Filosofia da Ciência:
Teste de Avaliação
GRUPO I - Seleciona a única alternativa correta.
1. Uma proposição
empiricamente verificável é aquela que
(A) é comprovada pela
experiência.
(B) pode ser comprovada pela experiência.
(C) tem de ser comprovada pela experiência.
(D) tem de ser refutada pela experiência.
2. Uma objeção ao
indutivismo é a ideia de que
(A) muitas leis
científicas referem entidades inobserváveis.
(B) todas as leis científicas
têm um caráter particular.
(C) muitas leis científicas referem entidades inexistentes.
(D) algumas leis científicas têm um caráter particular.
3. Indica qual das seguintes afirmações é empiricamente
falsificável.
(A) 2 + 2 = 4
(B) 2 + 2 = 5
(C) Os golfinhos vivem no mar.
(D) Alguns porcos
voam.
4. Popper considera
que a ciência
(A) é indutiva e
racional.
(B) é indutiva e
irracional.
(C) não é indutiva, mas é racional.
(D) não é indutiva nem racional.
5. Popper defende que
(A) a ciência progride por eliminação do erro.
(B) os testes severos impedem o progresso científico.
(C) a ciência progride, mas progresso não significa
aproximação à verdade.
(D) a verdade é
relativa, pois nunca podemos saber se chegámos à verdade.
6. Segundo Kuhn,
quando uma comunidade científica se dedica sobretudo à resolução de enigmas, a
ciência encontra-se num período
(A) de revolução
científica.
(B) de crise
científica.
(C) de ciência extraordinária.
(D) de ciência normal.
7. Kuhn considera
que, nos períodos de ciência normal,
(A) o progresso científico é inexistente.
(B) os cientistas aderem a diferentes paradigmas.
(C) as anomalias do paradigma são persistentes.
(D) o progresso da ciência é cumulativo.
8. De acordo com
Kuhn, nos períodos de ciência normal, os cientistas procuram
(A) aplicar os vários paradigmas existentes a novos factos.
(B) alargar o âmbito
de aplicação do paradigma vigente.
(C) substituir o
paradigma existente por outro.
(D) falsificar as próprias teorias.
9. O fim de um
período de ciência normal deve-se
(A) ao aprofundamento do paradigma.
(B) à acumulação de
anomalias.
(C) à resolução de enigmas.
(D) à atitude crítica própria da ciência normal.
10. Segundo Thomas
Kuhn,
(A) as revoluções
científicas são muito frequentes na história da ciência.
(B) uma única anomalia é suficiente para derrubar um
paradigma.
(C) um excesso de anomalias pode originar um período de
crise da ciência.
(D) a ciência normal desenvolve-se independentemente de
qualquer paradigma.
GRUPO II - Responde de forma direta e objetiva às questões que se seguem.
1. Considera as seguintes afirmações:
a) Todo o cobre dilata quando é aquecido
b) Todo o metal
dilata quando é aquecido.
c) O metal dilata quando é aquecido ou não dilata quando é
aquecido.
Qual é a afirmação mais falsificável? E a menos
falsificável? Justifica.
2. Lê o seguinte
texto e responde às questões:
«Há
vinte e cinco anos, tentei trazer esta questão a um grupo de estudantes de
Física, em Viena, iniciando uma conferência com as seguintes instruções:
“Peguem no lápis e no papel; observem cuidadosamente e anotem o que
observarem!” Eles perguntaram, como é óbvio, o que é que eu queria que eles
observassem. Manifestamente, a instrução “Observem!” é absurda. […] A
observação é sempre seletiva. Requer um objeto determinado, uma tarefa
definida, um interesse, um ponto de vista, um problema.»
Karl Popper, Conjeturas e Refutações, Lisboa,
Almedina (1963), p. 72 2.1
2.1 No texto, Karl Popper refere uma crítica aos indutivistas.
Explica essa crítica.
2.2 Esclarece o papel que Popper atribui à observação na
investigação científica.
