o âmago de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. É o ópio do povo.
A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que eles deixem as ilusões a respeito da sua situação é o apelo para abandonarem uma situação que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, em germe a crítica do vale de lágrimas de que a religião é a auréola. A crítica colheu nas cadeias as flores imaginárias, não para que o homem suporte as cadeias sem fantasia ou sem consolação, mas para que lance fora as cadeias e colha a flor viva. A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que ele pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e recuperou o entendimento, a fim de que ele gire à volta de si mesmo e, assim, à volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira à volta do homem enquanto ele não gira à volta de si mesmo.
Por isso, a tarefa da história, depois que o além da verdade se desvaneceu, é estabelecer a verdade do aquém. A imediata Tarefa da filosofia, que está ao serviço da história, é desmascarar a autoalienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma- se deste modo em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, a crítica da teologia em crítica da política."
Se a luta política e a sociedade ideal se revelou, quando experimentada, tirânica e profundamente injusta, a sociedade cristã católica nunca poderá ser testada na história porque abdicou há muito de ser histórica, é como uma esperança infinita, nunca desilude pois a sua forma não pode ser testada. Esta esperança infinita pode coexistir com a miséria dos factos e ser por eles alimentada num procedimento natural de fuga que por ser de algum modo maniqueísta é condescendente com a miséria dos factos. Alimenta-se essa esperança infinita de folclore e demagogia que se vai metamorfoseando para falar a linguagem do seu tempo. É certo que precisamos de folclore e demagogia para que as desigualdades e injustiças não sejam tão aquilo que verdadeiramente são, um filme de terror difícil de aguentar.
Karl Marx, Para a crítica da Filosofia do Direito de Hegel,
Tradução de Artur Mourão
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