Kant e o Conhecimento
"Até agora se supôs que todo nosso conhecimento tinha que se regular pelos objetos; porém todas as tentativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori sobre os mesmos, através do que ampliaria o nosso conhecimento, fracassaram sob esta pressuposição. Por isso tente-se ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas da Metafísica admitindo que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento, o que concorda melhor com a requerida possibilidade de um conhecimento a priori dos objetos que deve estabelecer algo sobre os mesmos antes de nos serem dados."...
Kant, Critica da Razão Pura
Immanuel Kant responde à questão de como é possível o conhecimento afirmando que o sujeito possui as condições de possibilidade da experiência, ou seja, o conhecimento é possível porque o homem possui faculdades que o tornam possível.
Assim, o grande objectivo de Kant é investigar a razão e seus limites e não tentar entender como deve ser o mundo para que se possa conhecer.
- Mas quais são exatamente, segundo Kant, estas faculdades ou formas a priori existentes no homem que o permitem conhecer a realidade?
-Quais são essas condições de possibilidade da experiência?
Em Kant, há duas principais fontes de conhecimento no sujeito:
1. A sensibilidade, por meio da qual os objetos são dados na intuição.
2. O entendimento, por meio
do qual os objetos são pensados nos conceitos
Kant define sensibilidade como o modo receptivo - passivo - pelo qual somos afetados pelos objetos, e intuição, a maneira direta de nos referirmos aos objetos
Exemplificando: tenho uma multiplicidade de sensações dos objetos do mundo, como cor, cheiro, calor, textura, etc. Estas sensações são o que podemos chamar de matéria do fenômeno, ou seja, o conteúdo da experiência.
Mas para que todas estas impressões tenham algum sentido e entrem
no campo do cognoscível (daquilo que se pode conhecer), elas precisam, em
primeiro lugar, serem colocadas em formas a priori da intuição, que são o
espaço e o tempo
Estas formas puras da intuição surgem antes de qualquer representação mental do objeto; antes que se possa pensar a palavra "cadeira", a cadeira deve ser apresentada, recebida, na forma a priori do espaço e do tempo.
Este é o primeiro passo para que se possa conhecer algo Assim, apreendemos daqui duas coisas: primeiro, o conhecimento só é possível se os objetos da experiência forem dados no espaço e no tempo; e,
segundo, espaço e tempo são propriedades
subjetivas, isto é, atributos do sujeito e não do mundo (da coisa-em-si)
Espaço e tempo
Espaço é a
forma do sentido externo; e tempo, do sentido interno. Isto é, os objetos
externos apresentam-se numa forma espacial; e os internos, numa forma
temporal
Exemplificando...
Tenho um livro numa mesa na sala de aula (espaço). Agora, retiro mentalmente o livro da sala de aula. O que fica? O espaço vazio.
Agora tento fazer contrário, retirar o espaço vazio e deixar só o livro. Será possivel?
Não!
E o tempo? Ele é minha percepção interna. Só posso conceber a existência de um "eu" estando em relação a um passado e a um futuro. Só concebemos as coisas no tempo, em um antes, um agora e um depois.
Voltemos exemplo anterior:
Podemos eliminar o livro do tempo - ele foi destruído por um fogo. Porém, não posso eliminar o tempo do livro - pois eu sempre o penso numa duração - um antes e um depois.
O que poderemos concluir?
Segundo Kant, é impossível conhecer os objetos externos sem ordená-los num ESPAÇO - e de que nossa percepção interna destes mesmos objetos fica
impossível sem um TEMPO.
O que são o espaço e o tempo?
- Formas apriori da sensibilidade.
- Preexistem como faculdades do sujeito - e, portanto, são a priori e universais - quando eliminamos os objetos da experiência. Por isso,
- Segundo Kant, espaço e tempo são atributos do sujeito e condições de possibilidade de qualquer experiência
Exemplificando...
Vejo uma casa!
- Esta casa é vista com as suas cores e formas, que são as sensações deste objeto. Estas sensações são recebidas e organizadas pela intuição no espaço e no tempo. Esta é a primeira condição para o conhecimento
- O segundo momento, depois de o sujeito receber o objeto na intuição, na sensibilidade, pela faculdade do entendimento ele reunirá estas intuições em conceitos, como, por exemplo, "Casa" ou "A Casa é cor de rosa".
Esta é a segunda condição para o conhecimento.
As categorias
No entendimento existem os conceitos puros a priori do entendimento que são essenciais para a nossa compreensão da realidade.
Kant acreditava que as categorias são as condições que nos permitem organizar nossa experiência do mundo
O que aconteceria se não possuíssemos essas
categorias? Como seria nossa percepção da realidade?
Imagine um mundo onde a nossa mente não tem a capacidade de perceber a unidade.
Cada objeto, cada pessoa, cada momento não seria visto como um todo, mas como
um amontoado caótico de sensações e impressões. As maçãs na cozinha, por
exemplo, não seriam percebidas como entidades individuais, mas como um
emaranhado confuso de cores e formas.
Já sabemos que:
Temos objetos no mundo, que só
podemos conhecer como fenômenos, isto é, na medida em que aparecem para o
sujeito.
Mas, para serem conhecidos precisam, antes de tudo, aparecer no espaço e tempo, que são faculdades do sujeito.
Os conceitos básicos são chamados categorias, que são representações que reúnem o múltiplo (organizam) das intuições sensíveis.
São formas vazias, a serem preenchidas pelos fenômenos. Os fenômenos, por outro lado, só podem ser pensados dentro das categorias.
As categorias, em Kant, são 12
1. Quantidade: Unidade, Pluralidade e Totalidade.
2. Qualidade: Realidade, Negação e Limitação.
3. Relação: Substância, Causalidade e Comunidade.
4. Modalidade: Possibilidade, Existência e Necessidade.
EEmplificando...
Em Hume, a causalidade - relação de causa e efeito - resultava do hábito ou costume. Já para Kant, Hume estava errado em procurar a causalidade na Natureza. Só podemos pensar as coisas em uma relação de causa e efeito porque a causalidade está no sujeito, não no mundo. Uma criança vê uma bola sendo arremessada (causa) e olha na direção de quem atirou a bola (efeito).
Como a criança liga um fato com o outro? Porque ela possui, a priori, a categoria de causalidade, que a permite conhecer.
Kant faz uma síntese entre racionalismo e empirismo pos considera que sem o conteúdo da experiência, dados na intuição, os pensamentos são vazios de mundo (racionalismo); por outro lado, sem os conceitos, eles não têm nenhum sentido para nós (empirismo).
"Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas!"
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