3. Lê o seguinte texto e responde às questões:
«Dá-se o caso de os astrólogos sempre se terem
vangloriado de que as suas teorias se baseavam num número enorme de
verificações – numa quantidade esmagadora de provas indutivas. Essa pretensão
nunca foi seriamente investigada nem explorada, e não vejo por que não haveria
de ser verdadeira. Mas pouco ou nada interessante é saber se a astrologia foi
muitas vezes ou poucas vezes verificada; a questão é a de saber se ela alguma
vez foi seriamente testada por meio de tentativas sinceras de a falsificar.»
Karl Popper, Conjeturas
e Refutações, Edições 70 (2008), p. 423
3.1 Identifica e formula o problema filosófico
abordado por Popper no texto com o exemplo da astrologia.
3.2 Explica a perspetiva de
Popper sobre esse problema, recorrendo ao exemplo usado no texto.
4. Lê o seguinte texto e responde às questões:
«Quando os paradigmas entram,
como tem de acontecer, no debate acerca da escolha de paradigmas, o seu papel é
necessariamente circular. Cada grupo usa o seu próprio paradigma para
argumentar a favor do seu paradigma.»
Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas,
Editora Guerra e Paz (2009), p. 136
4.1. Será que, ao usarem os seus
próprios paradigmas para argumentarem a favor do seu paradigma, os cientistas
não seguem, de acordo com Kuhn, critérios objetivos de avaliação? Justifica.
4.2. Apresenta pelo menos dois exemplos de
critérios não objetivos que, segundo Kuhn, influenciam as decisões dos
cientistas.
GRUPO III
Responde de forma direta e objetiva à questão que se segue.
Lê o seguinte texto e
responde à questão.
«Por
exercerem a sua profissão em mundos diferentes, dois grupos de cientistas veem
coisas diferentes quando olham de um mesmo ponto de vista na mesma direção.
Isso não significa que possam ver o que lhes aprouver. Ambos olham para o mundo
e o que olham não mudou. Mas em algumas áreas veem coisas diferentes, que são
visualizadas mantendo relações diferentes entre si. É por isso que uma lei, que
para um grupo pode nem sequer ser demonstrada, pode, eventualmente, parecer
intuitivamente óbvia para outro.»
Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções
Científicas,
Editora Guerra e Paz (2009), pp. 124-125
1. Concordas com a ideia de Kuhn
de que «por exercerem a sua profissão em mundos diferentes, dois grupos de
cientistas veem coisas diferentes quando olham de um mesmo ponto de vista na
mesma direção»?
CORRECÇÃO
DO TESTE DE AVALIAÇÃO
Grupo I
1. B 2. A 3. C 4. C 5. A 6. D 7. D 8. B 9. B 10. C
Grupo II
1. A afirmação mais falsificável
é a b), enquanto a menos falsificável é a a).
Isto porque a proposição b) é
mais informativa, tem mais conteúdo empírico, do que a a). Deste modo, b) tem
um grau de falsificabilidade mais elevado, isto é, corre maiores riscos de ser
refutada pela experiência. Por exemplo, a observação de um pedaço de ferro que
não dilatasse ao ser aquecido refutaria a proposição b), mas não refutaria a
a). Quanto à frase c), uma vez que se trata de uma tautologia (verdade lógica),
não é falsificável.
2.1 De acordo com o indutivismo,
a ciência começa com a observação. Contudo, neste texto podemos constatar que
Popper critica essa ideia. De acordo com Popper, a observação já está
contaminada por algum tipo de teoria ou hipótese de partida, «a observação é
sempre seletiva». Assim, a observação só faz sentido se for orientada por algum
ponto de vista ou expectativa anterior ou prévia.
2.2 De acordo com Popper, a
observação no método científico tem lugar depois da formulação de hipóteses, ou
conjeturas, servindo para as testar, através do método da falsificação (ou
seja, da tentativa de encontrar contraexemplos). Dessa forma, os cientistas
tentam observar casos incompatíveis com as teorias e as suas previsões. Ao
contrário dos indutivistas, a observação não é o ponto de partida, mas é
essencial para pôr à prova as teorias ao procurar observar casos contrários que
as falsifiquem.
3.1 O problema filosófico
abordado por Popper neste texto é o problema da demarcação, através do qual se
pergunta o que distingue uma teoria científica de uma teoria não científica.
Por outras palavras, qual é o critério que distingue ciência e não ciência?
3.2 A resposta de Popper para o
problema da demarcação foi o critério falsificacionista. Esse critério diz-nos
que uma teoria é científica só se for falsificável, ou seja, só se ela se
expuser a críticas no sentido de se deixar refutar. No caso concreto da
astrologia, que se aborda no excerto, constatamos que não é falsificável
precisamente porque é muito vaga ou imprecisa. Por isso, «pouco ou nada
interessante é saber se a astrologia foi muitas vezes ou poucas vezes
verificada», pois, tendo em conta a sua vagueza e imprecisão, é possível que
qualquer observação concebível concorde com a teoria, tornando-se impossível
qualquer tentativa de refutação. Ora, se a teoria é irrefutável, não é
científica.
4.1 Kuhn concorda que os cientistas seguem critérios objetivos de avaliação de teorias. Aliás, ele sustenta que há critérios objetivos, tais como a exatidão, consistência, simplicidade, alcance, fecundidade. No entanto, para Kuhn esses critérios não são suficientes para as decisões dos cientistas, havendo outros fatores (subjetivos) que determinam as suas escolhas.
4.2 De acordo com Kuhn, há
critérios subjetivos, tal como o contexto histórico, a própria personalidade
dos cientistas e o ambiente social ou económico (como haver ou não
financiamento destinado a determinado tipo de investigação), que influenciam a
escolha de teorias. Por exemplo, um cientista pode preferir uma teoria por
estar de acordo com o que aprendeu ou porque acredita que irá ser a teoria
preferida pela maior parte dos cientistas e estes fatores são elementos não
objetivos que estão a influenciar as decisões dos cientistas.
Grupo III
1.Em primeiro lugar é preciso esclarecer qual é a ideia que
está subjacente a este texto de Kuhn. Quando Kuhn afirma que «por exercerem a
sua profissão em mundos diferentes, dois grupos de cientistas veem coisas
diferentes quando olham de um mesmo ponto de vista na mesma direção», «mundos
diferentes» refere-se a diferentes paradigmas, ou seja, diferentes visões de
mundo e de fazer ciência. Desse modo, toda esta frase está a referir-se à tese
da incomensurabilidade. Isto é, refere-se à ideia de que os paradigmas não
podem ser comparáveis entre si, dado que não têm pontos em comum (pois têm
conceitos, ferramentas e metodologias diferentes). Em defesa da ideia da incomensurabilidade
dos paradigmas: Se os paradigmas fossem comparáveis ou comensuráveis, não
haveria grandes diferenças entre eles para poderem ser comparados
objetivamente. Mas existem de facto grandes diferenças, dado que cada paradigma
tem os seus próprios conceitos, ferramentas, metodologias, os seus próprios
problemas e os seus próprios procedimentos para observar o mundo. Assim, pode
concluir-se que os paradigmas não são comparáveis, ou seja, são
incomensuráveis. Em discordância da ideia da incomensurabilidade dos
paradigmas: Muitas vezes um novo paradigma resolve as anomalias do seu
antecessor. Podemos verificar isso, por exemplo, com a teoria heliocêntrica de
Copérnico, que permitia explicar os mesmos fenómenos observados à luz da teoria
geocêntrica, mas de modo mais simples, exato e eficaz.
Ora, se é verdade que as novas teorias e paradigmas
permitem fazer previsões mais rigorosas e exatas do que as teorias do passado
ao corrigirem as anomalias das anteriores, então é falso que os paradigmas são
incomensuráveis. Pois, estamos precisamente a fazer uma comparação e a
sustentar que um paradigma é melhor do que outro.
LEYA Editora
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